FOLHA DE SP - 03/05
BRASÍLIA - No seu pronunciamento de 12 minutos sobre o Dia do Trabalho, Dilma Rousseff, flertou com uma possível conexão direta entre o governo e os eleitores, prescindindo do Congresso. Foi já no final de sua fala, ao mencionar a reforma política. Ela lembrou aos brasileiros que havia encaminhado a demanda ao Legislativo no ano passado.
"Sem uma reforma política profunda, que modifique as práticas políticas no nosso país, não teremos condições de construir a sociedade do futuro que todos almejamos. Estou fazendo e farei tudo que estiver ao meu alcance para tornar isso uma realidade", disse Dilma.
Aí ela resvalou numa espécie de bonapartismo oblíquo. "Sem a participação popular não teremos a reforma política que o Brasil exige. Por isso, além da ajuda do Congresso e do Judiciário, preciso do apoio de cada um de vocês". Em resumo, pressionem o Congresso. Até aí, tudo bem. Nada mais positivo do que os cidadãos cobrando o Legislativo.
Mas havia no pronunciamento um tom de "se deputados e senadores não fazem a reforma política, vamos fazê-la nós mesmos". Não é à toa que Dilma concluiu assim: "Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um lado: o lado do povo. E quem está ao lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória".
O atraso civilizatório brasileiro fica sempre evidente quando um governante insinua haver atalhos por fora das instituições. Este é um ano eleitoral. Se a reforma política é tão relevante, a presidente e seus aliados podem concentrar parte substancial de suas propagandas na TV sobre o tema. Não farão isso, claro.
A reforma política surgiu na fala de Dilma como uma muleta retórica. Propagou a ideia regressiva segundo a qual "a política e os políticos não prestam" e "quando alguém propõe mudanças, eles não se mexem". Como se o Congresso fosse a fonte de todos os males do país.
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