15/08/2015
às 2:56
Por Rodrigo Rangel, na VEJA:
Para um presidente da República de qualquer país, é enaltecedor poder contar que teve origem humilde. O americano Lyndon Johnson mostrava a jornalistas um casebre no Texas onde, falsamente, dizia ter nascido. A ideia era forçar um paralelo com a história, verdadeira, de Abraham Lincoln, que ganhou a vida como lenhador no Kentucky. Lula teve origem humilde em Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se enalteceu com isso. Como Johnson e Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais voltou. É natural que seja assim.
Como é
natural que ex-presidentes reforcem seu orçamento com dinheiro ganho
dando palestras pagas pelo mundo. Fernando Henrique Cardoso faz isso com
frequência. O ex-presidente americano Bill Clinton, um campeão da
modalidade, ganhou centenas de milhões de dólares desde que deixou a
Casa Branca, em 2001. Lula, por seu turno, abriu uma empresa para
gerenciar suas palestras, a LILS, iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva,
que arrecadou em quatro anos 27 milhões de reais. Isso se tornou
relevante apenas porque 10 milhões dos 27 milhões arrecadados pela LILS
tiveram como origem empresas que estão sendo investigadas por corrupção
na Operação Lava-Jato.
Na semana
passada, a relação íntima de Lula com uma dessas empresas, a empreiteira
Odebrecht, ficou novamente em evidência pela divulgação de um diálogo
entre ele e um executivo gravado legalmente por investigadores da
Lava-Jato.
O alvo do grampo feito em 15 de junho deste ano era
Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está preso em Curitiba.
Alexandrino e Lula falam ao telefone sobre as repercussões da defesa que
o herdeiro e presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também preso,
havia feito das obras no exterior tocadas com dinheiro do BNDES.
Os
investigadores da Polícia Federal reproduzem os diálogos e anotam que o
interesse deles está em constituir mais uma evidência da “considerável
relação” de Alexandrino com o Instituto Lula.
Fora do
contexto da Lava-Jato, esse diálogo não teria nenhuma relevância
especial. Como também não teria a movimentação financeira da LILS. De
abril de 2011 até maio deste ano, a empresa de palestras de Lula, entre
créditos e débitos, teve uma movimentação de 52 milhões de reais. Na
conta-corrente que começa com o número 13 (referência ao número do PT), a
empresa recebeu 27 milhões, provenientes de companhias de diferentes
ramos de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a
OAS e a Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras investigadas por
participação no esquema de corrupção da Petrobras.
Essas transações
foram compiladas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), do Ministério da Fazenda. O Coaf trabalha com informações do
sistema financeiro e seus técnicos conseguem identificar movimentações
bancárias atípicas, entre elas saques e depósitos vultosos que podem vir
a ser do interesse dos órgãos de investigação.
Neste ano, os analistas
do Coaf fizeram cerca de 2?300 relatórios que foram encaminhados à
Polícia Federal, à Receita Federal e ao Ministério Público. O relatório
sobre a LILS classifica a movimentação financeira da empresa de Lula
como incompatível com o faturamento. Os analistas afirmam no documento
que “aproximadamente 30%” dos valores recebidos pela empresa de
palestras do ex-presidente foram provenientes das empreiteiras
envolvidas no escândalo do petrolão.
O
documento, ao qual VEJA teve acesso, está em poder dos investigadores da
Operação Lava-Jato. Da mesma forma que a conversa do ex-presidente com
Alexandrino Alencar foi parar em um grampo da Polícia Federal, as
movimentações bancárias da LILS entraram no radar das autoridades porque
parte dos créditos teve origem em empresas investigadas por corrupção.
Diz o relatório do Coaf: “Dos créditos recebidos na citada conta, R$ 9?
851?582,93 foram depositados por empreiteiras envolvidas no esquema
criminoso investigado pela Polícia Federal no âmbito da Operação
Lava-Jato”. Seis das maiores empreiteiras do petrolão aparecem como
depositantes na conta da empresa de Lula.
O
ex-presidente tem uma longa folha de serviços prestados às empreiteiras
que agora aparecem como contratantes de seus serviços privados. Com a
Odebrecht e a Camargo Corrêa, por exemplo, ele viajava pela América
Latina e pela África em busca de novas frentes de negócios junto aos
governos locais. Outro ponto em comum que sobressai da lista de
pagadores da empresa do petista é o fato de que muitas das empresas que
recorreram a seus serviços foram aquinhoadas durante seu governo com
contratos e financiamentos concedidos por bancos públicos.
Uma delas, o
estaleiro Quip, pagou a Lula 378?209 reais por uma “palestra
motivacional”. Criada com o objetivo de construir plataformas de
petróleo para a Petrobras, a empresa nasceu de uma sociedade entre
Queiroz Galvão, UTC, Iesa e Camargo Corrêa – todas elas investigadas na
Lava-Jato.
No poder, Lula foi o principal patrocinador do projeto, que
recebeu incentivos do governo. Em maio de 2013, ele falou para 5?000
operários durante 29 minutos. Ganhou 13.000 reais por minuto.
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Leia a íntegra na revista
Reinaldo Azevedo
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