Quase 70% dos presos têm antecedentes criminais. Dos menores, 60%
Carla Rodrigues
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
Na mesma semana em que o Governo do Distrito Federal (GDF) desativa o Caje, com o anúncio de um novo sistema socioeducativo na região, dados da Secretaria de Segurança revelam que é preciso muito mais para controlar os altos índices de violência – uma questão que se aplica tanto a menores de idade como adultos.
De acordo com relatório do programa Ação pela Vida, que está completando dois anos, 60% dos 13,2 mil jovens apreendidos são reincidentes. Entre os mais de 38 mil adultos presos nos últimos dois anos, 69% já haviam cometido outros crimes.
Para o secretário da pasta, Sandro Avelar, os números mostram a necessidade de revisão na legislação, inclusive o Estatuto da Criança e do Adolescente. “O problema da criminalidade no País está muito sério. O fato de o Brasil ter 16 cidades no ranking das mais violentas do mundo nos faz pensar que está na hora de repensar a legislação. É ela quem dá brechas, o judiciário só cumpre o que a lei diz”, reconhece Sandro Avelar.
“O fim do Caje é um avanço porque vai fazer com que os menores tenham melhores condições de recuperação. Mas não soluciona o problema do retorno dos menores rapidamente às ruas. Ou da permanência, porque muitos nem são apreendidos. Compete ao Congresso Nacional rever a legislação”, completa.
Para especialistas em Segurança Pública e Violência Urbana, o custo que o Estado tem em recapturar os reincidentes poderia ser investido, por exemplo, em políticas para a juventude. “Alguns setores do governo, aqueles que defendem os menores como vítimas de um contexto social, não têm o menor interesse em rever a legislação, o ECA.
E, infelizmente, esse grupo é grande no parlamento. Todas as políticas que pensam em punições mais rigorosas e até a redução da maioridade são rechaçadas por alguns setores”, critica Antônio Testa, da Universidade de Brasília (UnB).
Para o docente, combater a reincidência de menores e maiores no crime é um processo que deve investir, principalmente, em políticas para a juventude e famílias. “É necessário desenvolver economicamente a Região Metropolitana do DF. Temos que enxergar as pessoas de lá, os problemas sociais de lá. Depois da repressão aos criminosos, planejamento familiar e ações voltadas à criança e à juventude são primordiais para avançarmos”, diz.
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
Na mesma semana em que o Governo do Distrito Federal (GDF) desativa o Caje, com o anúncio de um novo sistema socioeducativo na região, dados da Secretaria de Segurança revelam que é preciso muito mais para controlar os altos índices de violência – uma questão que se aplica tanto a menores de idade como adultos.
De acordo com relatório do programa Ação pela Vida, que está completando dois anos, 60% dos 13,2 mil jovens apreendidos são reincidentes. Entre os mais de 38 mil adultos presos nos últimos dois anos, 69% já haviam cometido outros crimes.
Para o secretário da pasta, Sandro Avelar, os números mostram a necessidade de revisão na legislação, inclusive o Estatuto da Criança e do Adolescente. “O problema da criminalidade no País está muito sério. O fato de o Brasil ter 16 cidades no ranking das mais violentas do mundo nos faz pensar que está na hora de repensar a legislação. É ela quem dá brechas, o judiciário só cumpre o que a lei diz”, reconhece Sandro Avelar.
“O fim do Caje é um avanço porque vai fazer com que os menores tenham melhores condições de recuperação. Mas não soluciona o problema do retorno dos menores rapidamente às ruas. Ou da permanência, porque muitos nem são apreendidos. Compete ao Congresso Nacional rever a legislação”, completa.
Para especialistas em Segurança Pública e Violência Urbana, o custo que o Estado tem em recapturar os reincidentes poderia ser investido, por exemplo, em políticas para a juventude. “Alguns setores do governo, aqueles que defendem os menores como vítimas de um contexto social, não têm o menor interesse em rever a legislação, o ECA.
E, infelizmente, esse grupo é grande no parlamento. Todas as políticas que pensam em punições mais rigorosas e até a redução da maioridade são rechaçadas por alguns setores”, critica Antônio Testa, da Universidade de Brasília (UnB).
Para o docente, combater a reincidência de menores e maiores no crime é um processo que deve investir, principalmente, em políticas para a juventude e famílias. “É necessário desenvolver economicamente a Região Metropolitana do DF. Temos que enxergar as pessoas de lá, os problemas sociais de lá. Depois da repressão aos criminosos, planejamento familiar e ações voltadas à criança e à juventude são primordiais para avançarmos”, diz.
Sensação de insegurança
Para o secretário de Segurança, “a nossa legislação é muito fraca.
O criminoso reincidente é aquele cara que comete muitas vezes o mesmo
crime e continua nas ruas porque são crimes que a lei prevê que ele
responda em liberdade. Ou ele consegue a progressão. Aí, volta para a
rua e a delinquir. E isso cria uma sensação de insegurança”, salienta Avelar.
É preciso mais do que integração
Os dados sobre reincidência fazem parte do relatório do programa
Ação Pela Vida, lançado em abril de 2012 pelo GDF. A principal base de
sustentação do projeto é integrar forças de segurança pública na
tentativa de combate à violência. Em cima disso, foram traçados ainda
outros eixos de planejamento, como, por exemplo, dividir as regiões do
DF em Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisps): Leste, Oeste, Sul e
Metropolitana. Cada uma delas tem seu gestor de uma das forças de
segurança.
Orgulhoso dos resultados do programa, Sandro Avelar salientou a
importância da participação da comunidade no processo de combate ao
crime no DF. “Depois que dividimos as regiões em Aisp, o mais
interessante é percebermos, por meio da comunidade, que cada um desses
eixos tem uma particularidade no que diz respeito à violência.
O tipo de
crime cometido no Lago Sul, por exemplo, não é mesmo da Ceilândia. E é
aí que o papel dos Conselheiros de Segurança é importantíssimo. Eles
repassam para a gente essas informações e para cada um dos locais é
traçado um tipo de combate”, explica o secretário de Segurança.
Ainda falta muito...
Contudo, o especialista em gestão pública da UnB, José
Matias-Pereira, acredita que é preciso muito mais do que a integração
das forças de segurança para iniciar o processo de redução nos índices
de criminalidade na região.
“No campo das políticas públicas de
segurança o DF está devendo muito. Brasília vem apresentando números
preocupantes, equiparando-se ao que ocorre nos grandes centros urbanos
do País”, esclarece.
“Todo o esforço do programa é bem-vindo, mas o que
percebo é a maximização dos resultados desse tipo de projeto. Resumindo:
o DF precisa melhorar muito para dar segurança aos moradores”, afirma o
docente.
Aprimorar a legislação
Na opinião do especialista em segurança pública Antônio Testa,
reduzir a maioridade penal e tornar as leis mais duras são medidas
necessárias para o avanço em políticas de combate à violência. “O
Brasil, não só o DF, precisa se modernizar. Essa revisão da legislação
penal é uma coisa importante, porque hoje, inclusive, temos uma sensação
de impunidade.
E eu acho que essa é a palavra-chave desse processo. O
delinquente, seja maior ou menor de idade, precisa ter a certeza de que
se ele infringir a lei vai ser alcançado e vai responder por isso”,
destaca.
Balanço
Ontem, o Jornal de Brasília mostrou que alguns índices de crimes
caíram no DF, como os homicídios (-36%). Por outro lado, a quantidade de
sequestros relâmpago – classificados como roubo com restrição de
liberade –aumentou 24%.
Exemplo em Goiás
O governo de Goiás anunciou uma campanha sobre a reincidência
criminosa e propõe, agora, mudanças na legislação penal após a
elucidação de uma chacina que causou a morte de quatro garotas no Dia
Internacional da Mulher. Os três acusados de matar as jovens já se
envolveram em outros 16 crimes, pelos quais foram fichados ou presos,
mas depois soltos.
A Secretaria de Segurança Pública fez um estudo com
11 casos recentes e de grande repercussão como este. As estatísticas
mostraram que 34 envolvidos nestes 11 casos somam 120 reincidências.
"Dados do Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança
Pública mostram que a reiteração (reincidência) de crimes chega a 70%",
ressaltou o secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita.
"Faremos
uma campanha mostrando esses dados, vamos defender mudanças na
legislação e que as Forças Armadas assumam a vigilância em fronteiras
brasileiras para barrar armas e drogas, além de mobilização pela
vinculação constitucional de recursos para a segurança pública, como
ocorre com a saúde e a educação", defendeu o governador de Goiás,
Marconi Perillo, que acompanhou a divulgação do estudo.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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