segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

ECOSSOCIOLOGIA





  

As relações sociais da espécie humana estão ligadas a todas as demais formas de vida da flora, da fauna e a elementos físicos e químicos do universo unidos num imenso organismo de partes interdependentes. 
Astros da noite, rios, oceanos, lagos, cachoeiras, chuvas, neves, árvores, pássaros, animais selvagens e domesticados, bilhões de insetos afetam com diferente intensidade e interesse a convivência dos indivíduos de um grupo e a da variedade de grupos no conjunto dos seres vivos. Os resultados metodológicos da ecossociologia provêm de ações de percepção para o conhecimento interativo que propiciam comportamentos coerentes e orgânicos entre a espécie humana e demais seres vivos. 

O propósito da ecossociologia é observar e estudar a organização das espécies, e relacionar os comportamentos e interdependências de todos os seres vivos que habitam a mesma casa, num mesmo espaço físico. A casa grande é o planeta Terra e a casa pequena é o bioma que abriga uma parte diversificada de seres vivos.

A organização comunitária dos diferentes grupos vivos obedece a leis biológicas comuns, especificamente às que regem a conservação da vida, isto é, a busca do alimento e a reprodução da própria espécie. É o traço indelével da igualdade de direito à vida de todos os seres vivos, não importa o tamanho, a forma ou sua função teleológica. 

A natureza dispõe de imensa variedade, embora limitada, de alimentos para a conservação de todas as espécies e, consequentemente, para sua reprodução. 

Dois processos são inerentes à conservação e reprodução da vida: a cooperação e a competição. Esses dois processos, em ação permanente e contínua, são monitorados por controles genéticos, inerentes ao sistema natural, administrados no âmbito de cada espécie e compartilhados por outros grupos de espécies que dividem o mesmo espaço. Todos cooperam e competem entre si para manter-se vivos empurrados irresistivelmente por uma energia vital imanente.

A supremacia e a preponderância de espécies sobre outras ou de indivíduos de uma espécie sobre seu grupo, dependem da auto-organização e da aceitação de regras do jogo social que se estabelecem na convivência temporal dos membros. 

O crescimento populacional de uma ou várias espécies pode ser determinante para o equilíbrio ou desequilíbrio da conservação e reprodução de outras espécies de um mesmo bioma ou de um conjunto de biomas da casa grande. A casa comum a um determinado grupo de espécies pode se tornar pequena para abrigar uma espécie ou uma variedade competitiva de espécies.  
Um dos fenômenos originados pela competição na busca de alimentos necessários para a reprodução é a migração sazonal ou definitiva de espécies vivas. As aves e a espécie humana são dois grupos susceptíveis de migração, especialmente quando o superpovoamento de uma região limita a coleta de alimentos. Muitas espécies são expulsas de seu hábitat por perderem a fonte de alimentação açambarcada por grupos invasores.  

O sistema de controle populacional e a demarcação dos territórios ocupados são determinados pela imposição do mais forte e pela função predatória de uma espécie sobre outra.  

Os conflitos originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie se espalham de forma cooperativa e competitiva para o conjunto de espécies. 
 A função predatória – conflito entre espécies - pertence à dinâmica da perpetuação equilibrada da vida. A defesa contra os predadores pode reunir indivíduos de diferentes espécies. É comum observar-se a formação de uma brigada de pássaros de diferentes espécies para expulsar gaviões e aves de rapina de seus territórios e defender seus filhotes. 

O equilíbrio no crescimento de uma população viva se estabelece de muitas formas: escassez de alimento, aborto do embrião, suspensão temporária do acasalamento, mortalidade precoce, abandono dos nascidos, luta fratricida, doenças bacterianas, canibalismo, entre outras razões (aranhas fêmeas e louva-deus devoram os machos durante a copulação). Para a espécie humana acrescentam-se fenômenos físicos arrasadores, pestes, epidemias, guerras, agressões mortais entre grupos ou indivíduos do mesmo grupo, acidentes em terra, mar e ar.



A lei biológica da conservação da vida no planeta estabelece a inevitabilidade da interdependência das espécies como se todas elas fossem um único organismo em que uma parte alimenta a outra.



Esse organismo vivo, subdividido em espécies, subsiste sob a inquestionável lei da natureza: a vida se alimenta de vidas. Esta corrente de perpetuação da vida por outras vidas embute sutilmente fortes doses de sofrimento físico e emocional compartilhado por todos os seres vivos. (A cobra come o rato, a seriema come a cobra, o caçador abate a seriema, o produtor se alimenta do animal que criou.) 

O crescimento populacional da espécie homo sapiens não atingiu ainda o grau de racionalidade necessário compatível com os limites da oferta de bens naturais dos diferentes biomas que ele comparte com milhares de outras vidas. 

A ocupação dos espaços, ao longo de milênios, e o desflorestamento para a produção de alimentos perturbou severamente a biodiversidade, expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa é uma trag A alternativa da domesticação de sementes e animais deu à espécie humana uma sobrevida atribulada por imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre os indivíduos e diferentes grupos.  


A surpreendente capacidade de adaptação climática da espécie humana e o desenvolvimento evolutivo do cérebro o levaram a um equívoco de interpretação no uso dos bens naturais a ponto de alimentar convicções e certezas de que ela pode e deve dominar outras vidas. Os fatos históricos transmitidos de geração em geração, há milênios, se consolidaram em oráculos atribuídos a um ser superior que ordenou: “Crescei e multiplicai-vos e dominai a Terra”. 


A interdependência dos seres vivos não só está baseada no funcionamento cerebral e orgânico de cada forma de vida. Ela se fundamenta no parentesco evolutivo de todos os seres vivos pois nascemos todos da mesma semente vital. Cabe às espécies com capacidade cerebral mais desenvolvida compreender a vida no universo, adequar comportamentos e atitudes em relação aos bilhões de seres que habitam a mesma casa comum. 

É o que se espera e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente, pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as árvores e os animais.



ATITUDES E COMPORTAMENTOS:



Penso que a aceitação de alguns valores contribui para a compreensão da vida em cada bioma ou conjunto de biomas que congregam biocomunidades há milhões de anos. Eles também auxiliam na avaliação do impacto da intervenção e da pegada da espécie humana em seus respectivos biomas. 


Existem alguns valores sociais que as pessoas determinam ou aceitam para se relacionar com outros seres vivos não humanos e cujas relações se refletem na convivência humana. Animais de estimação ou paisagens naturais preservadas criam relações entre pessoas e demais seres que pertencem a esse ciclo de convivência.  

Valores ecológicos refletem a interdependência de todos os seres de uma biocomunidade, com ênfase na água, nas plantas e nas aves. Valores econômicos frutos da administração e uso igualitário dos bens naturais destinados à conservação e reprodução de todas as espécies. 


Valores de cosmovisão com força conceitual para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a preservação da vida no planeta.  É necessária especial atenção aos processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos vitais de todos os seres vivos.  

Estima-se que a espécie humana (homo sapiens), há 40.000 anos, apoderou-se autoritariamente das riquezas do planeta e as administra em seu proveito na qualidade de único proprietário e usuário como se os elementos para sua sobrevivência fossem exclusivos, infinitos e ilimitados.



Creio que a espécie humana possa evoluir na compreensão dos conflitos diários entre sua sobrevivência e a de outras formas de vida. E, em consequência, praticar modos de convivência entre todos os seres vivos compatibilizando os tempos da espécie consciente com a organização biológica e social de outras formas de vida.



CONTEÚDOS DE CRÍTICA DO CONHECIMENTO

PARA A CRÍTICA DO COMPORTAMENTO



O Núcleo de Pesquisa Ecossociológica do Cerrado (Ver anexo), idealizado para o exercício das observações da Ecossociologia é uma ferramenta de estudo das formas de vida nesse bioma, as relações entre os diversos elementos naturais, como árvores, animais e água, que possam orientar atitudes e comportamentos do homo cerratensis na preservação da biodiversidade. 

São questões que aprofundam os conhecimentos sobre a constituição das formas de vida e reorientam os comportamentos da população humana em relação a elas.


Algumas perguntas parecem fundamentais para a crítica do conhecimento que pode levar à crítica do comportamento: 

– Quanto do ecossistema é necessário para nossa sobrevivência e reprodução?

– Que prioridade se pode e deve dar ao planejamento demográfico para conciliar os limites de bens da natureza com o crescimento populacional humano e consequentemente a preservação da biodiversidade?

– Que espécies vivas e que processos ecológicos são essenciais para a sobrevivência da espécie humana?

– Quantas espécies, das quais dependerá a existência da espécie humana já foram extintas e ainda o serão com os métodos arrasadores de sua presença, especialmente o desflorestamento e a defaunação?

– Como preservar e ampliar os elementos essenciais a todas as formas de vida: água e árvores? 
A preservação da espécie humana, acima de tudo, precisa evitar o caminho da própria monocultura com a extinção gradativa de outras espécies, com a diminuição perigosa da biodiversidade rompendo os laços da interdependência de todas as vidas existentes no planeta. A monocultura vegetal ou animal é danosa. Presumo que o planeta, sem árvores, sem pássaros, sem animais, habitado apenas pela espécie humana seria monótono e estéril rodeado de alta tecnologia. 



Para maior compreensão dos conceitos aqui propostos sugere-se a aplicação da Metodologia de Imersão Peripatética mediante observação e registro dos fatos ecológicos da interdependência dos habitantes de um mesmo bioma e da relação com a espécie humana. O método oferece ferramentas a serem usadas em campo e em painéis de discussão do grupo envolvido.





ITENS METODOLÓGICOS



Nas visitas aos locais escolhidos do bioma, o passeio pela natureza requer postura de silêncio científico. A linguagem dos seres vivos se faz pela presença, pela forma e pela estética no local que ocupam. Os momentos de discussão serão posteriores aos de observação e registro dos fatos recolhidos.


Sugere-se:



·        Prestar atenção aos convites da paisagem ao penetrar em seu espaço

·        Deambular, parar, olhar, ver, ouvir, decodificar, compreender os distintos idiomas da natureza

·        Fotografar a área com os olhos e perceber sua conformação geofísica e geográfica

·        Localizar possíveis afloramentos de água.

·        Identificar e relacionar o tipo de vegetação ao redor do afloramento de nascentes

·        Distinguir espécies da flora e da fauna

·        
 Questionar a prática de produção de alimentos em áreas desprotegidas, desertas, impermeabilizadas

·        Inquerir sobre possíveis cortinas vegetais ou corredores consorciados com áreas de produção.

Sobrevivência da espécie humana.

Os itens abaixo afetam de alguma forma as relações de convivência entre as entidades da espécie humana e as demais formas de vida:

·        Circunstâncias, como fenômenos climáticos, predadores múltiplos, podem pôr em risco a vida das pessoas e o acervo histórico e cultural: casa, monumentos, jardim, pomar, horta, espaços de lazer. 

·        Localização dos agrupamentos humanos. Substituição de florestas por cidades e equipamentos facilitadores da vida humana.

·        Água, um ponto essencial de referência. Nascentes, córregos, rios, lagos. Acesso. Qualidade da água.

·        Área de coleta ou produção de alimentos de autossuficiência ou troca. Sistema de compensação e regeneração do ambiente ocupado.

·        O habitat humano é também uma imposição da natureza e uma decorrência natural para a sobrevivência e a reprodução da espécie. Ninho, toca, abrigo fazem parte da intimidade de todas as formas de vida para a reprodução e a sobrevivência. 

·        Áreas possíveis de inundações ou de incêndios (fenômenos naturais, chuvas, crescente de rios, vulcões) e suas particularidades regionais (Centro-Oeste, Sudeste...). 

·        Redução de riscos para a vida e o temor de desastres inerentes à localização de pessoas e comunidades. 

·        As relações sociais não têm como motivador primeiro a solidariedade no cataclismo e, sim, a segurança do desenvolvimento social e cultural adequado e integrado ao ambiente.



Temas para debate



– A ação humana (pegada ecológica) pode pôr em risco a saúde e a vida.



Alguns cuidados podem evitar desconfortos, vicissitudes e desastres:

·        Proteção de mananciais adjacentes, bosques, vegetação nativa, lençol freático, áreas de recarga de aquíferos, poços artesianos ou tubulares, áreas inadequadas para despejo séptico, detritos, lixos diversos, entulho. A recarga de aquíferos pode ser limpa ou suja.



– Riquezas irrecuperáveis que relatam a história humana.



·        Cavernas, inscrições rupestres, monumentos históricos ou naturais, árvores típicas, refúgios florestais únicos e sensíveis, brejos, cascatas, belezas naturais, são preciosos canais de relacionamento entre as pessoas e entre estas e as demais formas de vida.



– Invasão irregular de áreas valiosas que provoquem custos sociais de recuperação.



·        Urbanização de margens de rios, lagos e mananciais.

·        Habitat de vida nativa rara (Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado) ou em extinção, paisagens, locais de recreação potencial.

·        Proteção do espaço necessário para a vida do bioma e da biota, vegetais e animais.



– Interdependência de todas as espécies vivas.



·        Um dos mais importantes aspectos da vida no planeta é a interdependência de todas as espécies vivas que compõem a biodiversidade necessária à sua sobrevivência e reprodução na biocomunidade.

·        Vidas se alimentam de vidas.

·        Planejamento e controle inteligente da reprodução da vida humana.

·        O homo sapiens chegou mais tarde ao planeta.



– Organização natural das espécies vivas



·        Preservação da organização natural das espécies vivas frente à organização social e cultural urbana e rural da espécie humana.

·        A ação humana e a pegada ecológica do passo e do ritmo da evolução do homo sapiens. No último século, a pegada ecológica do homem destruiu mais que nos 10 séculos anteriores.

·        A preservação de uma área pode provocar o aparecimento de espécies desaparecidas ou novas.



– O tempo da substituição das espécies nativas por outras domesticadas (soja, milho) não é o mesmo da regeneração do bioma para recompor a fertilidade e garantir produção constante e permanente.



·        O maquinário, a intervenção, o desmatamento, a queima.

·        Os fertilizantes químicos, os pesticidas (agrotóxicos) se incorporam ao solo, à água, às plantas, à atmosfera e às pessoas.

·        Educação e saúde estão afetadas pela modificação do habitat vegetal, animal e humano.

·        Possíveis ações de cooperação entre a espécie humana e as condições necessárias à preservação da água e da vegetação nativa.

·        Plantar árvores é o grito Revolucionário deste século.

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