Face lenhosa – O estoque de hipocrisia do Palácio do Planalto é no mínimo espantoso. Na quarta-feira (27), horas depois de a polícia suíça prender, em Zurique, sete cartolas da FIFA, entre eles o brasileiro José Maria Marin, todos acusados de corrupção e outros crimes, a presidente Dilma Vana Rousseff defendeu uma profunda investigação do caso.
No momento da declaração, Dilma estava no México e pode ter passado à população local a impressão de que é uma governante implacável com a corrupção. Com o seu partido mergulhado no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história da humanidade, e sua campanha à reeleição sob suspeita de ter recebido dinheiro do esquema criminoso que saqueou os cofres da Petrobras, Dilma consegue ser hipócrita até mesmo longe das plagas verde-louras.
Ao falar para os jornalistas sobre o imbróglio que sacudiu o futebol do planeta, a presidente brasileira disse, ao classificar como “muito importante” a investigação promovida pelos Estados Unidos: “Acredito que só vai beneficiar o futebol brasileiro e acredito que, se tiver que investigar, que investiguem todas as Copas, todas as atividades”.
Como se não bastasse, na manhã desta quinta-feira (28) foi a vez do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, agarrar-se à hipocrisia. Em entrevista coletiva, em Brasília, Cardozo disse que o governo brasileiro cooperará com a Justiça dos Estados Unidos na identificação de crimes cometidos no País no âmbito do escândalo da FIFA.
“Só podemos investigar delitos que sejam tipificados pela legislação brasileira. Se neste caso houver, a Polícia Federal abrirá um inquérito e fará uma investigação rigorosa em relação a isso”, afirmou o ministro.
O titular da Justiça disse também que recorrerá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot Monteiro de Barros, para que o Ministério Público Federal atue em conjunto com a PF.
“A cooperação do Brasil será feita, e em havendo indício de práticas ilícitas perante a legislação brasileira e de órbita federal, agiremos com rigor. É interesse do Brasil que tudo se esclareça”, completou José Eduardo Cardozo.
Que ninguém se deixe levar por esse repentino “bom-mocismo” do governo petista de Dilma Rousseff, que nos bastidores faz o que pode para evitar que as investigações sobre o Petrolão avancem na direção do Palácio do Planalto, o que é impossível.
Tivesse o governo o desejo de apurar escândalos de corrupção, como disse a presidente, que sugeriu que todas as atividades no escopo esportivo sejam investigadas, o primeiro evento a ser esmiuçado é os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a petista já estava na chefia da Casa Civil. Ou seja, Dilma sabia dos crimes cometidos na órbita da competição continental.
Para quem não se recorda, o Pan do Rio estava orçado inicialmente em R$ 386 milhões, mas ao final custou aos contribuintes quase R$ 5 bilhões, sendo que dois terços do total foram de dinheiro público. É importante destacar que por ocasião da abertura oficial do evento, no Estádio Mário Filho, o Maracanã, o então presidente Luiz Inácio da Silva enfrentou uma sonora e inesperada vaia.
À presidente da República e ao ministro da Justiça falta coragem para passar o Brasil a limpo, mas a ambos sobra desfaçatez, pois o discurso moralista das últimas horas serve apenas para desviar a atenção da opinião pública, que ultimamente está focada no cipoal de crimes cometidos a partir do Palácio do Planalto e com a chancela estelar da “companheirada”.
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