BLOG do Orlando Tambosi
Quando a situação se torna crítica, Lula se finge de morto. No caso de
sua relação com os empreiteiros da operação Lava Jato, conviria que
desse explicações. Mas não se espere que faça alguma coisa. Aliás, a
própria imprensa protege seu silêncio, não é, Estadão?
Conforme foi amplamente noticiado, advogados de empreiteiras sob
investigação no escândalo da Petrobrás tentaram obter a interferência
política de Luiz Inácio Lula da Silva a favor de seus clientes. Essa
informação foi confirmada pelo amigo e sócio do ex-presidente Paulo
Okamotto, que preside o Instituto Lula. Por outro lado, a presidente
Dilma Rousseff, questionada sobre o episódio pelos jornalistas no
Palácio do Planalto, garantiu: "Nós iremos tratar as empresas tentando
principalmente considerar que é necessário criar emprego e gerar renda
no Brasil. Isso não significa de maneira alguma ser conivente ou apoiar
ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que
seja. Doa a quem doer". A presidente fez ainda uma clara distinção entre
as empresas, seus gestores e seus acionistas.
É compreensível que as empreiteiras acusadas de alimentar o
propinoduto do petrolão estejam empenhadas em minimizar as consequências
da lambança em que se meteram. Mas a consciência cívica do País jamais
admitirá que interesses políticos predominem sobre o império da lei. O
julgamento do mensalão, em 2012, foi um marco histórico do qual é
impossível retroceder sem provocar uma grave fratura institucional. E
Dilma Rousseff parece se dar conta disso.
Dessa perspectiva, é essencial que todos os fatos fora da esfera
policial e judicial relacionados a esse processo sejam tratados com
transparência por autoridades ou figuras públicas. As repercussões
políticas negativas das trapalhadas do ministro da Justiça na frustrada
tentativa de manter em sigilo a audiência que concedeu a advogados da
Odebrecht teriam sido evitadas se tivesse havido transparência, em vez
de uma deliberada e, como se viu, inútil omissão na agenda do ministro
do nome da empreiteira e do assunto a ser tratado na audiência.
Pois é exatamente diante dessa demanda democraticamente irrecusável -
a de agir com transparência quando se trata de assunto de interesse
público - que Lula se encontra depois da firme manifestação da
presidente da República e de Paulo Okamotto ter feito sua parte e
admitido o assédio por parte das empreiteiras. É claro que nenhum
empresário procura Okamotto para elogiar seu belo trabalho na
presidência do instituto que leva o nome do ex-presidente. Na maior
parte dos casos, aliás, Okamotto recebe as pessoas a pedido do próprio
Lula. E é de imaginar que, dependendo do assunto a ser tratado, Lula
prefira receber com maior discrição, fora de sua base oficial, as
pessoas que lhe solicitam "um particular". O ex-presidente é muito bem
relacionado nos altos escalões da iniciativa privada, onde cultiva
muitos e bons amigos e chega a privar da intimidade de alguns deles.
Por esse motivo conviria ao próprio Lula vir a público para
esclarecer como se posiciona diante do assédio de alguns bons amigos
cujos interesses estão ameaçados pelo escândalo da estatal petroleira. É
claro que semelhante postura contraria frontalmente a prática por ele
consagrada de se fechar em copas e fingir-se de morto quando o perigo
ronda. E deve-se levar em conta também que, se vier a público para
declarar-se indignado com o escândalo e defender a "rigorosa punição de
todos os culpados", Lula estará correndo o risco de, como aconteceu no
caso do mensalão, ser levado a desdizer-se mais adiante e proclamar que
tudo não passou de "uma farsa" que ele próprio, com seus superpoderes,
se encarregará de desmontar.
De qualquer modo, o próprio Lula há de convir - especialmente depois
das declarações da presidente Dilma Rousseff - que hoje a situação é
muito mais complicada e grave do que no caso do mensalão, do qual saiu
ileso. E é exatamente a gravidade da situação, principalmente quando
considerada do ponto de vista do lulopetismo e de seu projeto de poder,
que pode levar a suspeitas de que se tente armar um grande esquema
político destinado a tirar do forno o que seria a maior pizza da
história da República.
Afinal, muitos dos empreiteiros do País estão sendo levados, uns, ao
desespero, e outros, à desesperança pelas provas já colhidas dos delitos
que praticaram e pelas ameaças implícitas nas negociações em curso para
mais delações premiadas. E a tanto desalento se juntará, dentro de mais
alguns dias, o de políticos também corruptos, que serão denunciados no
Supremo Tribunal Federal.
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