27/01/2014
às 13:31 \ Direto ao Ponto
A farra bilionária dos vigaristas que forjaram o conto da Copa vai acabar acordando a multidão de brasileiros lesados
Alguma alma caridosa precisa contar ao neurônio solitário que toda
obra física de grande porte é complexa. Se construir estádios fosse
simples, como disse Dilma Rousseff no encontro na Suiça com Joseph
Blatter, as arenas prometidas há seis anos estariam prontas. E a
presidente da República não precisaria submeter-se às humilhantes
cobranças do presidente da Fifa.
Enquanto se explica com os gringos que exploram o futebol mundial, a
supergerente de araque finge que não tem de explicar-se com os nativos
lesados pelos farsantes que forjaram o conto da Copa. O que dirá aos
pagadores de impostos forçados a bancar a farra multibilionária —
anabolizada pela irresponsabilidade do BNDES — promovida pelo Planalto
em parceria com governadores, prefeitos, cartolas e empresários de
estimação?
A reconstituição do golpe atesta que os trapaceiros nem esperaram
pela oficialização da escolha do anfitrião do Mundial. A abertura de
mais uma versão da ópera dos malandros ocorreu em 15 de junho de 2007:
numa celebração no Planalto, Lula aprovou com sorrisos cúmplices e
movimentos verticais da cabeça o palavrório de Ricardo Teixeira, ainda
no comando da CBF: “A Copa do Mundo é um evento privado. O papel do
governo não é de investir, mas de ser facilitador e indutor”.
Quatro meses mais tarde, o embusteiro reincidiu no Rio: “Faço questão
absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder
público nada gastará em atividades desportivas”. Em 4 de dezembro de
2007, depois de avisar que falava em nome de Lula, o ministro do
Esporte, Orlando Silva, avalizou as promessas do parceiro hoje homiziado
em Miami, a um oceano de distância do camburão.
“Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro
privado”, disse o ministro que também se transformaria em caso de
polícia. “Não haverá um centavo de dinheiro público para os estádios”.
Conversa de 171, sabe-se hoje. Oficialmente, o governo federal confessa
ter enterrado R$ 4 bilhões nas arenas superfaturadas. O desperdício real
foi bem maior e muito mais obsceno, provará a abertura da caixa preta
da Copa da Roubalheira.
As maracutaias não contabilizadas continuam à espera da ofensiva dos
políticos ditos oposicionistas, das reações vigorosas dos brasileiros
que não capitulam nem se juntam à manada, das ações do Ministério
Público e da mão pesada da Justiça. Entre tantas bandalheiras, é preciso
investigar com urgência, por exemplo, a origem e o destino do dinheiro
que saiu pelo ralo da reforma do Maracanã ou da construção do Itaquerão.
As duas obras deveriam custariam cerca de R$ 500 milhões cada uma. A
primeira passou com folga de R$ 1 bilhão. A segunda está chegando lá, o
que fará do novo estádio do Corinthians o fruto mais lucrativo da
dobradinha formada pela Odebrecht e por Lula. Pai do colosso, o
ex-presidente que virou camelô de empreiteira envolveu nos trabalhos de
parto a mãe do PAC, o BNDES, o governo estadual e a prefeitura de São
Paulo, fora o resto. Quem ganhou quanto?
A cinco meses do jogo de abertura, o colapso do projeto em execução
no estádio do Atlético Paranaense informa que os espertalhões
perdulários ignoram limites. Irritado com o que viu por lá na última
inspeção, o secretário-geral Jerôme Walcke avisou que a arena de
Curitiba seria excluída do mapa da Copa se o ritmo das obras não
passasse a obedecer ao padrão Fifa. Imediatamente, o orçamento subiu de
R$ 265 milhões para R$ 319 milhões. O salto de 20% será coberto pelos
cofres públicos, que já financiaram 85% do que se gastou.
A festança dos vigaristas vai acabar acordando as multidões que, em
junho passado, impuseram aos farristas algumas semanas de insônia e
medo. Milhões de brasileiros têm sido tratados como se fossem todos
patriotas de galinheiro ou otários profissionais. A Copa que seria o
grande tiro eleitoreiro de Lula pode acertar o pé de Dilma Rousseff.
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