27/05/15 - Ex-executivo da Camargo Corrêa confirma cartel na CPI da Petrobras
"Mais do que arrependimento, tenho uma profunda frustração profissional", afirmou Eduardo Hermelino Leite
Eduardo
Hermelino Leite, ex-vice-presidente da Camargo Corrêa (Foto: Luis
Macedo / Câmara dos Deputados)Deputados da CPI da Petrobras começaram a
ouvir na manhã desta terça-feira (26/05) o depoimento de Eduardo
Hermelino Leite, ex-vice-presidente da Camargo Corrêa. Falando em
arrependimento, Leite disse que "lamentavelmente" participou do
pagamento de propina a agentes públicos e privados e que hoje tem seu
futuro profissional comprometido. "Mais do que arrependimento, tenho uma
profunda frustração profissional", declarou.
Ele
chegou a chorar durante o depoimento. O executivo se emocionou ao falar
dos filhos e do prejuízo que a prisão na Operação Lava Jato causou à
imagem de sua família. "Isso não me é agradável", disse o delator, que
hoje cumpre prisão domiciliar
(Tádinho dele, não é mesmo?Enquanto ele chora a comida desaparece dos pratos dos brasileiros, a classe trabalhadora não tem mais escola ou hospital decente para atende-los! NB)
Leite
assumiu a vice-presidência da empreiteira em 2011 e disse que foi
cooptado por um esquema preexistente. Segundo ele, seus antecessores
Leonel Viana e João Auler passaram a orientação de que a Camargo Corrêa
deveria continuar pagando propina ao esquema. "Não me via cometendo um
crime, era algo que já existia, que era funcional", declarou.
O
ex-vice-presidente da empresa disse que a decisão de fazer a delação
premiada não foi uma "boa decisão jurídica", mas que é uma "boa decisão
pessoal". "Minha colaboração (com a Justiça) é espontânea e
consistente", afirmou.
Cartel
de empreiteirasLeite confirmou que havia encontros entre as
empreiteiras e que o cartel lhe foi revelado por Dalton Avancini,
ex-diretor-presidente da empresa.
O
cartel era formado por grandes construtoras num momento em que a
Petrobras era, em suas palavras, a grande contratante do país. "Mas não
participei do evento (encontro do clube de empreiteiras)".
Leite
citou a companhia Vale como exemplo e disse que a empresa adota
práticas que evitam o "entendimento" no mercado. "Existem práticas que
podem ser feitas que podem evitar que ocorram o ilícito", declarou.
Para
ele, a existência de projeto de engenharia avançado evita
irregularidades em empresas como a Petrobras. "Quando tem precisão de
orçamento, não acontece nada de errado", afirmou.
O
executivo contou que foi apresentado pelo empreiteiro João Auler ao
doleiro Alberto Youssef dentro da Camargo Corrêa, situação em que ele
estava acompanhado do ex-deputado José Janene (PP-PR). Eles haviam
procurado a empreiteira para cobrar pactos e pagamento de propina.
"Esses dois são agentes responsáveis pela áreas de Abastecimento", teria
dito Auler a Leite.
Ele
disse que não conhecia o passado de crimes de Youssef e que ele se
apresentou como empresário. "Youssef era uma pessoa extremamente
inteligente", comentou.
Esquema
de propina foi 'herdado'Em suas primeiras palavras, o executivo disse
que tinha 21 anos de Camargo Corrêa e que em 2009, ao assumir a
diretoria de Óleo e Gás da empresa, herdou um esquema preexistente,
passado por seus antecessores. Ele relatou que os colegas haviam dito
que o "cliente" (Petrobras) funcionava dessa maneira e que era difícil
deixar tal "atividade". "Herdei uma prática e tive de administrá-la,
mantendo os procedimentos já adotados", comentou.
Ao
assumir a prática de atos ilícitos, Leite confirmou que manteve contato
com os ex-diretores Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa
(Abastecimento) - e com o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) e os
operadores Júlio Camargo, Alberto Youssef e João Vaccari Neto. "Eram
operadores contumazes, que insistiam no pagamento dessas obrigações",
disse.
Lava
Jato: executivos da Camargo Correa confirmam pagamento de propinaJúlio
Camargo e Youssef foram chamados por ele de facilitadores de encontros
com os diretores da Petrobras. O delator chegou a revelar, em oitiva à
Justiça Federal na semana passada, que foi procurado por Costa e Duque
para pagar propina mesmo depois que eles deixaram os cargos na estatal.
Leite destacou que 1% do custo da obra era destinado ao pagamento de propina. "Esse custo era cobrado pela Petrobras, conforme o andamento da obra",
contou. De acordo com ele, se não tivesse esse custo, os valores
cobrados da estatal poderiam ter sido 2% menores, já que era pago metade
para cada diretoria.
Leite
falará apenas sobre os crimes relacionados ao esquema de corrupção na
Petrobras. O executivo, que cumpre prisão domiciliar e renunciou ao
direito de ficar em silêncio, é ouvido na condição de investigado.
Propinas
somaram R$ 110 milhõesLeite afirmou que foram pagos R$ 110 milhões em
propina entre 2007 e 2012. Segundo ele, a propina alimentou campanhas
políticas e os operadores do esquema ganharam poder ao evitar a relação
direta entre empreiteiras e políticos. "Os operadores faziam questão de
nos alijar do contado com os políticos", disse.
Leite
contou que após deixar a Petrobras, o ex-diretor Paulo Roberto Costa
foi contratado pela Camargo Corrêa para prestar consultoria de um dia e
que recebeu R$ 6 mil. A empreiteira tinha interesse em informações
estratégicas da estatal para os próximos 20 anos. Os valores pagos a
Costa chegaram a ser aditados para "pagamento de propina pendente".
O
executivo disse que a falta de projetos básicos adequados levou a
Petrobras a fazer aditamentos contratuais, o que seria um dos fatores de
prejuízo para a estatal. "Isso gera essa confusão que em algum momento
será acertado através de aditivos", explicou.
Para
ele, o Tribunal de Constas da União (TCU) tem um trabalho "inglório".
"É muito difícil do TCU fazer o casamento do que é o contrato e do que é
o empreendimento", afirmou.
Sem
propina, relação seria difícl
Segundo o ex-executivo, a relação da
empreiteira com a estatal seria "muito difícil" se não houvesse o
pagamento de propina a diretores.
De
acordo com Leite, Costa e Duque poderiam impor penalidades à construtora
e não receber representantes da empresa para tratar das obras se os
pagamentos não fossem feitos regularmente. Os repasses eram feitos de
forma contínua.
No
depoimento, Leite disse que o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco
deixou claro que a Diretoria de Serviços servia aos interesses do PT e
que o diretor Renato Duque era apadrinhado do partido, ao qual o esquema
deveria prestar contas. Com a saída de Duque da Petrobras, o ex-diretor
o procurou para que sua consultoria fosse contratada de forma a manter a
rotina de pagamento de propina.
Ele
voltou a falar do encontro com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto,
que queria recursos para o partido. Leite afirmou que a Camargo se
recusou a pagar propina em forma de doação para campanha eleitoral.
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