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Rotulos politicos - diagrama de Nolan

Como os rótulos políticos, embora às vezes necessários, podem prejudicar o debate, alimentando o pensamento coletivo e reprimindo o pensamento individual.


Acompanho eventualmente grupos no Facebook vinculados aos ideais de liberdade e frequentemente vejo debates, muitos acalorados, que instigam aos participantes a definir a sua visão filosófica, política ou econômica. Ancap, minarquista, libertário de esquerda ou liberal clássico?


Nessa mistura de conceitos associam-se ainda desde partidários do objetivismo até as insígnias rotuladas como “conservadoras” ou de “direita”. Alguns se posicionam compreensivelmente em mais de um rótulo, pois enquanto uns possuem vertentes mais fortes no campo econômico, outros reforçam suas teses nas trilhas políticas. Alguns conceitos são mais puros e não deixam margem à duvidas, como o objetivismo, mas outros, como “liberal”, podem causar confusões, principalmente em função do local de origem.


Ser liberal aqui, em função da tradição do liberalismo inglês, é uma atitude bem diferente de ser liberal nos Estados Unidos, por exemplo, onde a esfera política que se denomina de “esquerda” se apropriou desse termo. Já aqui ela o abomina. Mas será que dar extrema importância para essas classificações é válido atualmente?



O assunto é longo e não tenho intenção nenhuma de realizar uma digressão filosófica sobre cada termo. Minha proposta é realizar algumas observações de como um debate pode ser prejudicado quando nos atemos mais aos rótulos e não às ideias. As discussões ficam permeadas de “argumentos”, e prioritariamente, preconceitos ad hominem, isto é, oponentes já acusam uma ideia sem entendê-la ou aprofundá-la simplesmente porque quem a proferiu está em campo ideológico oposto.



O problema primário – e grave, da rotulagem é que ela coletiviza. Vindo de grupos com o pensamento do espectro político de esquerda é até algo natural, visto que eles pregam o coletivismo como doutrina. Quem, uma vez defendendo a liberdade individual, não ouviu brados de “fascista”, “reacionário” e modernamente, “coxinha” desse grupo? Até aqui nada de novo. Mas o incômodo de tais atitudes ocorre quando elas provém de grupos que a princípio, deferiam defender a individualidade, ou seja, o pensamento livre, sem amarras a estereótipos.



O debate fica prejudicado quando fugimos dos fundamentos da questão e enveredamos em gastar tempo e energia para interpretar se tal pensamento está na esfera das ideias anarcocapitalistas ou objetivistas. O argumento muitas vezes fica encoberto sob essa demanda, que não trará um desenvolvimento produtivo da questão. Muitos de nós somos levados a utilizar a rotulagem como um distintivo, uma medalha, mas no fundo, terminamos por prejudicar a evolução das ideias e o entendimento dos princípios básicos que as suportam.



É inevitável entretanto que, por necessidade didática, rótulos sejam usados na definição de um vocabulário próprio para pessoas que possuem um pensamento comum, além de determinarmos alguns atributos a um grupo quando existem características amplas que se repetem continuamente.



É o caso da definição que faço da “esquerda”, que agrupa pessoas que defendem o estatismo e dessa forma, não respeitam o direito e a liberdade pessoal plena, percebendo o mundo através de um coletivo que se sobrepõe ao indivíduo. Essa é uma definição ampla e inclui a essência do pensamento esquerdista, seja a linha social-democracia, o socialismo ou o comunismo/nazismo (que diferem pouco em suas ideias de execução – sejam ideias ou pessoas).



Tendo a usar mais atualmente, termos mais objetivos sem conotação histórica, como “coletivista” em lugar de “esquerdista”. Ou às vezes sinto-me tentado a tripudiar de termos que eles mesmos se autoatribuem, como o progressismo.



De qualquer forma, é importante distinguir essas linhas do pensamento coletivista e fazer distinção de cada uma delas. Um Demétrio Magnoli é muito diferente do que um Vladimir Safatle, por exemplo, embora ambos se definam nesse espectro político. Esse discernimento contribui para que não refreemos um debate, desde que ele se situe no campo das ideias.



Ajuda a explicar também, a confusão que muitas pessoas fazem dos ideais liberais/libertários com os rótulos direitistas e/ou conservadores. Sim, há muitos pontos em comum, principalmente na aplicação de convicções primordialmente econômicas, embora a raiz do pensamento possa ser diferenciada. O que não impede a união dessas ideais para atingir determinados fins, entretanto.



O fato é que toda generalização tem falhas, mas em algumas situações são indispensáveis e úteis para exprimir pensamentos e opiniões, como o comentário de Flávio Morgenstern no seu mural do Facebook algum tempo atrás. Alguém duvida que aqui a rotulagem é indispensável?…
“Segundo Mino Carta, Stalin é de direita porque não é democrata. Segundo Latuff, Israel é nazista. Segundo Cláudio Paiva, Mugabe é de direita, porque odeia gays. Segundo Alex Solnik, black blocs são de direita porque usam máscara. Segundo Boeschat, que diz que “vandalismo é o caralho, tem que quebrar tudo”, Rachel Sheherazade é que é fascista. Alguém pode explicar o que é nazismo, já que está difícil entender a nossa retardadíssima esquerda brasileira – que, só por mera coincidência, quer tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado… e odeia judeus?”
 Esse artigo foi publicado originalmente no site Viagem Lenta.