A referência
é ao carnaval, que jamais enfrenta crise econômica, aconteça o que
acontecer (os bicheiros estão aí pra isso mesmo). Pois é, bem depois do
carnaval, a economia brasileira está no brejo, em plena recessão
técnica. Doze anos de lulopetismo deram nisto, com a cumplicidade de
elites decadentes no Brasil inteiro. Mas vamos ao texto do jornal
Observador:
Há apenas
alguns anos, este cenário era praticamente impensável: a economia
brasileira, até recentemente uma das mais pujantes do mundo, encolheu
0,2% no primeiro trimestre de 2015. E corre agora o risco de cair em
recessão técnica no segundo trimestre deste ano. Mas o que terá virado a
tendência de crescimento do avesso? As respostas escondem-se por trás
dos escândalos de corrupção que abalaram a confiança dos investidores,
da desvalorização acentuada do real que contribuiu para uma inflação de
7,8%, muito acima do limite de 4,5% imposto pelo Governo brasileiro, de
crises políticas agudas que caminham lado-a-lado com problemas
orçamentais.
De 2004 a 2010, o país com cerca de 204 milhões de habitantes registou uma taxa de crescimento na ordem dos 4,5% anuais, segundo
os dados do World Bank. Deu-se na altura o chamado “boom das
commodities”, durante o qual cresceram as exportações de
matérias-primas, sobretudo ferro, petróleo e açúcar. A China, que nesse
período também cresceu a um ritmo acelerado, foi o principal destino das
exportações brasileiras.
As previsões do FMI apontam, contudo, para uma ligeira recuperação em 2016 com um crescimento de 1%.
O que levou a economia do Brasil a cair?
Marcel
Grillo Balassiano, economista do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas, afirmou ao Observador que “o Brasil vive um
momento muito complicado para a sua economia”. “O crescimento brasileiro
nos últimos anos foi influenciado pelo cenário externo, nomeadamente o
crescimento da China e o ‘boom das commodities’, e sustentado
principalmente pelo consumo, calcado sobre a expansão do crédito“,
explicou. Cerca de 50% do produto interno bruto (PIB) brasileiro é
constituído por consumo privado, segundoescreve a The Economist.
O
economista afirma que existe “um conjunto de fatores”, que
caracterizaram uma “nova matriz económica” no Brasil, e que terá levado o
país “a enfrentar esta recessão”. São três os principais grupos de
fatores destacados por Marcel Grillo Balassiano, que visam explicar a
queda da economia brasileira.
“Um dos
motivos para o crescimento ser baixo é o investimento fraco“, explica
Marcel Grillo Balassiano. “A taxa de investimento em 2014 no Brasil foi
de 19,7% do PIB”, sendo que “alguns países vizinhos, que têm apresentado
uma situação económica melhor do que o Brasil, também tiveram taxas de
investimento superiores, como Chile (21,5%), Colômbia (24,5%) e Peru
(28,2%), por exemplo”. Se, no Brasil, o investimento apresentou uma
tendência positiva até 2013, em 2015 tem tido uma queda acentuada. A
“confiança, tanto de empresários como de consumidores, encontra-se em
baixo”, refere o economista do Instituto Brasileiro de Economia.
Para além
da confiança, um outro fator que explica a queda do investimento no
Brasil é o escândalo de corrupção que envolve a empresa petrolífera
Petrobras. A paralisação dos gastos de investimento da empresa
semi-pública, que é a maior investidora do país, pode custar até 1% do
PIB brasileiro, segundo a The Economist. O rating da dívida empresa foi cortado a 24 de fevereiro pela agência Moody’s para o nível de “lixo” (“junk“).
O chamado
“‘Custo Brasil’, que é um conjunto de dificuldades estruturais,
burocráticas e económicas” é um outro fator que compromete o
investimento, explica o economista da Fundação Getúlio Vargas ao
Observador. “Problemas como a alta carga tributária, dificuldades para
se abrir um negócio, custos elevados de trabalho, burocracia excessiva,
entre outros, dificultam o investimento e prejudicam a economia”,
afirma.
“É
necessário aumentar o investimento”, afirmou Marcel Grillo Balassiano.
“Para isso, é preciso combater, para além dos problemas conjunturais
(como a falta de confiança dos empresários, aumento das taxas de juros,
que enfraquecem os investimentos), os problemas estruturais como o
‘Custo Brasil’. Corrigir as ‘contabilidades criativas’ que eram feitas
no passado também é importante para dar uma credibilidade maior à
política orçamental, que impacta positivamente o crescimento”.
Mas como
se aumenta o investimento? Para o economista, “melhorar o ambiente de
negócios e a relação com os investidores faz com que as taxas de
investimento aumentem”. Isto irá posteriormente fazer “aumentar o PIB”.
Segundo
sugerem os analistas do banco de investimento Morgan Stanley no
relatório Spring Global Macro Outlook de abril deste ano, a economia no
Brasil deverá recuperar em 2016 devido ao aumento da confiança, que
impulsionará o investimento: “Acreditamos que a combinação de taxas de
juro de longo prazo mais baixas, uma moeda mais fraca em termos reais e
um fraco crescimento dos salários deva aumentar a confiança e
consequentemente, o investimento.”
Inflação acima do limite de 4,5% imposto
Em 2015, o
Brasil registou uma inflação de 7,8%, de acordo com os dados do FMI.
Este é um valor considerado preocupante já que ultrapassa a meta limite
de 4,5% definida pelo Governo brasileiro. A inflação, que se reflete num
aumento generalizado dos preços, tem sido causada pela erosão do valor
da moeda brasileira, o real. Este fenómeno, poderá contribuir para a
erosão do poder de compra dos trabalhadores brasileiros já que os
salários não estão a acompanhar a subida dos preços.
De acordo com os dados divulgados
na sexta-feira passada, 22 de maio, pelo ministro do Planeamento,
Orçamento e Gestão do Brasil, Nelson Barbosa, este ano o real deverá
desvalorizar cerca de 21% face ao dólar. No final de 2014, um dólar
valia cerca de 2,66 reais. No final de 2015, espera-se que o valor
aumente para 3,22 reais, afirmou o ministro segundo o Financial Times. (Continua).
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