Em 2013, o Dia Nacional do Cerrado, comemorado em 11 de setembro,
tem profunda importância simbólica. Este ano completam-se 18 anos da
tramitação da PEC do Cerrado, uma Proposta de Emenda à Constituição que
visa inserir o bioma entre aqueles considerados pela Constituição
Federal como patrimônio nacional, cuja utilização deve assegurar a
preservação do meio ambiente.
O cerrado brasileiro abrange o Distrito Federal e 10 estados, está
presente em cerca de 25% do total de municípios no país, detém 5% da
biodiversidade do planeta e apresenta a maior diversidade biológica
entre as savanas mundiais. O bioma possui vegetação extremamente rica e
variada e muitas espécies da nossa flora e da nossa fauna não existem em
qualquer outro local do mundo.
Além disso, a região abrangida pelo cerrado é o berço de grandes
bacias hidrográficas que abastecem milhões de habitantes. O bioma é
responsável por mais de 70% da vazão gerada nas bacias dos rios
Araguaia, Tocantins, São Francisco, Paraná e Paraguai. Além disso,
participa das bacias do Amazonas, do Atlântico Norte e do Atlântico
Nordeste.
A vegetação do cerrado contém genes que tornam as plantas
tolerantes à seca e a temperaturas mais altas. A manipulação desses
genes é importante no melhoramento genético destinado a criar variedades
de plantas adaptadas a essas condições, além da possibilidade de
introdução de culturas mais adaptadas às mudanças climáticas.
Apesar de sua evidente importância ambiental, quase 50% da cobertura original já foi removida. O cerrado não conta com uma lei específica que discipline a ocupação do espaço geográfico e o aproveitamento econômico racional dos recursos naturais, como na Mata Atlântica, e não dispõe de sistema de fiscalização e controle do desmatamento tão consolidado como o da Floresta Amazônica. Isso faz com que o cerrado seja considerado atualmente o bioma mais ameaçado do Brasil.
Historicamente, a principal causa do desmatamento no cerrado é o
avanço acelerado e desordenado da agricultura intensiva, em especial a
partir da década de 1970. O processo de mecanização e a evolução das
tecnologias agrícolas, notadamente as relativas à adubação, à irrigação
do solo e à descoberta de variedades de culturas mais adaptadas à
região, propiciaram condições para o desenvolvimento da agropecuária no
cerrado. Tanto a agricultura mecanizada para produção de grãos quanto a
pecuária extensiva continuam sendo dois fatores determinantes do
desenvolvimento da região.
O avanço desordenado da fronteira agrícola ameaça também os povos
do cerrado e a sobrevivência dos seus conhecimentos tradicionais, dos
seus saberes e fazeres. É amplamente reconhecida a importância da
cultura desses povos para a proteção do meio ambiente, bem como do
acesso aos recursos naturais para a reprodução física e social dessas
populações.
Sempre que se substitui pluralidade por singularidade, diversidade
por unicidade, a sociedade como um todo sai perdendo. Esse processo vem
acontecendo em ritmo acelerado no cerrado brasileiro. O patrimônio
representado pela diversidade biológica e social da região vem sendo
rapidamente dilapidado em nome de interesses econômicos que, embora
legítimos e úteis, precisam ser disciplinados.
A necessidade de ampliar as exportações de commodities para a formação de superavits da balança comercial brasileira não pode servir de desculpa para a destruição da riqueza ambiental e cultural do país. O interesse privado de poucos não pode sobrepujar o interesse público, de todos.
A necessidade de ampliar as exportações de commodities para a formação de superavits da balança comercial brasileira não pode servir de desculpa para a destruição da riqueza ambiental e cultural do país. O interesse privado de poucos não pode sobrepujar o interesse público, de todos.
Paralelamente à PEC do Cerrado (PEC nº 115/1995), tramitam no
Congresso Nacional outros nove projetos com o mesmo objetivo. É
fundamental que o parlamento brasileiro reconheça a importância de
protegermos a sociobiodiversidade do cerrado. Cabe aos deputados e
senadores reparar o equívoco cometido pelo constituinte originário, que
perdeu a oportunidade de atribuir ao bioma a devida relevância.
Além dessas propostas de emenda à Constituição, tramita no Senado
um projeto de lei que institui a Política de Desenvolvimento Sustentável
do Cerrado (PLS nº 214/2012), destinada a conjugar crescimento
econômico, responsabilidade ambiental e justiça social.
É fundamental disciplinar o uso dos recursos naturais da região, a fim de evitar que se repita no cerrado o desastre que, ao longo do tempo, reduziu a Mata Atlântica a menos de 10% da cobertura original.
É fundamental disciplinar o uso dos recursos naturais da região, a fim de evitar que se repita no cerrado o desastre que, ao longo do tempo, reduziu a Mata Atlântica a menos de 10% da cobertura original.
O parlamento não pode continuar a se omitir. A questão é urgente!
Nós, habitantes do cerrado, gostaríamos de ter mais a comemorar em 11 de
setembro de 2015.
Publicando no Jornal Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário