segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Fotos lindas!O poder dos parques nacionais

Um parque nacional é bem mais que um cenário pitoresco. É o terreno comum de uma nação.

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE   |   Por: David Quammen


« Pelos Mares do Mundo – Portfólio Marcelo Skaf
Um século atrás nos primeiros meses de 1916, os Estados Unidos foram tomados por uma ideia magnífica e visionária, mas também incipiente e algo confusa: a criação de parques nacionais. Seriam parques para os cidadãos americanos, e não áreas de diversão e reservas de caça exclusivas a ricaços e reis. E até poderiam ser partilhados com visitantes de outros pontos do planeta.
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Naquela altura, já existiam 14 dessas áreas nos Estados Unidos, dos quais o mais antigo era o de Yellowstone. Criado por lei federal em 1872, ele foi o primeiro parque nacional em todo o mundo. Os outros parques americanos, todos situados a oeste do Rio Mississippi, incluíam o Yosemite, na Califórnia; o Wind Cave, na Dakota do Sul (1903); o das Geleiras, em Montana (1910); e o das Montanhas Rochosas, no Colorado (1915). Havia também 21 monumentos nacionais – um tipo de área protegida criado com mais facilidade, pois dependia apenas de um decreto presidencial sob a Lei das Antiguidades (aprovada em 1906), e vigorosamente adotado por Theodore Roosevelt nos três últimos anos do seu mandato presidencial.


Mas o que o país não contava em 1916, e logo constatou que precisava, era com uma definição coerente do que deveria ser um parque nacional, com um único órgão encarregado de administrar, defender e supervisionar a expansão desse conjunto disperso de reservas. Em agosto, o Congresso americano aprovou uma lei, depois ratificada pelo presidente Woodrow Wilson, criando o Serviço Nacional de Parques (NPS, na sigla em inglês).


Stephen Mather, um californiano que enriquecera negociando bórax mas se preocupava muito com a preservação da natureza, tornou-se o primeiro diretor do NPS. Ele tinha como assistente e companheiro inseparável um jovem advogado de poucos recursos: Horace Albright, filho de um engenheiro de minas e que se tornaria o superintendente de Yellowstone a partir de 1919 e terminaria por suceder a Mather na direção do NPS. Esses dois homens cruciais e os seus numerosos aliados reuniram apoio ao sistema de parques e à inclusão nele de novas unidades, mas o processo de definir a essência de um parque nacional não se concluiu com o trabalho deles.



Situados no oeste dos Estados Unidos, os primeiros parques foram criados sobretudo para assegurar a proteção de maravilhas naturais pitorescas em locais inóspitos que pouco ofereciam em termos de possibilidade de exploração econômica – exceto talvez sob alguma forma de turismo vislumbrada pelos potentados que abriram as novas ferrovias. Essa evidente ausência de oportunidades comerciais, além do ímpeto patriótico em exaltar as “catedrais” naturais do Novo Mundo em contraposição às igrejas e aos monumentos antigos da Europa, tornou a criação desses primeiros parques mais fácil do que viria a ocorrer no futuro.


Outro fator era o exemplo negativo das Cataratas do Niágara, cujos melhores pontos para observação haviam sido comprados e cercados por negociantes particulares, que transformaram um emblema nacional em um espetáculo de qualidade duvidosa e voltado para os lucros. Não poderia ocorrer o mesmo com o Gêiser Old Faithful ou com o Vale do Yosemite.


A proteção da fauna e da flora – o bisão-americano em Yellowstone, as sequoias gigantescas – acabou sendo incorporada à ideia. Mas seria preciso esperar até 1947 para que um parque nacional dos Estados Unidos fosse criado visando especificamente a proteção da fauna silvestre: o de Everglades, uma área de manguezal no estado da Flórida que, embora não tivesse montanhas ou desfiladeiros, estava repleta de aves e jacarés.


Desde então, os parques americanos vêm aos poucos assumindo a missão de preservar a diversidade da natureza – a fauna e a flora, os processos ecológicos, as águas correntes, os acidentes geológicos – como exemplo da complexidade interativa da Terra, e não apenas como cenários pitorescos. Esses parques servem tanto para nos ensinar como para nos maravilhar. Eles ajudam os americanos a imaginar como era a paisagem do país antes da chegada das ferrovias e das cidades. Eles trazem um vislumbre do passado à época atual e – caso sejamos firmes e prevaleça a nossa postura sensata – vão preservar isso para as gerações futuras.


A criação dos parques nacionais foi uma boa ideia que só melhorou com a passagem do tempo. O sistema agora inclui não apenas parques e monumentos nacionais mas também campos de batalha, fortalezas, litorais, rios de beleza excepcional, sítios funerários e outros locais relevantes (alguns ainda nas mãos de particulares) que são reconhecidos como marcos históricos nacionais, assim como trajetos notáveis pelo território e pela história, como a Trilha Histórica Nacional de Selma a Montgomery, no estado do Alabama. Segundo Jon Jarvis, o atual diretor do Serviço Nacional de Parques, o objetivo dele é proporcionar um relato dos Estados Unidos, e não apenas preservar trechos da paisagem.


“Se não nos ocuparmos disso, quem vai fazer? É a nossa obrigação.” Agora que estamos celebrando o centenário dessa ideia, também devemos nos lembrar de que, embora uma lei aprovada no Congresso e assinada pelo presidente possa resultar na criação de um parque, o esforço de preservar os locais e as suas histórias cabe também a todos os cidadãos – e é um trabalho sem fim.


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