Pelo sexto dia consecutivo, as ações da Petrobras encerraram em forte
queda e arrastaram o Índice Bovespa, principal indicador do mercado
acionário brasileiro. Em seis pregões, as ações da empresa perderam 25%
de seu valor. Nesta segunda, os papéis preferenciais (PN, sem direito a
voto) da petrolífera encerraram com perda de 9,19% a R$ 9,18, enquanto
as ações ordinárias (ON, com direito a voto) recuaram 9,93% cotadas a R$
8,55. O Ibovespa encerrou com queda de 2,05% aos 47.018 pontos e volume
negociado de R$ 10,9 bilhões, inflado pelo vencimento de opções sobre
ações, que movimentou R$ 3,5 bilhões. É o menor patamar desde 19 de
março passado, quando o índice fechou aos 46.567 pontos.
A negociação com os papéis da Petrobras na Bovespa foi suspensa por
cerca de 15 minutos, próximo das 15 horas, para tentar minimizar as
perdas. A falta de um balanço auditado da companhia, a resistência do
governo em trocar o comando da empresa e mais uma queda do preço do
barril de petróleo no mercado internacional deixaram os investidores
nervosos. No exterior, as Bolsas da Europa e dos Estados Unidos também
recuaram com mais uma queda no preço do petróleo.
No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 1,28%, pelo quarto
dia consecutivo, cotado a R$ 2,685. É o maior patamar da moeda americana
desde o dia 29 de março de 2005, quando fechou negociado a R$ 2,697.
As
ações PN da Petrobras fecharam na menor cotação desde o dia 20 de julho
de 2005, quando encerraram a R$ 9,16. Nos últimos seis dias de baixas,
acumulam uma desvalorização de 25,1%. Já as ações ON terminaram o pregão
no menor nível desde 15 de setembro de 2004, quando fecharam a R$ 8,47.
Em seis pregões, o papel perdeu 25,6%. Nesta segunda, os papéis
ordinários tiveram a segunda maior desvalorização do Ibovespa, enquanto
as preferenciais foram a terceira maior perda do índice. Na Bolsa de
Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs), tiveram
desvalorização de mais de 11% cotados a US$ 6,28.
Nesta segunda, o Credit Suisse reduziu o preço justo para as ações da
estatal, de US$ 14 por ADR para US$ 7,30. O banco manteve a
recomendação neutra para a ação. Os analistas do banco suíço citaram as
dificuldades em avaliar a empresa, com o adiamento da divulgação dos
dados do balanço e a queda do petróleo para justificar a redução. Já o
banco HSBC cortou o preço-alvo dos papéis preferenciais de R$ 10,70 para
R$ 8,70. Os analistas do banco observam que a companhia corre o risco
de ficar sem caixa no quarto trimestre de 2015 se não divulgar suas
demonstrações financeiras e não conseguir fazer captações no mercado
internacional.
LEILÃO PARA EVITAR PERDAS
Na Bovespa, os
papéis ordinários da Petrobras entraram em leilão às 14h50m, quando
atingiram queda de 9,62%, negociados a R$ 8,55. Já as ações
preferenciais entraram em leilão logo em seguida, quando caíam 9,10% a
R$ 9,19. Segundo o manual de procedimentos operacionais da Bovespa,
ações de uma empresa entram em leilão sempre que há uma oscilação de
mais de 10% sobre o preço de abertura do pregão. Foi o que aconteceu com
os papéis da Petrobras nesta segunda.
Nos leilões, a cotação do papel fica congelada e diversas ordens de
compra ou venda entram no chamado 'livro de ofertas'. Os investidores
aguardam a fixação de um preço teórico para que possam avaliar se será
necessário alterar suas posições, antes que termine o leilão. De acordo
com a BM&F, o leilão é um procedimento comum de controle de risco e
não é a primeira vez que os papéis da Petrobras têm a negociação
suspensa temporariamente. Isso aconteceu, em 27 de setembro de 2010, por
exemplo, no primeiro dia de negócios após a capitalização da empresa. A
BM&F informou que o leilão desta segunda durou cerca de 5 minutos e
teve prorrogação, já que o prazo máximo previsto no manual de
procedimentos é de 15 minutos.
— O leilão acontece automaticamente quando há uma oscilação muito
brusca num dos papéis negociados. É uma medida para estancar a
volatilidade — explica Maurício Pedrosa, da Queluz Asset Management.
As ações da Petrobras estão renovando as mínimas dos últimos anos nos
últimos pregões. Na última sexta-feira, os papéis ordinários já haviam
atingindo a menor cotação desde janeiro de 2005: fecharam em queda de
5,77%, a R$ 9,46. Mas as PNs haviam se sustentado acima dos R$ 10,
apesar da queda de 6,56%: as ações fecharam a R$ 10,11, a mais baixa
desde 2004.
Pedrosa explica que além dos problemas internos da empresa, como as
denúncias de corrupção, falta de números auditados e a resistência do
governo em trocar o comando da companhia, a conjuntura externa também
pesou sobre as ações da Petrobras. O preço do barril do tipo WTI recuou
mais 3,3% nos EUA, e fechou negociado a US$ 55,91, a menor cotação desde
maio de 2009. No exterior, as Bolsas da Europa e dos Estados Unidos
também recuaram com mais uma queda no preço do petróleo.
O DAX, de
Frankfurt, caiu 2,72%. O CAC 40, da Bolsa de Paris, recuou 2,57% e o
FTSE 100, de Londres, teve desvalorização de 1,87%. Já nos Estados
Unidos, O Dow Jones perdeu 0,58% e o S&P 500 recuou 0,63%. — O preço
do barril continuou recuando no mercado internacional. Ou
seja, além das notícias ruins da empresa, há um mal-estar no mercado
internacional do petróleo — diz Pedrosa.
OPEP DIZ NÃO TER 'PREÇO ALVO' PARA BARRIL
O
secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep), Abdalla Salem el-Badri, reiterou nesta segunda-feira que o
cartel não possui preço-alvo para o petróleo e que a decisão de manter a
cota de produção em 30 milhões de barris por dia (bpd) foi tomada por
todo o cartel e não tinha como objetivo prejudicar nenhum país.
Na avaliação de Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, essa pressão vendedora está atrelada à maior aversão ao risco, que derruba o preço dos ativos brasileiros. Isso também pode ser visto pelo aumento da cotação do dólar. — O mercado está batendo nos ativos brasileiros. É uma maior aversão risco, por isso o dólar também está pressionado. E o adiamento do balanço da Petrobras também não agradou - disse, acrescentando que, em sua opinião, essa é a primeira vez que um papel considerado de primeira linha, como o da estatal, está tão pressionado.
Segundo analistas da Yield Capital, os números preliminares divulgados pela Petrobras no terceiro trimestre mostraram geração positiva de caixa devido ao aumento da produção de petróleo, ao reajuste nos preços dos combustíveis e com a redução das importações. As estatal divulgou endividamento líquido de R$ 261,45 bilhões e fluxo de caixa positivo de R$ 4,25 bilhões.
Para a equipe do BTG Pactual, os números não são conclusivos e fica difícil interpretá-los como positivos sem ter em mãos ao menos como foi a variação do capital de giro da companhia. Em nota a clientes, o banco avalia ser difícil a companhia divulgar os dados auditados em janeiro. A companhia também conseguiu prorrogar as obrigações contratuais (covenants) de parte dos títulos emitidos no exterior, reduzindo o risco dos investidores pedirem o vencimento antecipados. — A empresa precisará cortar investimentos e reduzir seu endividamento — afirma Pedrosa, da Queluz. ( O Globo)
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