segunda-feira, 27 de abril de 2015

A vez dos “ecobairros”. "Amar é proteger e não consumir!!"

El Clarin em Português.


Ezequiel Viéitez

Buenos Aires, 05 de abril de 2015



Avessos ao ritmo da cidade, grupos de argentinos estão se mudando para ecoaldeias ou “ecobairros”, que são construídos de forma colaborativa e na natureza.

Eles procuram cultivar alimentos orgânicos, construir casas com insumos biodegradáveis e aproveitar a energia solar como combustível.


Seguindo essa tendência, na província de Buenos Aires já existem cerca de 15 ecoaldeias. E na Zona Norte da província, há projetos no estilo dos condomínios, onde são construídas casas biossustentáveis. A tendência permeia todas as classes sociais, com alternativas para todos os bolsos, para os de espírito hippie e para aqueles que procuram luxo e conforto.

“As pessoas me perguntam: ‘Como você consegue dormir sem assistir televisão ou sem ar-condicionado?’. Mas eu curto os sons da noite, os perfumes do amanhecer, não ter que correr com medo de perder alguma coisa”, diz o ex-jornalista e consultor psicológico Alejandro Rial.

“Eu mudei há um mês para Terrena, um espaço de transição para a ecoaldeia em um terreno de 15 x50 em Martínez”, diz.

No local, não existem construções de tijolo. Alejandro dorme dentro de um domo feito com lona e bambu. Nos fins de semana, ele colabora em aulas de ioga e cursos de horta para os moradores. Ele teve coragem de mudar drasticamente. Embora continue a trabalhar como “coach”, já não tem o mesmo ritmo de antes. Durante anos, ele foi produtor de TV e apresentador de jornal.

“Vivia hiperinformado e ativo, mas eu disse chega”, diz Alejandro.




A tendência parece uma forma de dizer “não” ao sistema. Uma revolução sem bandeiras, que busca mostrar que alguma coisa está errada nas concentrações urbanas.

Por exemplo, a falta de segurança. Como uma sociedade de fomento de bairro conjugada com ecologia. Convivem os que acham que a civilização errou de caminho e os “integrados”, que dizem que a consciência ecológica é um passo adiante e que é possível se incorporar ao mercado.


Nesse grupo parece estar Nahuel Foronda (41). Dono de uma empresa de software e recém-chegado dos Estados Unidos com Laura, sua mulher, construiu uma casa em um canal que desemboca no rio Luján, em Maschwitz. Fica dentro do Econáutico Hipocampo, um bairro de casas ecológicas flutuantes a 44 quilômetros da cidade.

O investimento é similar ao de construir qualquer moradia. Mas o que muda são os materiais.

“São usados painéis feitos de argila, bambu e palha, com estrutura de madeira que vem de bosques certificados. Se a casa fosse destruída, tudo se degradaria e seria absorvido pelo rio. Não usamos concreto, cimento, derivados de petróleo, pinturas ou vernizes industriais”.

Nahuel acha que o futuro está em conseguir que os desenvolvedores considerem as casas sustentáveis como um negócio possível.


Aníbal Guiser Gleyzer, de 58 anos, o primeiro a estrear o bairro de casas flutuantes, com energia elétrica, mora em uma das quatro casas que já foram construídas. Mais duas estão sendo erguidas.

“Aqui, cada casa trata seus próprios efluentes. Eles vão parar em um tanque, onde ocorre uma biodigestão e eles se transformam em água para irrigação. Tudo isso vem da filosofia da permacultura e da bioarquitetura”, diz ele.


A opção mais radical, a ecoaldeia comunitária, implica dedicar horas a cuidar do que se planta e da convivência.

E também, ao desenvolvimento de atividades artísticas que, em teoria, favorecem o reencontro com si mesmo. Há muitas ofertas. Da histórica Gaia em Navarro, passando pelo Eco Yoga Park, que tem horta, ioga e restaurante vegetariano, até a 'CocoVilla Permacultura', uma ecoaldeia.

Ali se vive da produção própria, das doações e da troca. Daiana Estafanía Eloy (22) se mudou há três meses para CocoVilla com a filha de dois anos.

Deixou para trás uma casa familiar (e confortável) em Ramos Mejía, na mesma província de Buenos Aires.

“Na cidade, com tudo tão servido, luz com um botão, delivery para comer, água em todos os lugares, você perde a consciência do valor desses recursos”, diz Daiana. “Amar é criar, não consumir”.

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