16/10/2015
Montante teria sido pago pelo grupo Schahin em troca de um contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000
O
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, foi acusado por dois delatores da Operação Lava Jato de ter
acertado o pagamento de 5 milhões de dólares em propina para o
ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e outros
dois ex-gerentes da estatal. Os valores foram pagos pelo Grupo Schahin,
em troca de contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000, segundo
os delatores.
O nome de Bumlai aparece na delação de
Fernando Soares, o Fernando Baiano, que está preso desde dezembro do ano
passado e foi condenado a 16 anos de prisão por crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro desviado de esquema ilícito instalado na Petrobras.
Ele é apontado como o braço do PMDB no arranjo montado na estatal. A
outra citação foi feita por Eduardo Musa, ex-gerente da área
Internacional da petroleira. Cerveró foi condenado a 12 anos de prisão
também pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo as investigações, há registro de
reunião entre Bumlai, Fernando Baiano, Cerveró, Eduardo Musa e o
ex-gerente executivo da área Luis Carlos Moreira no escritório do
operador do PMDB, no Rio de Janeiro.
O pagamento dos US$ 5 milhões teria sido
tratado diretamente por Fernando Schahin, filho de um dos fundadores do
grupo, e dividido entre os três ex-executivos da Petrobras da Diretoria
Internacional, da cota do PMDB no esquema de corrupção na estatal. Dois
deles indicaram contas bancarias no Uruguai para receber suas partes e
um, na Suíça.
Conselheiro - Apontado
como “o pecuarista” em conversas de executivos investigados em Curitiba,
Bumlai seria uma espécie de avalista dos negócios com a Schahin,
segundo suspeita da Polícia Federal. Seu nome ainda não havia sido
citado diretamente nos negócios de propina alvos da força-tarefa da Lava
Jato.
Lula e Bumlai estreitaram relações na
campanha eleitoral de 2002. Desde então, o pecuarista passou a ser um
dos conselheiros com acesso direto ao ex-presidente. E-mails apreendidos
na sede da empreiteira Odebrecht, em São Paulo, indicam que Bumlai, que
gozava de acesso irrestrito ao gabinete da Presidência na gestão Lula,
tentou, inclusive, agendar reunião com Marcelo Odebrecht, presidente da
empresa, para tratar de assuntos relativos ao governo da presidente
Dilma Rousseff, como as privatizações de rodovias.
Cunha - O navio-sonda
Vitória 10.000 fez parte de um pacote de construção de dois equipamentos
do tipo, usados para exploração de petróleo em águas profundas.
Contratados pela Diretoria Internacional, com negociações iniciadas em
2005, por Cerveró, o pacote incluiu os termos de construção e depois de
operação. Ambos, segundo a Lava Jato, envolvendo propina.
O estaleiro Samsung Heavey Industries,
em parceria com o Grupo Mitsui, foi o responsável pela construção dos
dois navios-sonda (Vitória 10.000 e Petrobras 10.000). Processo já
julgado procedente pelo juiz responsável pelas ações penais da Lava
Jato, Sérgio Moro, concluiu que a empresa pagou pelo menos 30 milhões de
reais em propina, via lobista Júlio Camargo, representante do estaleiro
no Brasil, e Fernando Baiano nessa primeira etapa. Um dos beneficiados,
segundo Camargo, foi o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), que recebeu pelo menos 5 milhões de reais.
As novas revelações de Fernando Baiano e
do ex-gerente da área Internacional Eduardo Musa confirmam que a
segunda fase de contrato do Vitória 10.000, para operação do
equipamento, também envolveu propina e a interferência direta de Bumlai.
A Schahin foi contratada, por meio da Deep Black Drilling LLP, para
operação do Vitoria 10.000 durante 10 anos (2010-2020) pelo valor US$
1,5 bilhão.
Apurações internas da Petrobras anexadas
aos autos da Lava Jato indicaram problemas no contrato com a empresa.
“A demora em concretizar negociação com a Schahin para a vinda do
Vitoria 10.000 para o Brasil implicou custo de aproximadamente 126
milhões de reais”, informa documento da estatal.
“A escolha da Schahin
como parceira foi discricionária.” O contrato foi rescindido pela
Petrobras, em maio, após o nome da empresa ser citado como uma das
participantes do cartel alvo da Lava Jato. O grupo entrou esse ano em
concordata.
Bumlai informou que “não participou de
reunião alguma com essas pessoas” e que não tratou de contratos da
Petrobras.”Todas as informações ultimamente veiculadas na imprensa
ligando o nome do empresário José Carlos Bumlai a escândalos
relacionados à Operação Lava Jato são ilações inverídicas baseadas
exclusivamente em depoimentos prestados por delatores (…) Bumlai nega
que tenha qualquer relação com as mentiras já publicadas (pela
imprensa), e repudia as novas infâmias que estão sendo agora assacadas
contra sua pessoa”, diz a nota.
(Com Estadão Conteúdo) Via Veja e Agência
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