A vigarice intelectual e política de Gilberto Carvalho em entrevista é algo sem paralelo na imprensa em muitos anos
Gilberto
Carvalho concede uma entrevista à Folha deste sábado. A vigarice
intelectual e política do secretário-geral da Presidência das duas
gestões Lula e homem mais poderoso do PT depois do Babalorixá de Banânia
é coisa sem par em muitos anos na imprensa. Não há uma só resposta que
pare de pé, e dá para desmontar a cascata palavra a palavra. Mas é tempo
demais para Carvalho. Sintetizemos, então, a contestação.
Já está mais
do que caracterizado que o PT resolveu tentar fazer a limonada com o
limão. O samba de uma nota só do partido, agora, é o suposto complô
contra Lula para impedi-lo de chagar à Presidência em 2018. Isso
desobriga os petistas de responder às acusações que lhes são feitas e
lhes permite atacar.
Querem ver?
Na entrevista, Carvalho nega que tenha relações especiais com o tal
lobista Mauro Marcondes e que este tenha interferido na edição de uma MP
em favor do setor automobilístico. Mas não explica como e por que o
dito cujo pagou R$ 2,4 milhões a uma empresa de marketing esportivo de
Luís Cláudio, filho de Lula.
Tudo, diz
Carvalho, é complô para minar a credibilidade do chefão petista e
impedi-lo de se candidatar em 2018. Mas e a Lava-Jato? Carvalho acha
importante, claro!, e coisa e tal. Mas, de novo, acredita que só querem
pegar o PT e pergunta por que não se investigam as doações à campanha de
Aécio Neves…
Entenderam?
Carvalho tenta fingir que a Lava Jato se resume a um mero sistema de
financiamento de campanha. Logo, se assim fosse, então todos poderiam
ser investigados. É mesmo? Que poder tinha Aécio na Petrobras? De que
modo ele podia interferir nos destinos da empresa? Quem, dentro da
estatal, negociava em seu nome? Que ameaças Aécio podia fazer
às empreiteiras, no que dizia respeito a obras públicas, caso não
pagassem a propina?
A
entrevista de Carvalho chega a ser nojenta porque, em seguida, ele
critica o ministro Gilmar Mendes, do STF, por não ser contra o
financiamento privado de campanhas. Viram só? Eis a tese do partido de
novo. Eis o petismo tentando impor goela abaixo da sociedade o
financiamento público, fingindo que mensalão, petróleo e o escândalo
investigado na Operação Acrônimo – que tem o petista Fernando Pimentel
no centro – só existem por causa das campanhas eleitorais.
Carvalho
finge ignorar que tanto o mensalão como o petróleo eram parte de um
sistema contínuo de assalto aos cofres públicos em benefício do grupo
que está no poder – e que, claro!, serviu para enriquecer muito
vagabundo.
Segundo
Carvalho, o que querem é prender Lula, embora não diga por quais
caminhos isso seria feito e quem são as pessoas que têm essa pretensão.
Tudo não passa, em suma, de uma tentativa de intimidar a Polícia
Federal, o Ministério Público e, como sempre, a imprensa.
Na
entrevista, Carvalho, braços, olhos, boca e ouvidos de Lula, faz uma
defesa meramente protocolar de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da
Câmara, e o entrega às cobras. Diz:
“Acho que ele [Cunha] não tem condição de deflagrar um impeachment porque não tem nenhum pedido sustentado em mínimas condições adequadas. Segundo que, politicamente, ele perdeu qualquer credibilidade para conduzir qualquer processo. Se eu fosse o presidente da Câmara, teria pedido afastamento do cargo porque ele sabe o que ele fez e os dados que estão aparecendo, muito concretos, a cada dia derrotam a tese dele.”
Insisto:
Carvalho não existe como ser autônomo. Ele só fala o que combina com
Lula. O ex-presidente, por sua vez, anda ensaiando um Claudinho &
Buchecha com Cunha, na linha “Só love, só love”. Resta saber se a
canelada foi previamente combinada com a dupla ou se Carvalho anda mesmo
desconfiado de que o presidente da Câmara pode aceitar a denúncia.
Ah, em
tempo: enquanto estiver no cargo, Cunha tem a competência legal de
conduzir qualquer processo que seja prerrogativa do cargo que ocupa.
Sabem o que
permite a Carvalho dar uma entrevista absurda como essa a que me refiro?
O fato de que, para escândalo dos escândalos, Cunha se tornou a
principal figura do petrolão, embora o PT comande a máquina do governo, e
de não haver uma só figura do Executivo sob investigação.
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