Técnico de informática revela à Justiça que editou os vídeos filmados por Durval Barbosa
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
Um depoimento revelador, mostrado na íntegra na coluna do Mino Pedrosa, na edição de ontem, no Jornal de Brasília, pode influenciar o andamento do processo que investiga réus do esquema deflagrado pela Operação Caixa de Pandora. As declarações são do técnico em informática Francinei Bezerra, que afirma ter editado, a pedido de Durval Barbosa, as imagens usadas como prova contra os réus.
No depoimento prestado ao juiz da 2ª Vara de Fazenda Pública, Álvaro Ciarlini, na sexta-feira, Bezerra teria confirmado as modificações nos vídeos. Ele também teria dito que já havia prestado depoimentos para a procuradora federal Raquel Dodge e para o promotor Wilton Queiroz, chefe do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em 2010 e neste ano. Tais relatos, no entanto, não teriam sido anexados ao processo.
Segundo Bezerra, o “trabalho” realizado nos vídeos tinha o objetivo de preservar as partes interessantes a Barbosa, com cortes nas imagens, foco nas passagens julgadas importantes por ele, desfoque nas cenas que mostravam o local onde eram realizadas as reuniões e colocação de tarjas pretas, a fim de impedir a identificação de pessoas que teriam participado dos encontros. Ele garante, porém, que as edições não teriam provocado alterações significativas nos diálogos.
As modificações teriam sido feitas tanto nos vídeos que contêm imagens do ex-governador José Roberto Arruda – inclusive na parte em que ele aparece recebendo um suposto maço de notas, que conteria R$ 50 mil em espécie - quanto da deputada federal Jaqueline Roriz.
“Ações Sociais”
Para o advogado de Arruda, Edson Smaniotto, uma parte primordial do vídeo também teria sido subtraída nas edições. “Ele retirou a parte que explica que o dinheiro recebido por Arruda era para ações sociais”.
Ele teria ido duas vezes ao MP
Se a Justiça já tivesse conhecimento das alterações nos vídeos, é possível que Arruda não tivesse tido a candidatura impugnada nas últimas eleições, argumenta Smaniotto: “Lamentamos o fato de Bezerra já ter prestado depoimentos anteriores que não foram anexados ao processo. Isso poderia ter modificado não só o processo judicial como a corrida eleitoral”.
Ele comemora, no entanto, a confirmação da manipulação das imagens. “Agora, temos certeza de que os vídeos foram alterados e vamos tomar as providências legais para que tal fato seja investigado”.
Para o advogado de Jaqueline Roriz, Paulo Emílio Catta Preta, causou estranheza o fato de Bezerra já ter prestado depoimentos duas vezes sem que isso chegasse ao conhecimento das defesas dos réus e do Judiciário: “A grande surpresa é o depoente ter afirmado que já esteve no MP duas vezes e isso não ter sido anexado ao processo, nem o Judiciário tinha conhecimento da existência dessas declarações”.
Sonegação de provas
Para o advogado, a omissão indica uma tentativa de sonegação de provas para a defesa. “Se tivéssemos conhecimento desses depoimentos antes, faríamos outras inferências, que poderiam mudar os rumos do processo”, acredita.
A reportagem não conseguiu encontrar Barbosa para comentar o assunto. O MP também foi procurado, mas sem sucesso.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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