Os segredos do mensalão, dez anos depois
A história secreta de como o ex-presidente Lula escapou do escândalo de suborno que levou à prisão congressistas, empresários e toda a cúpula do PT
Na edição de 18 de maio de 2005, VEJA publicou uma reportagem exclusiva sobre um funcionário dos Correios filmado quando embolsava uma propina de 3 000 reais. Era puxado ali o fio da meada do mensalão, o primeiro dos dois esquemas de compra de apoio político engendrados no governo do PT. Nos doze meses seguintes, o Congresso esquadrinhou cada peça dessa engrenagem criminosa abastecida com recursos desviados dos cofres públicos.
O ex-presidente Lula sobreviveu à CPI do mensalão, não foi acusado pelo
Ministério Público e não pôde ser incluído no processo do Supremo
Tribunal Federal: mais que habilidade(Alex Majoli/Magnum Photos/VEJA)
É
bom ter em conta que durante o MENSALÃO - PT ser Lula o chefe da
organização criminosa era algo apenas insinuado, murmurado. Hoje, ja se
fala abertamente que ele é o chefe de todos os crimes cometidos pelo PT,
incluindo o mais recente, PETROLÃO - PT, embora tenha ainda o CAIXÃO -
PT, BRASILZÃO - PT, ELETROLÃO -T, BANDESÃO - PT e outros.
Os resultados produzidos representaram um ponto fora da
curva na tradição de impunidade que beneficia os poderosos. Com base em
provas colhidas pela CPI dos Correios, três deputados tiveram o mandato
cassado, quarenta pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público e
24 condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A antiga cúpula
petista foi sentenciada à prisão. Antes cotado para a sucessão de Lula
na Presidência, José Dirceu passou quase um ano atrás das grades numa
penitenciária em Brasília. Banqueiros e empresários ainda estão
encarcerados. Os criminosos de punho de renda foram finalmente
apresentados ao castigo - não sem antes ouvir uma reprimenda moral
histórica. "São eles, corruptores e corruptos, os profanadores da
República, os subversivos da ordem institucional, são delinquentes e
marginais da ética do poder", disse o decano do STF, o ministro Celso de
Mello.
Hoje, o mensalão ocupa um papel secundário no panteão dos escândalos
nacionais. Foi superado, em cifras e ousadia, pelo petrolão, mas alguns
de seus pontos ainda precisam ser elucidados. O mais intrigante deles é
como o ex-presidente Lula se livrou da responsabilidade no caso, se
era, em última instância, o principal beneficiário dos votos comprados
no plenário da Câmara. VEJA desta semana desvenda como Lula escapou do
risco de ser apontado como o chefe do mensalão e de responder a um
processo de impeachment durante a CPI dos Correios. O sucesso da
blindagem ao ex-presidente não decorreu apenas da capacidade de
negociação de seus articuladores políticos.
O PT negociou o silêncio do
empresário Marcos Valério quando ele - às vésperas da conclusão da CPI
dos Correios - avisou que acusaria Lula de comandar o mensalão se não
recebesse uma ajuda financeira milionária. Um empresário amigo foi
convocado para pagar a fatura e Valério se recolheu. Lula se livrou da
CPI, reelegeu-se em 2006 e foi o efetivo cabo eleitoral de Dilma em
2010. Em 2012, Valério contou parte de seus segredos ao Ministério
Público, tentando um acordo de delação premiada. Já era tarde. Lula não
podia mais ser incluído no processo. O empresário cumpre uma pena de 37
anos de prisão. Definitivamente, não fez um bom negócio.
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