sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Dirceu vai desmentir Lula, hoje, no depoimento a Sérgio Moro?

Pedro do Coutto


Será que a realidade vai confirmar a hipótese que está no título? Parece que sim, se confirmada a versão de Odei Antun, advogado do ex-chefe da Casa Civil, contida na reportagem de Cleide Carvalho, publicada na edição de quarta-feira de O Globo. O depoimento de José Dirceu está marcado para a manhã de hoje e vai se constituir num fato político da maior importância e também como acelerador do processo da Operação Lava-Jato. Tanto assim que O Globo enviou a repórter para cobrir as declarações que Dirceu fizer. Vejam só os leitores.


No final do ano passado, portanto há cerca de quatro semanas, o ex-presidente Lula afirmou publicamente ter sido Dirceu, e não ele, o autor da escolha de Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobrás. Renato Duque é apontado por diversas fontes com um dos principais articuladores do esquema de corrupção que, seguidamente, praticava roubos milionários, talvez bilionários, à economia da empresa, de tal modo que abalaram a estatal. Renato Duque estava no centro do palco.



VERSÃO SURREALISTA
Numa primeira etapa, embora fosse ele presidente da República, Luiz Inácio da Silva sustentou que apenas encaminhava os atos que lhe eram encaminhados por José Dirceu. Entre eles, o que nomeou Renato Duque. Quer dizer: o chefe da Casa Civil mandava mais do que ele, que se limitava somente a referendar as indicações. Tal versão surrealista, já por si, é agora acrescentada por outra, mais espantosa ainda.

José Dirceu dirá hoje, de acordo com Cleide Carvalho, que o autor da indicação de Renato Duque não foi ele, Dirceu, tampouco Lula. O responsável foi o ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira. Portanto, colocou Sílvio Pereira com um poder que superava o próprio poder de decisão do Palácio do Planalto. Autêntica tragicomédia, uma situação impossível sob todos os aspectos. Quem governava o país? Quem tinha o poder de assinar? Quem assumia a responsabilidade?


Esta pergunta se encaixa plenamente, já que nela está embutida fortemente a ideia de um quadro administrativo em que Lula atribuiu a culpa a José Dirceu, na busca de se livrar de culpa pelo foco de corrupção que explodiu e passou ao conhecimento geral da opinião pública. Dirceu defende-se tentando passar a bola para Sílvio Pereira.


A versão é tão fantástica que, em determinado momento, Dirceu admite que só foi chamado para resolver o impasse criado quando da transferência do poder de Fernando Henrique para Lula. O problema estava na disputa entre Renato Duque e Irani Varela, que ocupava o cargo de Diretor de Serviços e lutava para permanecer no governo que começava. Aí, então, Dirceu desempatou a partida para Renato Duque.


SEQUÊNCIA DE ABSURDOS
Francamente, evidencia-se uma sequência de absurdos. Dentro de um panorama de poder já por si absurdo, seja a análise feita pelo maior número possível dos ângulos da questão. Mas isso é outra coisa. O que mais importa, nesta sexta-feira 29, é o reflexo do que José Dirceu vier a afirmar ao juiz Sérgio Moro. Será enorme a repercussão na imprensa, que se estenderá até o plano internacional.


A Petrobrás possui ações na Bolsa de New York, já motivo de ações judiciais que serão decididas a 19 de setembro.


O interesse será, como se pode presumir, enorme. José Dirceu e Sérgio Moro estarão frente a frente, mas sobretudo diante de dezenas de luzes, filmagens e fotografias. Os efeitos da sequência que vai se desenrolar, certamente, não ficarão restritos ao dia e a noite de hoje. Pelo contrário. Vão fortalecer ainda mais a Operação Lava-Jato e também a atuação de Sérgio Moro. Que contraria interesses ilegítimos, mas fortalece o interesse nacional.

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