Scott Klusendorf e Como Defender a Posição Pró-vida em 5 Minutos
O movimento pró-vida brasileiro tem
perdido inúmeras de suas batalhas, mesmo com a população
majoritariamente contrária ao aborto a causa abortiva tem teimado e
avançado pedaço a pedaço tanto no judiciário assim como no legislativo
enquanto a bancada evangélica se perde em suas próprias caricaturas
anti-intelectualistas e demonstra falta de vigor argumentativo, não
obstante gastam fortunas em novos templos e não se cria uma única
universidade ou instituto para resistir à pressão progressista e
combater espaços como é muito mais comum no conservadorismo americano
onde vige a expressão idiomática “put your money where your mouth is“.
Seria útil que o movimento pró-vida
brasileiro seguisse o exemplo de Scott Klusendorf, presidente do Life
Training Institute, ele tem capitaneado debates com ativistas do porte
de Nadine Strossen, advogada formada em Harvard fundadora do Feminists
for Free Expression, James Croft, ativista humanista de Cambridge e
Harvard, Malcolm Potts, professor de Saúde Pública de Berkeley, Kathryn
Kolbert, advogada que defendeu o aborto na Suprema Corte e Kathy Kneer,
presidente da Planned Parenthood da California, muitos deles podem ser
assistidos no YouTube.
Scott tem debatido assim como realizado
aulas de treinamento intelectual para o movimento em mais de 70
universidades e faculdades como Stanford, USC, UCLA, Johns Hopkins, MIT,
U.S. Air Force Academy, Cal-Tech. Ele é graduado com honra pela UCLA
tendo um mestrado de apologética cristã na universidade privada cristã
Biola University e lançou um livro de 2009 pela Crossway Books chamado
“The Case for Life: Equipping Christians to Engage the Culture”.
O nível
de debate sobre aborto, tanto pró quanto contra, nos Estados Unidos
está muito à frente da curva do que eventualmente aparece mastigado na
boca de juristas e ativistas feministas e envolve biologia embrionária,
ética assim como filosofia sendo um tema em constante atualização em que
argumentos emocionais, e argumentos “a nível de rua” ficam em segundo
plano.
Klusendorf dá aos iniciantes três passos
para desequilibrar o oponente em 5 minutos. São eles: Clarifique o
problema, defenda sua visão com ciência e filosofia e por fim o desafie a
ser intelectualmente honesto.
É importante ressaltar de antemão que o
movimento pró-vida é claramente pró-escolha quanto ao direito da mulher
decidir seu marido, sua profissão, sua casa, sua religião, seu carro,
enquanto que os movimentos pró-escolha não aparentam acreditar no poder
feminino de decisão quando a mulher decide ser dona de casa como Sarah
Palin, ter uma arma como Dana Loesch, e não ser feminista como Karen
Straughan.
Também para eles o poder de uma mulher escolher algo é
limitado à natureza do que se está decidindo, especialmente se essa
escolha polui o meio ambiente, e afinal, o adesivo “Não gosta de
escravidão, não tenha escravos!” não colaria bem nos carros hoje em dia.
É claro que algumas coisas não são meramente uma questão de gosto entre
sorvete de baunilha ou de morango e remover o embrião não é como
remover uma unha ou fio de cabelo.
Conflitos divisivos a ponto de gerar
uma guerra civil como foram o racismo e escravidão possuíram um lado que
estava certo, e outro lado que estava errado, não havendo qualquer
indício de uma possibilidade intelectualmente neutra.
É relativamente simples defender a causa
pró-vida se alguém já tem como máxima “não devemos matar um ser humano
inocente”, desse ponto em comum podemos clarificar o núcleo da questão: O nascituro é um ser humano?
Matar alguém inocente para benefício de outros, tratando um ser de
valor intrínseco, insubstituível como um instrumento dispensável, é um
ato imoral.
Não há diferença senão semântica entre aborto, infanticídio e
homicídio já que os três tratam de um ataque contra a vida humana
inocente, por isso para a maior parte dos argumentos pró-escolha, basta
trazer uma criança de três anos e colocá-la no lugar do embrião e
analisar se eles justificam o assassinato tanto de um quanto do outro.
Se o argumento intendido a remover um embrião serve para eliminar uma
criança, algo está errado.
Quando fiz minha Monografia de Conclusão
de Curso em 2013 contra o aborto humanitário previsto no artigo 128, II
do Código Penal Brasileiro, fiz igual alusão ao trazer a idéia de que
se filho do violador sexual por alguma razão tiver nascido a sociedade
não permitiria o bebê ser morto por causa das mesmas razões dadas para a
passividade legal do aborto piedoso, antes se configuraria ao ato um
crime tão chocante quanto o caso Nardoni, sem deixar de ter mencionado
que a permissão para o aborto sentimental se estende por todos os nove
meses, sendo o aborto na sua forma mais radical.
Parece um insulto, mas o primeiro ponto
não é incontroverso, ativistas fazem uma apologia consciente ou
inconsciente do assassinato de um ser humano inocente quando colocam
argumentos que não só desumanizam qualquer nascituro, mas também
qualquer ser humano, como dizia Abraham Lincoln: “não conheço um
argumento para inferiorizar negros que não sirva também para
inferiorizar brancos”. Argumentos como “escolha” ou “privacidade” beiram
à irracionalidade: quem defenderia o assassinato de uma criança como
uma escolha privada ou como sendo aceitável desde que realizado dentro
de quatro paredes? Argumentos pró-escolha são em sua maioria asserções
arbitrárias sem significância moral no debate devido à sua presunção de
que o embrião não é humano, sendo sua grande maioria um caso de Petitio Principii.
São
argumentos que assumem que o embrião, assim como outrora os negros, não
fazem parte da humanidade e excluem da família humana a menor das minorias, os indivíduos mais
frágeis da sociedade. A causa pró-vida pode reconhecer que os seres
humanos se diferenciam em talentos e defeitos, mas é a que
verdadeiramente luta pela igualdade entre os homens buscando o que há
de comum na humanidade, um direito que seja natural e anterior à toda
forma de governo, é a defesa de um direito anterior ao próprio direito
de decidir, um direito que nasce com o indivíduo na sua concepção.
Nesse
nível, somente uma cosmovisão com sólidas crenças pode servir como
apoio para justificar a razão da existência do valor objetivo do ser
humano desde sua concepção e não somente quando este se torna
“bonitinho” demais para morrer.
Científica e filosoficamente não há
diferença entre o nosso estágio embrionário e o adulto que somos hoje,
um embrião se desenvolve de dentro para fora, não é como um automóvel em
que as peças são encaixadas por um agente externo, embriões direcionam
seu próprio desenvolvimento como unidade distinta, uma nova pessoa é
antes desenvolvida, não construída. Não é apenas um punhado de células,
mas antes um organismo vivo com capacidade de coordenação, o que o
diferencia de um corpo morto, onde as células continuam vivas mesmo com a
impossibilidade de funcionarem como um organismo coordenado.
Dizer que alguém não possui o direito à
vida por razão de seu tamanho, nível de desenvolvimento, grau de
dependência e localização (da barriga da mãe para fora) excluiria da
humanidade anões ou crianças de 15 em relação às de 8, salvariam-se
adultos diante de bebês, poderiam pelo mesmo argumento relativizar o
direito à vida de diabéticos dependentes de insulina e seria demasiado
estranho imaginar que deixamos de ser humanos se mudamos de assento.
Mesmo quem, de forma mais sofisticada propõe a favor do aborto grau de
consciência, pessoas com QI menor de 20 ou 40 ou com síndrome de Down
seriam declarados não pessoas (como Joseph Fletcher argumenta), ora,
sabemos que pessoas em comatose reversível não perdem seus direitos
naturais, o fato de que há aborto espontâneo não diz nada sobre a
humanidade do embrião, tampouco que da natureza espontaneamente matando
alguém deriva a conclusão que podemos deliberadamente matar pessoas,
tampouco a capacidade totipotente da célula embrionária não significa
que não havia um organismo unitário anterior.
Diante disso, fica simples perguntar ao
oponente o que ele pensa sobre os pontos acima, mas já deixando claro
que nem todos, em próprio interesse, ficarão convencidos, mas quem segue
os fatos e coloca os interesses próprios abaixo da verdade sairá
convencido.
E mais importante: para o Brasil, a
causa pró-vida, quando bem entendida e defendida com os argumentos
corretos (porque sim, há formas incorretas de argumentar a favor da
vida), torna-se a grande bandeira para o
reconhecimento do jusnaturalismo liberal nas universidades eliminando o
pensamento que tem o Estado como criador de direitos e portanto,
transformando políticos populistas em semi-deuses que acham que sua
profissão é distribuir direitos achados na feira, talvez aí, a
legalidade e a moralidade voltem a ficar em harmonia no Brasil e o
Direito volte a ser a ciência moderadora dos apetites do poder, defensor
do indivíduo contra a tirania e não um serviçal da vontade política.
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