Luiz Fernando Toledo - O Estado de S. Paulo
31 Outubro 2015 | 03h 00
Considerando os 20% com nível socioeconômico mais baixo e os 20% de nível mais alto, a desigualdade saltou 139% em Matemática
Relacionadas
O NSE é calculado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com base em dados de escolaridade, ocupação e renda fornecidos para a avaliação. Em 2005, a diferença de desempenho na prova entre os 20% com nível socioeconômico (NSE) mais baixo e os 20% de nível mais alto para o 5.º ano em Língua Portuguesa foi de 20,34 pontos.
Em 2013, dobrou: 42,7 pontos, um salto de 110%. O mesmo problema é observado em Matemática: a diferença avançou de 20,03 pontos para 47,97, um acréscimo de 139%. A prova de 2015 ainda não foi feita.
PUBLICIDADE
Apesar disso, tanto o nível mais baixo quanto o mais alto tiveram notas aquém do esperado. O movimento Todos pela Educação considera que, nos anos iniciais, os estudantes deveriam ter obtido, no mínimo, 200 pontos em Língua Portuguesa e 225 em Matemática - as notas ficaram em 182,72 e 205,10 pontos, respectivamente. Nos finais, as notas mínimas deveriam ter sido 275 pontos em Português e 300 em Matemática, mas alcançaram 237,78 e 242,35, respectivamente.
A redução desta diferença precisará estar no topo das prioridades do Ministério da Educação, de Estados e municípios nos próximos anos. É o que prevê o novo Plano Nacional de Educação (PNE). Faltam, no entanto, estratégias concretas para isso. Desde que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assumiu a pasta, em setembro, o MEC tem afirmado que vai alterar os programas que atendem unidades mais carentes.
Os dados da Prova Brasil ainda mostram que o aumento na diferença das notas ocorre principalmente pela dificuldade de as escolas com alunos mais pobres progredirem. No 5.º ano, a nota de Português da faixa de NSE mais baixo praticamente não variou de 2005 a 2013 - foi de 168 para 168,99 (1%). Já os alunos de NSE mais alto variaram 12% - de 188,34 para 211,69. Em Matemática para o mesmo ano, o NSE mais baixo melhorou a nota em 4% e o mais alto, em 18%.
A situação é mais complicada em Matemática no 9.º ano, em que os alunos mais pobres tiveram uma piora no desempenho: no mesmo período, as notas caíram 2% e foram de 231,6, em 2005, para 227,35 em 2013.
Ideb. A mesma lógica é observada em outro levantamento apresentado pelo Inep em setembro. Na ocasião, houve comparativo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade educacional, entre escolas com NSE baixo e alto, sob as mesmas condições de gestão (número de alunos e ciclos). A diferença é de 62,2%: 3,3 para o NSE baixo e 5,3 para o alto.
Para a pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária (Cenpec) Vanda Mendes Ribeiro, as ações do MEC, mesmo quando buscaram a melhoria na educação, não focaram nos níveis socioeconômicos. De acordo com ela, uma das formas de combater a desigualdade é ter alunos de diferentes origens na mesma sala. “As crianças têm de caminhar juntas.”
Superação. Apesar das dificuldades financeiras, um pequeno grupo de escolas brasileiras superou barreiras e já atingiu, desde 2013, a meta de qualidade da educação esperada do País em 2021 nos anos finais do ensino fundamental.
Levantamento feito pelo eduLab21, do Instituto Ayrton Senna, constatou que 500 escolas de redes municipais já atingiram ou ultrapassaram a nota 5,5 no Ideb. Dessas, 136 têm nível socioeconômico considerado baixo.
O Ceará foi o Estado com mais escolas nesta situação: 47. São Paulo tem 11 unidades, todas no interior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário