Olhando do início de 2016, a sensação é a de caminharmos para uma decadência econômica, uma explosão social, um caos político, uma degradação moral; e duas esperanças.
A decadência econômica se observa na desindustrialização com primarização do PIB; nos sucessivos anos de recessão; na regressão na posição entre os países do mundo; na incapacidade de inovação; na baixa competitividade; na ausência de produtos de alta tecnologia; nos déficits públicos estruturais crescentes; na educação básica deficiente, no ensino superior fraco e desvinculado do setor produtivo; no sistema nacional de ciência e tecnologia atrasado, com empresários com aversão ao risco, sem gosto por inovação, dependentes do protecionismo; na baixa taxa de poupança, no burocratismo, na instabilidade jurídica, num sistema previdenciário estruturalmente deficitário e nada incentivador do trabalho; na quebra de confiança, nas leis trabalhistas antiquadas e prejudiciais ao trabalhador contemporâneo. Tudo a indicar muito mais do que uma simples crise, que passaria em alguns meses, mas um longo processo de decadência que pode durar muitos anos.
A explosão social pode ser percebida na violência urbana, que já caracteriza uma guerra civil; na desarticulação do sistema de saúde; na insalubridade, da qual o zika vírus é um exemplo dramático, mas não excepcional; na falta de água encanada e esgoto; no descaso com a infância; na baixa escolaridade; na ausência de forças sociais aglutinadoras; na violência contra mulheres e crianças; em uma Constituição com profusão de direitos e ausência de deveres; na generalização do uso de álcool e outras drogas.
O caos político é refletido na falta de credibilidade nos Poderes Executivo e Legislativo; nos partidos desmoralizados, sem propostas, sem identidades ideológica e moral entre seus filiados; na juventude descrente, sem causas, sem utopias; na judicialização e na instabilidade legal; na falta de espírito público entre os políticos; na ausência de patriotismo; na corporativização do processo eleitoral e legislativo.
A degradação moral é percebida na generalização da corrupção; nos péssimos exemplos dos líderes; na apologia do jeitinho; na valorização do individualismo; na legitimação da prática da vantagem a qualquer custo; e no desprezo ao mérito.
A primeira esperança vem da descoberta dos erros cometidos: a punição a políticos corruptos; a certeza de que o ilusionismo vinha conduzindo a economia, com jogadas de marketing e contabilidade criativa; a percepção da necessidade do equilíbrio fiscal e de que a dinâmica econômica no século XXI não vem de subsídios fiscais aos setores ineficientes, mas da promoção da eficiência e da inovação. A segunda esperança vem da consciência de que não basta retomar o crescimento, é preciso reorientar o rumo do país para um novo tipo de progresso, baseado, sobretudo, na educação de qualidade para todos.
Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF
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