As
empresas estatais federais, lideradas pela Petrobrás, elevaram seus
investimentos desde a crise financeira global de 2008. Mas fizeram mais
dívidas para bancar as atividades correntes e operacionais, sem
conseguir "puxar" os aportes no setor privado e garantir o efeito
multiplicador esperado pelo governo.
A
estratégia, comprovada em dados inéditos obtidos pelo Estado, deixou
"manca" a política anticíclica adotada nas gestões de Luiz Inácio Lula
da Silva e Dilma Rousseff. Os números, agregados e analisados pelo
economista do Ibre-FGV José Roberto Afonso, mostram que o peso das
dívidas, cujo volume era inexpressivo até 2008, ganhou força no balanço
das estatais, refletindo o endividamento do conjunto dessas empresas.
Curiosamente,
os dados também indicam que as companhias controladas pela União têm
pago cada vez menos impostos, na contramão da maior parte do setor
privado nacional. No conjunto avaliado, os números mostram que as
receitas operacionais das estatais estão em queda e gastos, como
salários, dispararam em razão do serviço da dívida. Mais: as estatais
voltaram a depender da capacidade de gerar recursos próprios para
investir e, em tese, dependem menos de terceiros.
Ou seja, a melhora nos investimentos estatais tem explicação em endividamento e na redução do pagamento de impostos.
Os dados refletem, em grande medida, os projetos da Petrobrás.
Sem
a petroleira, o investimento das demais estatais é muito baixo e oscila
entre estável ou até decrescente, caso da Eletrobrás.
Aumento.
A
série estatística, obtida via portal de serviços do Departamento de
Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) do Ministério do
Planejamento, mostra uma elevação robusta nos investimentos. Nos 18 anos
analisados entre 1995 e 2013, o índice passa de 0,62% para 2,28% do
PIB, segundo cálculo de Afonso e do pesquisador Felipe de Azevedo.
Mas o dado inédito esconde nuances.
Considerados
os últimos cinco anos, desde o estouro da crise no Estados Unidos, a
taxa de investimento das estatais teve expansão de 0,6 ponto porcentual -
a Petrobrás respondeu por 88% desse desempenho. Na outra mão, porém, a
taxa no setor privado recuou 1,8 ponto. Ou seja, o alegado, e desejado,
efeito multiplicador na economia ficou no papel.
Crise.
Quando
se observam detalhes das fontes e dos usos dos aportes estatais
federais, é possível constatar que o impacto da crise foi mesmo
significativo. A taxa de investimento, que subiu até 2010, sofreu um
baque em 2011, primeiro ano do governo Dilma, prejudicada pela redução
das inversões da Eletrobrás.
E
as operações de crédito de longo prazo das estatais, que jogaram papel
importante em 2009, com a megaoperação do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a Eletrobrás, minguaram.
Chegaram a 0,7% do PIB naquele ano, mas recuaram a 0,06% no ano
passado. Isso significa que o crédito financiou gastos correntes em vez
de turbinar projetos de investimento.
Em 2013, houve um forte aumento no autofinanciamento das estatais.
Em 2013, houve um forte aumento no autofinanciamento das estatais.
Ou
seja, passados os efeitos da megacapitalização da Petrobrás, as
estatais voltaram a depender de recursos próprios para investir. "Isso
seria bom sinal se elas não estivessem se endividando para financiar
contas correntes ou operacionais. Assim, o presente custa mais caro que o
futuro, avalia o economista do Ibre.
Dívidas.
Dívidas.
O
endividamento, de fato, cresceu de 0,71% em 2008, para 1,58% no ano
passado. Isso fez saltar de 3% para 10% a fatia das dívidas no balanço
das fontes de recursos das estatais.
As
estatais elevaram suas captações internas e externas: de 11,2% do PIB,
em 2007, para 12,44% no ano passado. Mais crédito significa, porém,
aumento do gasto com o chamado serviço da dívida, que passou a pesar 1%
do PIB no ano passado - em 2005, era 0,68%.
As
receitas operacionais, fontes mais importantes dos recursos das
empresas, estão em trajetória descendente desde 2005 nas estatais.
Minguaram de 10,5% para 9,8%. Ou seja, essas companhias da União não se
beneficiaram da recuperação da economia.
A
explicação se deve, principalmente, à controversa política de controle
de preços dos combustíveis e à atribulada redução das tarifas de
energia, motivo de prejuízos bilionários ao Tesouro Nacional. "A receita
operacional está caindo no longo prazo. Salários, gastos com material e
endividamento estão crescendo", avalia Afonso.
Consultado,
o Ministério do Planejamento informou ao Estado que estava "no processo
de fechamento" dos dados detalhados de investimentos estatais e que
"ainda não está pronto" o chamado Programa de Dispêndios Globais dessas
empresas.
Mauro Zanatta - O Estado de S.Paulo
03 de maio de 2014
03 de maio de 2014
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