O governo de Cristina Kirchner já criava restrições burocráticas
para dificultar as compras de produtos brasileiros com uma meta
específica: evitar a saída de dólares. Os números explicam. Argentina
tem reservas para pagar cinco meses de importações. A título de
comparação, o fôlego do Brasil é de 20 meses.
Com o calote, o
cenário de escassez piora. O argentino Leandro Gonzalez, sócio da
empresa de importação e exportação Sandler & Travis, diz que já há
falta de dólares. "Havia a expectativa de que no segundo semestre a
situação melhoraria. Com o default não creio que vá piorar, mas não vai
melhorar."
Do lado de cá da fronteira, apesar de não haver alarmismo, a sensação de insegurança se espalha. No setor automotivo, por exemplo, entre os executivos até prevalece a sensação de blindagem, porque os dois países acabaram de firmar um novo acordo, que melhora as condições para a Argentina. Ninguém acredita que o governo de Cristina Kirchner cometeria a "loucura" de intervir nos trâmites financeiros das montadoras.
No entanto, um executivo com alto cargo numa montadora, que prefere não ter nome revelado, diz que é preciso ter controle diário dos pagamentos porque há atrasos. "Todo dia morre um de nervoso aqui", diz o executivo. "Numa semana pinga e na outra não."
A indústria automobilística sofre com a recessão. No ano passado, os argentinos compraram 970 mil automóveis. Metade saiu do Brasil. Até junho, as vendas caíram 30%. A expectativa, após o calote, é que fiquem em 500 mil veículos - quase metade do consumo de 2013.
Cautela
Em outros setores, o clima é mais sombrio. A indústria têxtil, que tem a Argentina como principal destino das exportações, redobra a cautela. "Os fabricantes têm uma dúvida: mesmo que o importador tenha dinheiro, quem garante que, após o calote, o BC não vai segurar os dólares?", pergunta Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
O dilema mexeu com as regras na Savyon, fabricante de malhas especiais. Historicamente, a empresa pede um sinal para iniciar a fabricação dos produtos, não importa se para os Estados Unidos, o Canadá ou a França. A mercadoria é embarcada após o banco do cliente enviar o comprovante de pagamento da segunda parcela.
"Com a Argentina também era assim, mas de um ano para cá, começamos a ter problemas", diz o diretor da Savyon, Renato Bitter.
"O cliente mandava o seu banco pagar, mas o Banco Central da Argentina atrasava o envio - uma vez, esperamos uma semana. Após o calote, não vamos enviar os produtos enquanto o dinheiro não cair na nossa conta no Brasil." Em condições normais, o Banco Central argentino precisa de no máximo 48 horas para enviar o dinheiro, mas os atrasos se tornaram constantes.
As indústrias de calçados vão pelo mesmo caminho. A Argentina é o segundo mercado, após Estados Unidos, mas os negócios mínguam. "Vamos embarcar neste ano menos da metade que no ano passado", diz Heitor Klein, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados.
Os calçadistas endureceram. A Bibi, fabricante de calçados infantis, pela primeira vez, em 25 anos, recusa pedidos da Argentina. Dos 120 mil pares encomendados em 2013, 8 mil ainda não tiveram autorização para cruzar a fronteira.
"Calculamos e assumimos o risco de não receber, mas chegamos no limite", diz Rosnei da Silva, diretor administrativo da Bibi. "Vender agora, nas atuais condições, vai além do aceitável - seria como acelerar o carro numa estrada molhada, à noite, sob neblina."
Do lado de cá da fronteira, apesar de não haver alarmismo, a sensação de insegurança se espalha. No setor automotivo, por exemplo, entre os executivos até prevalece a sensação de blindagem, porque os dois países acabaram de firmar um novo acordo, que melhora as condições para a Argentina. Ninguém acredita que o governo de Cristina Kirchner cometeria a "loucura" de intervir nos trâmites financeiros das montadoras.
No entanto, um executivo com alto cargo numa montadora, que prefere não ter nome revelado, diz que é preciso ter controle diário dos pagamentos porque há atrasos. "Todo dia morre um de nervoso aqui", diz o executivo. "Numa semana pinga e na outra não."
A indústria automobilística sofre com a recessão. No ano passado, os argentinos compraram 970 mil automóveis. Metade saiu do Brasil. Até junho, as vendas caíram 30%. A expectativa, após o calote, é que fiquem em 500 mil veículos - quase metade do consumo de 2013.
Cautela
Em outros setores, o clima é mais sombrio. A indústria têxtil, que tem a Argentina como principal destino das exportações, redobra a cautela. "Os fabricantes têm uma dúvida: mesmo que o importador tenha dinheiro, quem garante que, após o calote, o BC não vai segurar os dólares?", pergunta Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
O dilema mexeu com as regras na Savyon, fabricante de malhas especiais. Historicamente, a empresa pede um sinal para iniciar a fabricação dos produtos, não importa se para os Estados Unidos, o Canadá ou a França. A mercadoria é embarcada após o banco do cliente enviar o comprovante de pagamento da segunda parcela.
"Com a Argentina também era assim, mas de um ano para cá, começamos a ter problemas", diz o diretor da Savyon, Renato Bitter.
"O cliente mandava o seu banco pagar, mas o Banco Central da Argentina atrasava o envio - uma vez, esperamos uma semana. Após o calote, não vamos enviar os produtos enquanto o dinheiro não cair na nossa conta no Brasil." Em condições normais, o Banco Central argentino precisa de no máximo 48 horas para enviar o dinheiro, mas os atrasos se tornaram constantes.
As indústrias de calçados vão pelo mesmo caminho. A Argentina é o segundo mercado, após Estados Unidos, mas os negócios mínguam. "Vamos embarcar neste ano menos da metade que no ano passado", diz Heitor Klein, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados.
Os calçadistas endureceram. A Bibi, fabricante de calçados infantis, pela primeira vez, em 25 anos, recusa pedidos da Argentina. Dos 120 mil pares encomendados em 2013, 8 mil ainda não tiveram autorização para cruzar a fronteira.
"Calculamos e assumimos o risco de não receber, mas chegamos no limite", diz Rosnei da Silva, diretor administrativo da Bibi. "Vender agora, nas atuais condições, vai além do aceitável - seria como acelerar o carro numa estrada molhada, à noite, sob neblina."
Fonte: Estadão Conteúdo Jornal de Brasília
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