"Na minha vida pública, sempre confiei na justiça brasileira"
Paulo MalufDa esquerda para a direita: Admar, e os Ministros alinhados, Toffoli, Noronha e Gilmar
Ainda estão por serem reveladas as razões que levaram o presidente
do Tribunal Superior Eleitoral José Antônio Dias Toffoli a armar a
operação que livrou Paulo Maluf na Lei da Ficha Limpa. Trata-se de mais
um caso de desmoralização do Judiciário. Em plena era das redes
sociais, da circulação das informações, o episódio é uma demonstração
cabal das incertezas jurídicas do país e da falta de respeito de
Ministros da mais alta corte em relação aos princípios da
impessoalidade.
A candidatura Maluf havia sido impugnada pelo TRE (Tribunal
Regional Eleitoral) de São Paulo, devido a condenação em um processo
envolvendo recursos de obras públicas. Com a condenação, o TRE votou
pela não diplomação de Maluf, com base na Lei da Ficha Limpa
Dois fatos chamaram a atenção no julgamento.
O primeiro, o estratagema utilizado por Toffoli para colocar o caso em votação
O julgamento era para ter sido na terça-feira, mas Toffoli não o
colocou em pauta. Se tivesse colocado, provavelmente Maluf teria sido
derrotado por 4 x 3, como aconteceu em julgamento anterior. Um dos votos
certos contra Maluf era do Ministro Admar Gonzaga.
Na quarta, Admar foi enviado pelo TSE para uma missão fora.
Inesperadamente, Toffoli convocou uma sessão extraordinária e incluiu o
julgamento de Maluf na pauta. Substituto de Admar, o Ministro Tarcísio
Vieira votou a favor de Maluf, ao lado de Dias Toffoli, Gilmar e João
Otávio Noronha - os mesmos (com exceção de Fux) com quem Gilmar contava
para vetar as contas de campanha de Dilma.
Assim como na redistribuição das contas de campanha da Dilma para
Gilmar, ficou nítida a manobra de Toffoli para beneficiar Maluf.
O segundo ponto que chamou a atenção foi a maneira como o TSE reverteu a decisão do TRE-SP
O direito brasileiro permite muitos recursos, grande parte deles utilizado para postergar decisões.
Em regra, recursos se prestam para mudar a decisão anterior. Por
exemplo, há uma decisão no curso do processo, entra com o agravo para
mudar a decisão.
Para sentenças, cabe um conjunto de recursos específicos.
Só que para algumas decisões não cabem recursos. É o caso da sentença do TRE-SP.
Os advogados de Maluf entraram com os chamados "embargos de
declaração", que se prestam apenas para corrigir omissões de sentenças,
não para mudar o mérito de julgamentos.
Os embargos de declaração são previstos nos artigos 619 e 620 do Código de Processo Penal:
Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos
de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando
houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.
No Código eleitoral os embargos de declaração estão previstos no
artigo 275 que repete outros códigos processuais, admitindo-os apenas em
casos de "obscuridade, dúvida, contradição ou omissão".
Para surpresa do mundo jurídico, o TSE decidiu reformar a sentença
do TRE, abrindo um precedente perigoso na jurisprudência nacional.
Piior: Maluf já havia sido julgado pelo TSE e a condenação do TRE
confirmada por 4 x 3. A manipulação dos embargos comprometeu, portanto,
duas sentenças.
E como apelar ao STF se três Ministros - Toffoli, Gilmar e Fux - endossaram a manobra?
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