Foram investigados 2.000 casos
Vida após a morte: detectam "consciência"
O estudo foi feito no Reino Unido, nos EUA e na
Áustria. "Existe alguma evidência de que a consciência poderia
continuar depois que o coração para e o cérebro deixa de ‘funcionar’",
disse responsável pela pesquisa.
Buenos Aires, 03 de abril de 2015
Existe vida depois da morte? Essa é uma das eternas perguntas da humanidade. O debate leva milênios. Já em tempos de Platão (século 6 a. C.) a resposta afirmativa era questionada, a tal ponto que o filósofo grego se viu obrigado a escrever um de seus diálogos, o Fédon, enumerando diversos argumentos que provassem a imortalidade da alma.
Quase 2.400 anos depois, a ciência parece estar mais perto de dar uma resposta concreta sobre o assunto. Já conta com os resultados do maior estudo no mundo relacionado com a consciência no momento da morte. A pesquisa foi liderada pelo cientista Sam Parnia, da Universidade de Southampton, do Reino Unido. Durante quatro anos foram estudados mais de 2.000 casos de infarto cardíaco em 15 hospitais do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Áustria. Dos sobreviventes, 39% experimentaram algum estado de consciência. Deles, quase metade disse ter tido lembranças, enquanto que 9% declararam ter vivido o que se conhece como uma "experiência próxima à morte" (EPM).
O mais interessante é que ocorreu um caso que poderia revolucionar o enfoque na pesquisa do fenômeno. Um paciente disse ter visto, do canto da sala de cirurgia, as tentativas dos médicos de reanimá-lo. O relato é consistente com o que aconteceu na realidade, mas isso não é o mais surpreendente. "Ele esteve consciente – disse Parnia - durante um período de três minutos durante os quais ele ficou sem pulso. Isso é paradoxal, já que normalmente o cérebro deixa de funcionar 20 a 30 segundos depois de o coração parar e só volta a retomar a atividade quando o coração reinicia seus batimentos." Foi possível determinar que o paciente tinha consciência nesse período crítico porque ele manifestou ter escutado dois bípes de uma máquina que emite sons a cada três minutos (um aparelho que a equipe de pesquisa utiliza para saber quanto dura a experiência dos pacientes).
Entrevistado pela revista Viva, do jornal Clarín, Parnia se expressou com natural cautela sobre os alcances de sua pesquisa, mas sem descartar seu valor: "É importante, já que implica a necessidade de uma maior exploração para responder a perguntas importantes, como o papel das lembranças e dos processos neurológicos no fenômeno".
Neste ponto, é conveniente fazer um esclarecimento. A ciência não se interessa, como Platão, em saber se a alma é imortal, nem se pergunta sobre a existência do Céu ou do Inferno. Essas são noções que entram no campo da metafísica e, como tais, não competem à pesquisa científica. Em contrapartida, a ciência se interessa em estabelecer o vínculo entre a consciência e o cérebro. A posição clássica é que a consciência (comumente denominada mente ou, inclusive, alma) é um produto da atividade cerebral.
Portanto, ela se extingue quando o cérebro deixa de funcionar. O estudo de Parnia propõe que talvez a consciência não seja tão rigidamente dependente do sistema nervoso. "Temos alguma evidência - afirma o especialista - de que a consciência poderia continuar após o período em que o cérebro deixa de funcionar quando o coração para. No entanto, precisamos examinar isso com estudos mais detalhados, de forma imparcial e sem preconceitos, para dar respostas mais claras e precisas."
O que é uma EPM
Enquanto a ciência se preocupa em saber se existe uma consciência independente da atividade cerebral, muitíssima gente considera que uma prova contundente da imortalidade da alma são os numerosos depoimentos de pessoas que "voltaram da morte", daqueles que estiveram clinicamente mortos por um breve lapso e voltaram à vida. Normalmente, essas experiências incluem ver a si mesmos fora do corpo, uma ascensão por um túnel escuro com uma luz no fundo, encontros com parentes falecidos e uma inefável sensação de bem-estar.
A uniformidade dos relatos em contextos muito diferentes é uma das principais cartas utilizadas pelos que acreditam na realidade tangível dessas experiências próximas à morte. As EPM são um fenômeno muito antigo, mas a pesquisa sobre elas é recente: a expressão "experiência próxima à morte" (Near Death Experience, em inglês) foi cunhada pelo psiquiatra Raymond Moody em seu best-seller de 1975, “A vida depois da vida”. Contrariamente ao que se poderia pensar, seus defensores não são apenas pessoas religiosas e seguidores de cultos modernos. Na internet, o site nderf.org, que possui a maior base de dados de EPM do mundo, é dirigido por um oncologista americano, Jeffrey Long, e reúne quase 4.000 casos. Consultado sobre sua posição sobre o fenômeno, Long afirma de forma terminante que "não há uma explicação possível das EPM por parte da neurologia ou da psiquiatria".
A história mais impactante que Jeffrey Long conhece é a de uma mulher americana, Vicki Umipeg, que nasceu cega e teve uma EPM com visão, durante a qual ela viu a si mesma e o entorno hospitalar em que se encontrava como consequência de um acidente de carro. "Isso é inexplicável para a medicina – diz Long -. Para mim, as EPM são uma prova concludente de que a consciência pode existir fora do corpo físico". Long divulgou o resultado de suas investigações em 2010 no seu best-seller “Evidências do Além”.
Desde que, há aproximadamente 30.000 anos, os antigos neandertais iniciaram o costume de enterrar os mortos, a humanidade não deixou de se fazer a mesma pergunta: existe vida depois da morte?
O cérebro, a alma, a vida e a morte. Fenômenos complexos para os quais continuam sendo ensaiadas respostas. Atualmente, a ciência nos coloca um pouco mais próximos a descobrir os mistérios da consciência e do que acontece no além. Mas o caminho que falta percorrer ainda é longo.
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