domingo, 2 de fevereiro de 2014

‘O Quadragésimo Ministério’ por Carlos Brickmann

02/02/2014
às 7:45 \ Opinião

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

Millôr Fernandes criou, em O Cruzeiro, o Ministério de Perguntas Cretinas. Havia perguntas como “xeque-mate pode ser falsificado?” e a resposta: “Com a vantagem de que o sujeito não acaba no xadrez. Já está”. 

Pois retomemos o Ministério, com perguntas (sem resposta) da jornalista Regina Helena Paiva Ramos:

1 ─ Chanceler brasileiro pode mentir? O nosso disse que a parada em Lisboa foi decidida no sábado e Portugal já estava informado desde quinta-feira.

2 ─ Dilma levou 45 pessoas. O presidente do Uruguai viaja com quantas?

3 ─ De onde saem as ordens para incendiar ônibus em São Paulo? Ainda não deu para a Polícia mais bem equipada do país saber o que ocorre, para agir?

4 ─ As mortes nos presídios do Maranhão continuam. Ninguém vai pedir o impeachment da governadora, que não tem controle da situação ─ ou, pior, tem?

5 ─ Quando a Sabesp, estatal paulista de saneamento, vai parar de botar anúncios na TV de que saneou o Litoral, e vai usar o dinheiro saneando o Litoral?

6 ─ Quando o prefeito paulistano, Fernando Haddad, vai retirar as faixas avisando que certos locais são sujeitos a enchentes, e tocar obras contra enchentes?

7 ─ Por que há dinheiro para construir um porto em Cuba e não há para dragar o porto de Santos? A profundidade de Santos é de 13 metros e deveria ser de 17, mas falta verba. O porto cubano tem verba nossa e nasce com 18 metros.

E as respostas? Não precisamos de um Ministério das Respostas Cretinas. As respostas a gente vive recebendo sem que seja criado o 41º Ministério.

Pergunta e resposta
Por que a presidente Dilma quis fazer uma escala em Portugal? 

Porque sim: isso não tem a menor importância. Mas a consequência é importante: por causa das fotos, em que a presidente não aparece em seus melhores ângulos, a ministra da Comunicação, Helena Chagas, sempre fiel à presidente, perdeu o posto.

Sem modos 1
O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, criticou as prisões brasileiras e responsabilizou os políticos que não se preocupam com o tema. A crítica foi feita em palestra no Kings College, Londres.


Violou a máxima impecável de Mário Henrique Simonsen: não se fala mal do Brasil em inglês. Tem críticas ao sistema penitenciário? Fale aqui, dentro do país.

Se bem que o desabafo de Barbosa não repercutiu muito. Seu próprio anfitrião, Richard Trainor, reitor do Kings College, dormiu por boa parte do discurso.

Sem modos 2
Vamos combinar que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, nunca se notabilizou pelo refinamento (os alemães, que já o convidaram para visitar o país, se surpreenderam com sua, digamos, descontração). 


Nesta semana, festejando a vitória dos caças Grippen na concorrência da FAB, que levou os suecos a instalar uma fábrica em São Bernardo, com investimento de US$ 150 milhões e criação de mil empregos diretos, vangloriou-se, diante dos microfones: “Eu sou bom pra caralho!”
E pensar que Marinho, antes de ser prefeito, já tinha sido ministro.

Governo pra que? 
O Governo paulista acaba de ser surpreendido por um acontecimento extraordinário: o início das aulas (coisa inusitada, que só acontece uma vez por ano). Os alunos da rede estadual não receberam cadernos. E a explicação é fantástica: os cadernos, informam Suas Excelências, são apenas extensão do material escolar.


Claro: se o aluno pode escrever na mão e só lavá-la depois de decorar tudinho, para que caderno? E, melhor ainda, já pensou na economia de água e sabão?

Pra que Governo? 
A surpresa do Governo paulista com o inusitado início das aulas no início do ano trouxe outra consequência: não havia professores suficientes. Segundo o secretário da Educação, Herman Voorwald, faltou contratar a tempo os professores temporários. 


E por que isso aconteceu?

Porque, para voltar a trabalhar no dia 27 de janeiro, conforme previsto há mais de um ano, deveriam ter entrado em férias até 18 de dezembro. Esqueceram disso. E, lembremos, exatamente para não esquecer essas coisas, há uma Secretaria de Estado da Educação, há Diretorias de Ensino, há diretores nas escolas. Há alunos, também ─ mas quem se preocupa com alunos?

Pelo jeito, em São Paulo, aluno é apenas um detalhe. E incômodo.

Vem, dinheirinho! 
A vaquinha promovida pelo mensaleiro condenado Delúbio Soares para pagar a multa que faz parte de sua pena rendeu mais que o dobro do necessário: a multa é de R$ 466.888 reais e a arrecadação chegou a R$ 1,013 milhão.


Delúbio, que antes do Mensalão cuidava as finanças do PT, continua ótimo para arrecadar.

Os doadores
Mas seria interessante verificar quem foram os doadores, se pagaram os impostos referentes à doação, se seus bens são suficientes para sacrificar-se pelo companheiro necessitado. Delúbio é muito querido no PT: logo depois do Mensalão, foi expulso, mas acabou voltando. 


Mesmo em desgraça, jamais deixou de andar em bons carros, modernos, amplos, possantes.
E, sabe como é, blindados.

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