quinta-feira, 23 de outubro de 2014

BRASIL do PT .Escolas cercadas pelo medo


Em Santa Maria, escola está cercada pelo medo

CEF 209, onde houve tiroteio, pede patrulhamento permanente, mas pedido nunca foi atendido

ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br

Após um tiroteio ocorrido na tarde de  terça-feira, em frente ao Centro de Ensino Fundamental 209 de Santa Maria, a rotina de estudantes, professores e moradores da região volta aos poucos ao normal. A sensação de medo e insegurança é geral, apesar de não ser a primeira vez que um crime deste tipo ocorre ali – em março um estudante foi baleado dentro da escola. Por medida de segurança, dois homens do Batalhão Escolar (1º BPM) permaneceram no colégio durante todo o dia de ontem. Ainda assim, os docentes reclamam da falta de policiamento  e dizem que já solicitaram que uma equipe fique permanentemente nas redondezas, mas não foram atendidos. 

De acordo com a Secretaria de Educação, há 654 escolas públicas e 21 creches do Distrito Federal. São 472 mil estudantes e  32 mil professores no quadro de pessoal. Sem contar com os seis mil professores temporários, os 11,5 mil servidores administrativos e os 7,3 mil funcionários terceirizados: um montante de quase 600 mil pessoas circulando nas escolas públicas do DF diariamente. 

Números não revelados
Questionada sobre o quantitativo de policiais e viaturas em atividade no Batalhão Escolar, a Polícia Militar informou que “por motivos estratégicos não pode revelar esses números”, mas garante que são suficientes para atender as demandas de cada cidade. Afirmação da qual professores e funcionários do CEF 209 discordam.

“As brigas entre gangues e os assaltos a alunos e professores são frequentes. Já solicitamos que homens do Batalhão Escolar fiquem permanentemente na escola, mas não somos atendidos. Eles dizem que não têm pessoal e viaturas suficientes”, afirma a coordenadora pedagógica Mércia Braz. 

Segundo ela, traficantes, assaltantes e integrantes de gangues da região  conhecem toda a rotina da escola. “São pessoas da área, rostos conhecidos. Muitos alunos já tiveram celulares roubados ou foram agredidos física ou moralmente por eles. No dia do tiroteio, alguns estudantes chegaram a  reconhecer os suspeitos”, conta. 

Expostos à violência
Alunos do CEF 209 dizem estar acostumados à rotina de crimes.    G., 13 anos, aluna do 8º ano, sente muito medo. “Eu estava saindo da aula quando tudo aconteceu. Alguns alunos que estavam entrando na escola para o turno da tarde voltaram para casa assustados. O clima hoje (ontem) está bem tenso. Todos de sobreaviso. Os assaltos aqui na frente são frequentes, as brigas de gangue também, mas não podemos encarar isso com naturalidade”, reclama. 

E., de 14 anos, estudante do 6º ano, lembra que os tiroteios não são tão raros assim. “Já teve tiroteio até aqui dentro! Além disso, quase todo mundo aqui já foi vítima de algum tipo de violência. Tenho certeza que um dos envolvidos na confusão de terça já me assaltou”, acredita.

A dona de uma padaria em frente à escola confirma a versão dos alunos. “Essa já   a terceira briga de gangue   neste ano. Durante o tiroteio,  fiquei muito assustada e alguns alunos correram para cá”, lembra.

Menina atingida passa bem
Durante o tiroteio na última terça-feira, três pessoas foram baleadas. Ainda não se sabe quem fez os disparos, mas a polícia acredita que até cinco pessoas possam estar envolvidas na suposta tentativa de homicídio. 
Entre os atingidos está uma aluna da escola, de 13 anos. Na manhã de ontem, a família da estudante procurou a direção do colégio e informou que a jovem – que foi encaminhada ao Hospital Regional de Santa Maria com uma bala alojada nas costas – foi submetida a um procedimento para a retirada do projétil, mas já voltou para casa e passa bem.

Não há informações sobre o estado de saúde dos outros dois menores baleados, de 13 e 14 anos, respectivamente. Segundo o Batalhão Escolar, porém, eles são velhos conhecidos da corporação, já ameaçaram policiais nas redes sociais, divulgaram fotos com armas na internet e têm passagens pela polícia. Ainda segundo os policiais, um outro adolescente suspeito, de 17 anos, está em liberdade assistida. 

Investigação
Procurada, a Polícia Civil se limitou a dizer que a 33ª Delegacia de Polícia, responsável por Santa Maria, investiga o caso e que “não há novidades”. Questionada sobre a situação do rapaz de 17 anos, foragido até a noite desta terça-feira, a assessoria de comunicação não informou se ele já foi apreendido. A pasta também não esclareceu se os menores de 13 e 14 anos, atingidos por disparos, já foram liberados do Hospital Regional do Gama (HRG) e estão presos. 

A Polícia Militar informou que o batalhão responsável pela região de Santa Maria é o 26º BPM. Segundo a corporação, a filial conduz operações diárias na região, auxiliada por   unidades operacionais  como  Rotam, Bope e Batalhão Escolar.

“As operações são realizadas de surpresa. Nelas, um grupo de policiais utiliza cães farejadores - inseridos nas salas de aula à procura de armas e drogas - enquanto outro grupo atua na área externa, abordando suspeitos e orientando a população”, declarou.

A PM orienta   a nunca reagir a uma agressão ou tentativa de assalto. Além disso, ao identificar um suspeito, o cidadão deve ligar para a central de atendimento 190 e informar suas características, afim de que uma viatura policial próxima possa abordá-lo e identificá-lo.  


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