terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval - uma metáfora contagiante


Por Pio Barbosa
O carnaval é uma realidade que se mostra como uma ‘vitrine’ falsa da nossa realidade.


Ostentamos para o mundo, uma imagem feliz, gente alegre, mas, no íntimo somos uma nação destituída de respeito a si mesma, dilacerada pela vergonha que temos de ter um país tão devasso, entregue a corrupção, a frouxidão moral, a falta de decoro e ética, mas como tudo neste aqui parece um grande baile, todos festejam e comemoram uma alegria que ilude o olhar e que traz no íntimo o desejo de um povo que pensa ser feliz, mas não é.



Sem dúvidas, o carnaval é uma enorme metáfora e possui dialeto próprio contagiante.
A tribo inicial incha e sob proporções dilatadas desfila triunfante sob paetês, lantejoulas, plumas, penas, e toda sorte de fantasia.


O operário durante o carnaval se traveste em rei, príncipe ou nobre importante. O empresário se traveste de malandro, mafioso ou sambista. E todos trocam de papéis numa subversão consentida.


O mesmo operário vai ser o entretenimento dos camarotes, arquibancada e terá sua fama por todos conhecidos. As baterias das escolas de samba esquadrinham novas batidas, novas paradas, ritmos remodelando os samba- enredo, redesenhando a danças das mulatas, das passistas, e dos espectadores.


A metáfora do carnaval nos remete a reflexão sobre a preciosa expressão cultural e popular de um povo. De sua identidade cultural, na redenção e catarse que significa aqueles parcos dias de folia. Na crítica satírica da realidade social e na inércia do poder constituído ante as agruras sofridas cotidianamente por um povo.


No carnaval a plástica dos corpos vale mais que o conteúdo destes, vale mais que o pensamento, dialética e até metafísica. Tudo se resolve na mera e simples equação da alegria, folia solvida em quatro dias do ano.


Anônimas figuras que travam uma breve revolução cultural e social nas ruas, calçadas, clubes e passarelas que são liberadas para a manifestação espontânea de alegria, musicalidade e arte. Durante aqueles dias de folia se a felicidade não existe, ela é inventada.


Escolas grandiosas, alas multicoloridas e alegorias sofisticadas, cheias de efeitos, brilhos, luzes e movimentos.


Passado, presente e futuro da humanidade, mitos religiosos e criações da imaginação dos roteiristas de Hollywood, grandes construções e figuras públicas do Brasil e do mundo, foi o que viu o público que acompanhou ao primeiro dia de desfiles do Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, pela televisão ou direto da Marquês da Sapucaí.


Conquanto a realidade do carnaval não seja a mesma para cada pessoa, a vida de cada pessoa tem uma conotação diferente para cada evento da vida muito relativa a si mesmo.



E trata tal acontecimento condicionado aos fatos e a mídia sem liberdade visão de si mesmo, tantas e tais interferências, vão ocorrendo ao longo dos tempos, modificando tudo numa velocidade, que, se quiser alcançar e estar no mesmo ritmo das mudanças, pode se tornar um vitorioso, mas será que viveu toda a essência da coisa? Será que não pagou um preço alto para tal esforço? Para alcançar tal patamar? Isto não é uma pergunta, apenas uma reflexão.


O filme de Monique Gardenberg, Ópaió que esteve em cartaz nos cinemas, é um retrato bem humorado do Brasil, visto pelos olhos e pelos personagens baianos. Porém, não é só de alegrias que o país vive.


Ele mostra a faceta da violência e do racismo; mas, sobretudo, toca num ponto nevrálgico: a tolerância em relação às diferenças entre os indivíduos e os grupos.


O Carnaval é o grande catalizador disto tudo. Pode parecer um grande clichê, mas não é. Aqui, o Carnaval não é a apologia do circo romano, ao contrário, é o ponto de encontro de todas as tribos, não importa a cor, raça, sexo ou opção sexual. O cenário escolhido não poderia ser melhor: o Pelourinho, Salvador, Bahia.


Esse paralelismo, que não é senão uma metáfora da própria vida está presente no final do filme: de um lado a alegria, a música e a sensualidade dos corpos, no último dia de Carnaval; de outro, a tragédia, muda, cujas cenas são vistas (filmadas) do alto, distantes de nossa compreensão (ou de nossa realidade), porque no dia seguinte será Quarta-Feira de Cinzas.


Pio Barbosa
                                        https://www.facebook.com/jornaldacidadeonline
 
 
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