Em
editorial ("O escândalo é um só"), o Estadão afirma, justamente, que o
lulopetismo se vale de uma "sofisticada estrutura montada para rapinar
bens públicos, em escala nunca vista na história brasileira". É um
projeto criminoso de poder, como bem definiu o historiador Marco Antônio
Villa:
O
mensalão é apenas uma parte - e uma das menores, hoje se sabe - do
plano de assalto ao Estado protagonizado pelo condomínio que o
lulopetismo instalou no poder em 2003. Assim, dez anos passados daquele
famigerado escândalo, que mobilizou o País por vários meses e terminou
com a prisão de um punhado de réus poderosos, fica muito claro que o
episódio não passou de um esquema marginal dentro de uma sofisticada
estrutura montada para rapinar bens públicos, em escala nunca vista na
história brasileira.
Portanto, pouco há a comemorar, pois, com o mensalão, se foi rompida
parcialmente a lógica da impunidade, nenhuma página foi, de fato,
virada. A cada nova descoberta das autoridades policiais e judiciais no
caso do petrolão e de outros esquemas comprova-se que nada, nessas
investigações, pode ser tomado de forma isolada. Todos esses escândalos
são, na verdade, um só - o escândalo de uma quadrilha que transformou
partidos políticos em máquinas para exaurir os recursos do Estado de
diversas maneiras, em favor de projetos pessoais e de poder de seus
dirigentes.
O mensalão chegou ao conhecimento público com esse nome em junho de
2005, graças a acusações feitas na ocasião pelo então deputado petebista
Roberto Jefferson. Segundo o parlamentar, o então tesoureiro do PT,
Delúbio Soares, pagava mesadas de R$ 30 mil a deputados do PL e do PP em
troca de apoio no Congresso.
Como costumam fazer sempre que são acuados por denúncias, os petistas
reagiram insultando a inteligência dos brasileiros. Em nota oficial,
garantiram que o relacionamento do PT com os demais partidos da base
aliada se assentava “em pressupostos políticos e programáticos”,
descartando qualquer forma de corrupção.
Com o passar do tempo e o surgimento de evidências de um crime muito
maior do que o denunciado por Jefferson, a narrativa petista foi
mudando. Primeiro, quando sua reeleição parecia sob ameaça, o então
presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, se disse “indignado” e afirmou
que o PT precisava “pedir desculpas”. Nessa mesma toada, Delúbio admitiu
que as campanhas eleitorais do partido usaram “recursos não
contabilizados”, mas os petistas, Lula inclusive, atribuíram essa
prática a um mero esquema de caixa 2, do qual, segundo essa versão,
todos os partidos lançam mão.
Quando ficou evidente que o Brasil estava diante de “um dos episódios
mais vergonhosos da história política de nosso país”, como o qualificou
o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, em seu
histórico voto pela condenação desse “grupo de delinquentes que degradou
a atividade política”, os petistas passaram a se dizer vítimas de um
“julgamento de exceção”.
Desde então, os documentos produzidos pelo partido para reagir às
seguidas denúncias de malfeitos - como os petistas apelidaram crimes
capitulados em lei - respeitaram a gramática da vitimização. A palavra
“golpe” passou a ser usada profusamente pelos dirigentes petistas,
inclusive, e em mais de uma ocasião, pela presidente da República, Dilma
Rousseff. Junte-se a isso a cantilena de que os escândalos só vêm à luz
porque o governo petista permite que sejam investigados, como “nunca
antes na história deste país”, e tem-se uma impostura completa.
Digam o que disserem os líderes petistas, porém, vale o que está nos
autos do mensalão - e lá está claro que o PT transformou os ganhos
oriundos da corrupção na própria razão de ser de sua prática política.
Os escândalos depois desvendados são consequência dessa opção.
Nos dez anos do mensalão, e atordoado diante da constatação de que
ainda estamos longe de conhecer a totalidade dos malfeitos cometidos
nesse período, o País já percebeu que os governos lulopetistas são
verdadeiras caixas-pretas, a guardar sombrios segredos, escondidos pela
blindagem do populismo e da demagogia, que transforma os críticos do
modus operandi petista em inimigos dos pobres. Nem o mensalão nem o
petrolão são capazes de resumir essa história de corrupção e desfaçatez
da qual, infelizmente, temos apenas um pálido vislumbre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário