O que o PT fala do PT, por Ricardo Noblat
É a primeira vez que um dirigente do PT, ocupando cargo no
governo, compartilha com o distinto público suas críticas ao partido e
também ao governo.
A arrogância tem sido a marca forte do PT desde que chegou com Lula ao poder federal em 2002.
O
escândalo do mensalão abalou, sim, a blindagem do partido. A
proximidade de eleições gerais e as incertezas da economia aconselham
que ele banque o humilde.
Na última sexta-feira, em Porto Alegre,
durante palestra no Fórum Social Temático, o secretário-geral da
presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, disse que o modelo
responsável por levar o PT ao poder exibe sinais preocupantes de
desgaste.
Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência da República. Foto: Richard Casas
É
necessário, segundo ele, debater as características de um novo projeto
de governo capaz de ir além de temas “como inclusão social e
distribuição de renda”.
Nada muito diferente do que pensam nomes
de peso do PSDB, o partido que governou o país nos oito anos que
antecederam à ascensão do PT.
No primeiro mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso, desembrulhou-se o Plano Real, a inflação de
mais de 80% ao mês do governo Sarney acabou manietada e a renda
distribuída como em ralas ocasiões.
A inclusão social começou verdadeiramente ali. Ou ali deu um salto.
“Neste
momento, nos damos conta que as conquistas importantes que tivemos
estão dadas. Foram importantes, mas absolutamente insuficientes. Tivemos
um processo de inclusão social inegável e devemos nos orgulhar disso.
Mas temos que reconhecer que foi absolutamente insuficiente”, desabafou
Gilberto para uma plateia de esquerda, a maior parte dela do PT, que não
gostou nem um pouco do que ouviu.
“A corrida veloz para o consumo
não foi acompanhada de um grande debate em torno de outros valores”,
observou a propósito das manifestações de rua de junho último.
“Satisfeita a demanda, a exigência passou a ser por serviços de
qualidade”.
O governo foi pego de surpresa. Seu sentimento, “de
certa dor e incompreensão. (...) Fizemos tanto por essa gente e ela
agora se levanta contra nós”? A oposição concorda.
Gilberto é devoto de Lula desde que se aproximou dele nos anos 80. Lula, então, era um líder sindical. Fundaria o PT em seguida.
Em
2002, Gilberto foi seu chefe de gabinete na campanha para presidente.
Uma vez no governo na condição de assessor direto e conselheiro,
suportou seus palavrões e maus modos. Continua suportando. Viu Lula
deixar companheiros pelo meio do caminho. Sobreviveu.
O que faz ou diz nunca está em desacordo com o que Lula pensa e não diz. Porque não é conveniente que diga.
Como
outros dirigentes do PT, torce em silêncio pela volta de Lula, este ano
ou em 2018. E para que tal ocorra, serve à Dilma sem traí-la.
Ela
subiria nas tamancas se fosse diferente. Dilma tem fama de dizer
palavrões e de destratar com frequência quem trabalha com ela. Merecida
fama.
Ao criticar o PT e o governo, Gilberto antecipa parte do
discurso da oposição na campanha deste ano com a esperança de
esvaziá-lo.
Discursos parecidos favorece um governo bem avaliado por mais de 40% da população.
Se
a oposição pouco ou nada tiver para oferecer de olho no futuro, a
eleição será liquidada no primeiro turno. Que vá para o segundo turno
como as eleições de 2002, 2006 e 2010. O governo vencerá.
Mais de 60% dos brasileiros querem mudanças, apontou o Datafolha.
Fica a pergunta que vale milhões de dólares: Mudanças com Dilma e o PT ou sem eles? Com Lula ou sem ele?
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