As relações sociais
da espécie humana estão ligadas a todas as demais formas de vida da flora, da
fauna e a elementos físicos e químicos do universo unidos num imenso organismo
de partes interdependentes.
Astros da noite, rios, oceanos, lagos, cachoeiras, chuvas,
neves, árvores, pássaros, animais selvagens e domesticados, bilhões de insetos
afetam com diferente intensidade e interesse a convivência dos indivíduos de um
grupo e a da variedade de grupos no conjunto dos seres vivos. Os resultados
metodológicos da ecossociologia provêm de ações de percepção para o conhecimento interativo
que propiciam comportamentos coerentes e orgânicos entre a espécie humana e
demais seres vivos.
O propósito da
ecossociologia é observar e estudar a organização das espécies, e relacionar os comportamentos e interdependências
de todos os seres vivos que habitam a mesma casa, num mesmo espaço físico. A
casa grande é o planeta Terra e a casa pequena é o bioma que abriga uma parte diversificada
de seres vivos.
A organização comunitária
dos diferentes grupos vivos obedece a leis biológicas comuns, especificamente às
que regem a conservação da vida, isto é, a busca do alimento e a reprodução da
própria espécie. É o traço indelével da igualdade de direito à vida de todos os
seres vivos, não importa o tamanho, a forma ou sua função teleológica.
A natureza dispõe
de imensa variedade, embora limitada, de alimentos para a conservação de todas
as espécies e, consequentemente, para sua reprodução.
Dois processos são
inerentes à conservação e reprodução da vida: a cooperação e a competição.
Esses dois processos, em ação permanente e contínua, são monitorados por
controles genéticos, inerentes ao sistema natural, administrados no âmbito de
cada espécie e compartilhados por outros grupos de espécies que dividem o mesmo
espaço. Todos cooperam e competem entre si para manter-se vivos empurrados
irresistivelmente por uma energia vital imanente.
A supremacia e a
preponderância de espécies sobre outras ou de indivíduos de uma espécie sobre
seu grupo, dependem da auto-organização e da aceitação de regras do jogo social
que se estabelecem na convivência temporal dos membros.
O crescimento
populacional de uma ou várias espécies pode ser determinante para o equilíbrio
ou desequilíbrio da conservação e reprodução de outras espécies de um mesmo
bioma ou de um conjunto de biomas da casa grande. A casa comum a um determinado
grupo de espécies pode se tornar pequena para abrigar uma espécie ou uma
variedade competitiva de espécies.
Um dos fenômenos originados pela competição
na busca de alimentos necessários para a reprodução é a migração sazonal ou
definitiva de espécies vivas. As aves e a espécie humana são dois grupos
susceptíveis de migração, especialmente quando o superpovoamento de uma região
limita a coleta de alimentos. Muitas espécies são expulsas de seu hábitat por
perderem a fonte de alimentação açambarcada por grupos invasores.
O sistema de
controle populacional e a demarcação dos territórios ocupados são determinados
pela imposição do mais forte e pela função predatória de uma espécie sobre
outra.
Os conflitos originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie se espalham de forma cooperativa e competitiva para o conjunto de espécies.
Os conflitos originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie se espalham de forma cooperativa e competitiva para o conjunto de espécies.
A função predatória – conflito entre espécies - pertence à dinâmica
da perpetuação equilibrada da vida. A defesa contra os predadores pode reunir indivíduos
de diferentes espécies. É comum observar-se a formação de uma brigada de
pássaros de diferentes espécies para expulsar gaviões e aves de rapina de seus
territórios e defender seus filhotes.
O equilíbrio no
crescimento de uma população viva se estabelece de muitas formas: escassez de
alimento, aborto do embrião, suspensão temporária do acasalamento, mortalidade
precoce, abandono dos nascidos, luta fratricida, doenças bacterianas, canibalismo,
entre outras razões (aranhas fêmeas e louva-deus devoram os machos durante a
copulação). Para a espécie humana acrescentam-se fenômenos físicos arrasadores,
pestes, epidemias, guerras, agressões mortais entre grupos ou indivíduos do
mesmo grupo, acidentes em terra, mar e ar.
A lei biológica da conservação da vida no planeta
estabelece a inevitabilidade da interdependência das espécies como se todas
elas fossem um único organismo em que uma parte alimenta a outra.
Esse organismo vivo,
subdividido em espécies, subsiste sob a inquestionável lei da natureza: a vida
se alimenta de vidas. Esta corrente de perpetuação da vida por outras vidas
embute sutilmente fortes doses de sofrimento físico e emocional compartilhado
por todos os seres vivos. (A cobra come o rato, a seriema come a cobra, o
caçador abate a seriema, o produtor se alimenta do animal que criou.)
O crescimento populacional
da espécie homo sapiens não atingiu ainda
o grau de racionalidade necessário compatível com os limites da oferta de bens
naturais dos diferentes biomas que ele comparte com milhares de outras vidas.
A ocupação dos espaços, ao longo de milênios, e o desflorestamento para a produção de alimentos perturbou severamente a biodiversidade, expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa é uma trag A alternativa da domesticação de sementes e animais deu à espécie humana uma sobrevida atribulada por imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre os indivíduos e diferentes grupos.
A ocupação dos espaços, ao longo de milênios, e o desflorestamento para a produção de alimentos perturbou severamente a biodiversidade, expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa é uma trag A alternativa da domesticação de sementes e animais deu à espécie humana uma sobrevida atribulada por imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre os indivíduos e diferentes grupos.
A surpreendente
capacidade de adaptação climática da espécie humana e o desenvolvimento
evolutivo do cérebro o levaram a um equívoco de interpretação no uso dos bens
naturais a ponto de alimentar convicções e certezas de que ela pode e deve
dominar outras vidas. Os fatos históricos transmitidos de geração em geração,
há milênios, se consolidaram em oráculos atribuídos a um ser superior que
ordenou: “Crescei e multiplicai-vos e dominai a Terra”.
A interdependência dos seres
vivos não só está baseada no funcionamento cerebral e orgânico de cada forma de
vida. Ela se fundamenta no parentesco evolutivo de todos os seres vivos pois
nascemos todos da mesma semente vital. Cabe às espécies com capacidade cerebral
mais desenvolvida compreender a vida no universo, adequar comportamentos e
atitudes em relação aos bilhões de seres que habitam a mesma casa comum.
É o que se espera e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente, pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as árvores e os animais.
É o que se espera e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente, pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as árvores e os animais.
ATITUDES E COMPORTAMENTOS:
Penso que a
aceitação de alguns valores contribui para a compreensão da vida em cada bioma
ou conjunto de biomas que congregam biocomunidades há milhões de anos. Eles também
auxiliam na avaliação do impacto da intervenção e da pegada da espécie humana
em seus respectivos biomas.
Existem alguns valores
sociais que as pessoas determinam ou
aceitam para se relacionar com outros seres vivos não humanos e cujas relações
se refletem na convivência humana. Animais de estimação ou paisagens naturais
preservadas criam relações entre pessoas e demais seres que pertencem a esse
ciclo de convivência.
Valores ecológicos
refletem a interdependência de todos os seres de uma biocomunidade, com ênfase
na água, nas plantas e nas aves. Valores econômicos
frutos da administração e uso igualitário dos bens naturais destinados à conservação
e reprodução de todas as espécies.
Valores de cosmovisão com força conceitual para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a preservação da vida no planeta. É necessária especial atenção aos processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos vitais de todos os seres vivos.
Valores de cosmovisão com força conceitual para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a preservação da vida no planeta. É necessária especial atenção aos processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos vitais de todos os seres vivos.
Estima-se que a espécie
humana (homo sapiens), há 40.000 anos, apoderou-se autoritariamente das
riquezas do planeta e as administra em seu proveito na qualidade de único proprietário
e usuário como se os elementos para sua sobrevivência fossem exclusivos, infinitos
e ilimitados.
Creio que a espécie
humana possa evoluir na compreensão dos conflitos diários entre sua
sobrevivência e a de outras formas de vida. E, em consequência, praticar modos
de convivência entre todos os seres vivos compatibilizando os tempos da espécie
consciente com a organização biológica e social de outras formas de vida.
CONTEÚDOS
DE CRÍTICA DO CONHECIMENTO
PARA
A CRÍTICA DO COMPORTAMENTO
O Núcleo de Pesquisa
Ecossociológica do Cerrado (Ver anexo), idealizado para o exercício das
observações da Ecossociologia é uma ferramenta de estudo das formas de vida
nesse bioma, as relações entre os diversos elementos naturais, como árvores,
animais e água, que possam orientar atitudes e comportamentos do homo cerratensis na preservação da
biodiversidade.
São questões que aprofundam
os conhecimentos sobre a constituição das formas de vida e reorientam os
comportamentos da população humana em relação a elas.
Algumas perguntas parecem fundamentais para a crítica do conhecimento que pode levar à crítica do comportamento:
– Quanto do ecossistema é necessário para nossa
sobrevivência e reprodução?
– Que prioridade se pode e deve dar ao planejamento
demográfico para conciliar os limites de bens da natureza com o crescimento
populacional humano e consequentemente a preservação da biodiversidade?
– Que espécies vivas e que processos ecológicos são
essenciais para a sobrevivência da espécie humana?
– Quantas espécies, das quais dependerá a existência
da espécie humana já foram extintas e ainda o serão com os métodos arrasadores
de sua presença, especialmente o desflorestamento e a defaunação?
– Como preservar e ampliar os elementos essenciais a
todas as formas de vida: água e árvores?
A preservação da espécie
humana, acima de tudo, precisa evitar o caminho da própria monocultura com a
extinção gradativa de outras espécies, com a diminuição perigosa da
biodiversidade rompendo os laços da interdependência de todas as vidas
existentes no planeta. A monocultura vegetal ou animal é danosa. Presumo que o
planeta, sem árvores, sem pássaros, sem animais, habitado apenas pela espécie
humana seria monótono e estéril rodeado de alta tecnologia.
Para
maior compreensão dos conceitos aqui propostos sugere-se a aplicação da Metodologia de Imersão Peripatética mediante
observação e registro dos fatos ecológicos da interdependência dos habitantes
de um mesmo bioma e da relação com a espécie humana. O método oferece
ferramentas a serem usadas em campo e em painéis de discussão do grupo
envolvido.
ITENS
METODOLÓGICOS
Nas visitas aos locais escolhidos do bioma, o passeio
pela natureza requer postura de silêncio científico. A linguagem dos seres
vivos se faz pela presença, pela forma e pela estética no local que ocupam. Os
momentos de discussão serão posteriores aos de observação e registro dos fatos
recolhidos.
Sugere-se:
·
Prestar atenção
aos convites da paisagem ao penetrar em seu espaço
·
Deambular, parar,
olhar, ver, ouvir, decodificar, compreender os distintos idiomas da natureza
·
Fotografar a área
com os olhos e perceber sua conformação geofísica e geográfica
·
Localizar
possíveis afloramentos de água.
·
Identificar e
relacionar o tipo de vegetação ao redor do afloramento de nascentes
·
Distinguir
espécies da flora e da fauna
·
Questionar a
prática de produção de alimentos em áreas desprotegidas, desertas,
impermeabilizadas
·
Inquerir sobre
possíveis cortinas vegetais ou corredores consorciados com áreas de produção.
– Sobrevivência da espécie humana.
Os itens abaixo afetam de alguma forma as relações de
convivência entre as entidades da espécie humana e as demais formas de vida:
·
Circunstâncias, como
fenômenos climáticos, predadores múltiplos, podem pôr em risco a vida das
pessoas e o acervo histórico e cultural: casa, monumentos, jardim, pomar,
horta, espaços de lazer.
·
Localização dos
agrupamentos humanos. Substituição de florestas por cidades e equipamentos
facilitadores da vida humana.
·
Água, um ponto
essencial de referência. Nascentes, córregos, rios, lagos. Acesso. Qualidade da
água.
·
Área de coleta ou
produção de alimentos de autossuficiência ou troca. Sistema de compensação e
regeneração do ambiente ocupado.
·
O habitat humano
é também uma imposição da natureza e uma decorrência natural para a
sobrevivência e a reprodução da espécie. Ninho, toca, abrigo fazem parte da intimidade
de todas as formas de vida para a reprodução e a sobrevivência.
·
Áreas possíveis
de inundações ou de incêndios (fenômenos naturais, chuvas, crescente de rios,
vulcões) e suas particularidades regionais (Centro-Oeste, Sudeste...).
·
Redução de riscos
para a vida e o temor de desastres inerentes à localização de pessoas e
comunidades.
·
As relações
sociais não têm como motivador primeiro a solidariedade no cataclismo e, sim, a
segurança do desenvolvimento social e cultural adequado e integrado ao
ambiente.
Temas para debate
– A ação humana (pegada ecológica) pode
pôr em risco a saúde e a vida.
Alguns cuidados podem evitar desconfortos,
vicissitudes e desastres:
·
Proteção de
mananciais adjacentes, bosques, vegetação nativa, lençol freático, áreas de
recarga de aquíferos, poços artesianos ou tubulares, áreas inadequadas para
despejo séptico, detritos, lixos diversos, entulho. A recarga de aquíferos pode
ser limpa ou suja.
– Riquezas irrecuperáveis que relatam a
história humana.
·
Cavernas,
inscrições rupestres, monumentos históricos ou naturais, árvores típicas,
refúgios florestais únicos e sensíveis, brejos, cascatas, belezas naturais, são
preciosos canais de relacionamento entre as pessoas e entre estas e as demais
formas de vida.
– Invasão irregular de áreas valiosas
que provoquem custos sociais de recuperação.
·
Urbanização de
margens de rios, lagos e mananciais.
·
Habitat de vida
nativa rara (Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado) ou em extinção, paisagens,
locais de recreação potencial.
·
Proteção do
espaço necessário para a vida do bioma e da biota, vegetais e animais.
– Interdependência de todas as espécies
vivas.
·
Um dos mais
importantes aspectos da vida no planeta é a interdependência de todas as
espécies vivas que compõem a biodiversidade necessária à sua sobrevivência e
reprodução na biocomunidade.
·
Vidas se
alimentam de vidas.
·
Planejamento e
controle inteligente da reprodução da vida humana.
·
O homo sapiens chegou mais tarde ao
planeta.
– Organização natural das espécies vivas
·
Preservação da
organização natural das espécies vivas frente à organização social e cultural
urbana e rural da espécie humana.
·
A ação humana e a
pegada ecológica do passo e do ritmo da evolução do homo sapiens. No último século, a pegada ecológica do homem
destruiu mais que nos 10 séculos anteriores.
·
A preservação de
uma área pode provocar o aparecimento de espécies desaparecidas ou novas.
– O tempo da substituição das espécies
nativas por outras domesticadas (soja, milho) não é o mesmo da regeneração do bioma
para recompor a fertilidade e garantir produção constante e permanente.
·
O maquinário, a
intervenção, o desmatamento, a queima.
·
Os fertilizantes
químicos, os pesticidas (agrotóxicos) se incorporam ao solo, à água, às
plantas, à atmosfera e às pessoas.
·
Educação e saúde
estão afetadas pela modificação do habitat vegetal, animal e humano.
·
Possíveis ações
de cooperação entre a espécie humana e as condições necessárias à preservação
da água e da vegetação nativa.
·
Plantar árvores é
o grito Revolucionário deste século.
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