Em meio aos recentes casos de violência envolvendo cães, há quem prefira animais a humanos
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Companheiros, cúmplices, filhos, amigos. Quem convive com animais de estimação sempre tem alguma história de amor para contar. Não por acaso, os melhores amigos do homem não são apenas cachorros e, cada vez mais, os bichos são considerados parte da família. Tem quem diga até que prefere conviver com os animais aos humanos e os donos não costumam medir esforços para garantir o melhor para eles. Até por isso, casos de agressões são repudiados.
Neste mês, imagens denunciaram um rapaz do Rio de Janeiro batendo em duas cadelas. Câmeras instaladas pela agora ex-noiva e dona dos cães gravaram o homem jogando o bicho no chão com força e o suspendendo pelas patas antes de soltá-lo. O caso carioca repercutiu, assim como o ocorrido no Núcleo Bandeirante em setembro passado.
Naquela data, um vídeo gravado por um denunciante mostra o momento em que o homem segura um cachorro que está preso ao muro por uma coleira e dá vários socos no animal, o enforca e tenta tampar sua boca. Tudo isso ocorre enquanto o suspeito tenta dar banho no bicho. Detido, confessou a ação e alegou estar bêbado.
Números
No ano passado, foram 88 ocorrências de violência contra os bichos até novembro no DF. Em 2013, a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social registrou 90 casos. “Não entendo quem maltrata e nem gosto de ver. Me sinto mal”, diz Ana Maria, 60 anos, que há 11 anos divide a casa com o poodle Pitoco.
“Minha irmã insistiu para que tivéssemos um cachorro, mas eu não queria porque precisa de muito cuidado”, lembra Ana que, hoje, admite: “Trato como filho, cuido o dia inteiro e faço tudo por ele”.
Com tanta proximidade, a mulher diz que já entende os sinais que o animal transmite. “Ele me chama pra comer, pra sair. Puxa a barra da minha calça com a patinha quando quer alguma coisa”, conta. O ciúme do cão, às vezes, incomoda. “Não deixa ninguém chegar perto”, diz. Quando chove, ela desce com o Pipoco para fazer as necessidades o protegendo com um guarda-chuva.
Lista extensa e muito generosa
Na casa da consultora de viagens Silvia Miki, 35 anos, a lista de amigos de estimação é grande. Tem duas cadelas, um coelho e duas calopsitas, mas o número já foi maior. O interesse pela ave surgiu em 2013, quando a filha demonstrou curiosidade em ter um animal daquele. No ano passado, o bicho fugiu e nunca mais voltou. “Minha filha chorou por quase duas semanas”, lembra.
De lá para cá, o amor pelo animal já rendeu seis adoções. “Dá para dizer que há mais cumplicidade pelas aves que pelos próprios cachorros, porque demandam mais cuidado, tem que ficar de olho”, revela. As duas calopsitas vivem nos quartos e recebem carinhos e brincadeiras durante todo o tempo disponível. “Elas até abaixam a cabeça pedindo carinho”, conta Sílvia.
Uma das aves chegou doente à casa da consultora de vendas. “Por causa de uma bactéria, tem que tomar remédio, dar papinha, ir sempre ao veterinário”, diz, destacando que “para cuidar de bichos tem que gostar, não é para qualquer um”.
Cristiane Torres, 28 anos, concorda e confessa que não deu conta de assistir as imagens recentes de agressão até o fim. “Meu coração fica muito apertado. Acho um absurdo”, define. Ela tem duas cachorras que demandam bastante cuidado. “São minhas filhas”, diz a bióloga e pet sitter, que conciliou a afinidade com animais com a profissão, cuidando dos animais em domicílio.
As pequenas Sushi e Cherrie são doentes. A primeira, de cinco anos, é epiléptica e, até pouco tempo, tomava remédios tarja preta para controlar a doença. A segunda, no auge de seus 13 anos, é cega, surda, cardíaca, passou por cirurgia para remover cinco tumores da mama e toma três remédios diariamente.
Cuidados
“Todo o cuidado é com eles. Semana passada fui a Florianópolis de carro por causa das duas. Não tenho coragem de deixar com ninguém ou de despachar no avião”, conta Cristine.
Ela também promove bazares e feiras de adoção mensais em Samambaia e no Sudoeste. “Eu não conseguiria viver sem cachorros”, destaca a mulher, que já cogita trocar o apartamento por casa para ter mais espaço.
Donos devem impor limites sem exageros
Segundo a servidora pública Camila Rogoski, os animais acolhidos são como filhos. “Trato muito bem, mas é preciso educar. Não pode mimar muito porque fica insuportável”, recomenda. Em relação aos gatos, critica a cultura de ter preconceitos: “Tem gente que tem medo, que não gosta, que acha arisco e egoísta, mas é um animal maravilhoso”.
A maquiadora Lilian Caroline, 37 anos, tem três filhos e garante: “A relação é totalmente de mãe e filho. Para mim é a mesma coisa”. Mas confessa que “às vezes, cuido melhor dos bichos do que dos filhos que sabem falar, pegar comida e limpar a sujeira”.
Camila acredita que é importante que denúncias sejam feitas e compartilhadas pra que busquem punições, que, na opinião dela, “são muito brandas e deveriam ser mais duras”. “Quem faz isso com animal pode fazer com qualquer um. Eu sou daquelas que preferem bicho do que gente. Pessoas são ruins. Bichos são inocentes”, afirma.
Sobre os casos de agressões, Lilian classifica como chocantes. “Animal precisa de limite, mas não pode ser machucado. Eles não entendem o que estão fazendo. Você vai adequar e ensinar, mas sem maltratar os bichos. Meu marido, por exemplo, não é muito fã de animais, mas não maltrata. E nem aceito que fale grosso”, relata.
Saúde
Estudos recentes mostram que conviver com os bichos traz benefícios aos donos. Segundo estudos do Observatório Internacional de Bem-Estar da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e do Instituto Nacional da Saúde e Pesquisa Médica da França, feitos em sete países, foi provado que possuir animais de estimação é bom para a saúde.
Um estudo encomendado pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), feito por um grupo de pesquisa do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a presença de um animal pode ajudar na melhora da imunidade de crianças e adultos, redução dos níveis de estresse e da incidência de doenças comuns.
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Companheiros, cúmplices, filhos, amigos. Quem convive com animais de estimação sempre tem alguma história de amor para contar. Não por acaso, os melhores amigos do homem não são apenas cachorros e, cada vez mais, os bichos são considerados parte da família. Tem quem diga até que prefere conviver com os animais aos humanos e os donos não costumam medir esforços para garantir o melhor para eles. Até por isso, casos de agressões são repudiados.
Neste mês, imagens denunciaram um rapaz do Rio de Janeiro batendo em duas cadelas. Câmeras instaladas pela agora ex-noiva e dona dos cães gravaram o homem jogando o bicho no chão com força e o suspendendo pelas patas antes de soltá-lo. O caso carioca repercutiu, assim como o ocorrido no Núcleo Bandeirante em setembro passado.
Naquela data, um vídeo gravado por um denunciante mostra o momento em que o homem segura um cachorro que está preso ao muro por uma coleira e dá vários socos no animal, o enforca e tenta tampar sua boca. Tudo isso ocorre enquanto o suspeito tenta dar banho no bicho. Detido, confessou a ação e alegou estar bêbado.
Números
No ano passado, foram 88 ocorrências de violência contra os bichos até novembro no DF. Em 2013, a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social registrou 90 casos. “Não entendo quem maltrata e nem gosto de ver. Me sinto mal”, diz Ana Maria, 60 anos, que há 11 anos divide a casa com o poodle Pitoco.
“Minha irmã insistiu para que tivéssemos um cachorro, mas eu não queria porque precisa de muito cuidado”, lembra Ana que, hoje, admite: “Trato como filho, cuido o dia inteiro e faço tudo por ele”.
Com tanta proximidade, a mulher diz que já entende os sinais que o animal transmite. “Ele me chama pra comer, pra sair. Puxa a barra da minha calça com a patinha quando quer alguma coisa”, conta. O ciúme do cão, às vezes, incomoda. “Não deixa ninguém chegar perto”, diz. Quando chove, ela desce com o Pipoco para fazer as necessidades o protegendo com um guarda-chuva.
Lista extensa e muito generosa
Na casa da consultora de viagens Silvia Miki, 35 anos, a lista de amigos de estimação é grande. Tem duas cadelas, um coelho e duas calopsitas, mas o número já foi maior. O interesse pela ave surgiu em 2013, quando a filha demonstrou curiosidade em ter um animal daquele. No ano passado, o bicho fugiu e nunca mais voltou. “Minha filha chorou por quase duas semanas”, lembra.
De lá para cá, o amor pelo animal já rendeu seis adoções. “Dá para dizer que há mais cumplicidade pelas aves que pelos próprios cachorros, porque demandam mais cuidado, tem que ficar de olho”, revela. As duas calopsitas vivem nos quartos e recebem carinhos e brincadeiras durante todo o tempo disponível. “Elas até abaixam a cabeça pedindo carinho”, conta Sílvia.
Uma das aves chegou doente à casa da consultora de vendas. “Por causa de uma bactéria, tem que tomar remédio, dar papinha, ir sempre ao veterinário”, diz, destacando que “para cuidar de bichos tem que gostar, não é para qualquer um”.
Cristiane Torres, 28 anos, concorda e confessa que não deu conta de assistir as imagens recentes de agressão até o fim. “Meu coração fica muito apertado. Acho um absurdo”, define. Ela tem duas cachorras que demandam bastante cuidado. “São minhas filhas”, diz a bióloga e pet sitter, que conciliou a afinidade com animais com a profissão, cuidando dos animais em domicílio.
As pequenas Sushi e Cherrie são doentes. A primeira, de cinco anos, é epiléptica e, até pouco tempo, tomava remédios tarja preta para controlar a doença. A segunda, no auge de seus 13 anos, é cega, surda, cardíaca, passou por cirurgia para remover cinco tumores da mama e toma três remédios diariamente.
Cuidados
“Todo o cuidado é com eles. Semana passada fui a Florianópolis de carro por causa das duas. Não tenho coragem de deixar com ninguém ou de despachar no avião”, conta Cristine.
Ela também promove bazares e feiras de adoção mensais em Samambaia e no Sudoeste. “Eu não conseguiria viver sem cachorros”, destaca a mulher, que já cogita trocar o apartamento por casa para ter mais espaço.
Donos devem impor limites sem exageros
Segundo a servidora pública Camila Rogoski, os animais acolhidos são como filhos. “Trato muito bem, mas é preciso educar. Não pode mimar muito porque fica insuportável”, recomenda. Em relação aos gatos, critica a cultura de ter preconceitos: “Tem gente que tem medo, que não gosta, que acha arisco e egoísta, mas é um animal maravilhoso”.
A maquiadora Lilian Caroline, 37 anos, tem três filhos e garante: “A relação é totalmente de mãe e filho. Para mim é a mesma coisa”. Mas confessa que “às vezes, cuido melhor dos bichos do que dos filhos que sabem falar, pegar comida e limpar a sujeira”.
Camila acredita que é importante que denúncias sejam feitas e compartilhadas pra que busquem punições, que, na opinião dela, “são muito brandas e deveriam ser mais duras”. “Quem faz isso com animal pode fazer com qualquer um. Eu sou daquelas que preferem bicho do que gente. Pessoas são ruins. Bichos são inocentes”, afirma.
Sobre os casos de agressões, Lilian classifica como chocantes. “Animal precisa de limite, mas não pode ser machucado. Eles não entendem o que estão fazendo. Você vai adequar e ensinar, mas sem maltratar os bichos. Meu marido, por exemplo, não é muito fã de animais, mas não maltrata. E nem aceito que fale grosso”, relata.
Saúde
Estudos recentes mostram que conviver com os bichos traz benefícios aos donos. Segundo estudos do Observatório Internacional de Bem-Estar da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e do Instituto Nacional da Saúde e Pesquisa Médica da França, feitos em sete países, foi provado que possuir animais de estimação é bom para a saúde.
Um estudo encomendado pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), feito por um grupo de pesquisa do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a presença de um animal pode ajudar na melhora da imunidade de crianças e adultos, redução dos níveis de estresse e da incidência de doenças comuns.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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