(Folha) A forte piora nas contas do governo levou a consultoria e
agência de
classificação de risco britânica Economist Intelligence Unit (EIU) a
retirar o grau de investimento que havia concedido ao Brasil em janeiro
de 2012. A EIU --braço do grupo que publica a revista "The Economist"--
reduziu a nota da dívida soberana brasileira de BBB para BB. Com isso, o
Brasil perdeu o grau de investimento, uma espécie de selo de
que é seguro investir em um país, e voltou para a categoria considerada
mais arriscada.
O departamento de análise de risco da EIU recebeu em 2013 a certificação
de agência de classificação de risco da European Securities and Markets
Authority (ESMA, autoridade que regula o mercado europeu). O modelo de
risco da consultoria é alimentado por 60 questões, que
consideram tanto dados quantitativos quanto análises qualitativas.
Segundo Robert Wood, analista da EIU, a forte deterioração nas contas
públicas provocou o rebaixamento.
Após a divulgação do relatório trimestral anterior da consultoria, o
governo passou a registrar deficit primário, deixando de poupar recursos
para pagamento dos juros da dívida pública, e o desempenho da economia
continuou muito fraco. Com isso, a relação entre a dívida pública bruta e o PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassou 60%.
"Em nossa análise qualitativa, reconhecemos que a nova equipe econômica
trouxe um ganho de credibilidade para o governo, mas isso não compensou o
efeito da forte piora dos dados", diz Wood. Ele considera improvável que o Brasil recupere o grau de investimento
nos próximos dois anos. A perda da nota sinaliza aumento do risco de
calote, mas Wood ressalta que esse perigo ainda é baixo, pois o Brasil
possui um grande colchão de reservas internacionais e dívida pública
externa baixa.
As três principais agências de classificação de risco --Moody's,
Standard & Poor's (S&P) e Fitch Ratings-- mantêm o grau de
investimento do Brasil. Elas conseguem atribuir um peso maior a
tendências futuras --como uma esperada melhora dos resultados fiscais--,
enquanto a análise de risco da EIU é mais ditada por dados correntes. O
temor de um rebaixamento por uma delas, no entanto, voltou a aumentar
nos últimos dias com a piora do quadro econômico do país.
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