sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Depois da trapalhada, a escolha de Dilma. Ou: É preferível a hipocrisia escolhendo a racionalidade à irracionalidade escolhendo a coerência



A presidente Dilma Rousseff pode anunciar, a qualquer momento, o nome do futuro ministro da Fazenda, que, na prática, poderá ser considerado o atual ministro, uma vez que Guido Mantega não está mais entre nós. Agora, ele chegou à fase de dizer coisas incompreensíveis, a exemplo de sua leitura otimista da economia, feita há dois dias. O estoque de piadas nessa área já se esgotou e ninguém mais ri.


Tudo indica que o trio que vai cuidar da economia será Nelson Barbosa, ex-secretário-geral da Fazenda; Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro, na gestão Lula; e Alexandre Tombini, que continuaria à frente do Banco Central. Este já demonstrou que pode ser, como é mesmo?, “independente” na medida certa. Barbosa foi chamado hoje ao Palácio. Tem mais o perfil de um formulador de política econômica. O que parece, em princípio, não se encaixar muito no figurino é Levy como ministro do Planejamento. Vamos ver.


De qualquer modo, essa possível configuração se dá depois de uma lambança dos diabos, envolvendo o nome de Luiz Carlos Trabuco, presidente executivo do Bradesco. 


Era um nome que agradava tanto a Dilma como a Lula, mas se dava como certo no mercado que Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração do banco, não concordaria com a solução ainda que Trabuco quisesse, o que também não era líquido e certo. O atual presidente executivo do Bradesco está sendo preparado para assumir o lugar de “Doutor Brandão”, comandante inconteste do gigante.


A trapalhada foi enorme e indica que a área política de Dilma não é melhor do que a econômica. É claro que as sondagens deveriam ter sido feitas com a devida discrição — e não foi Trabuco quem vazou, que fique claro —, para evitar que a presidente tivesse de ouvir um “não”. Era um trabalho para Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil. Mas ele continua a ser mais o problema do que a solução.


O mercado reagiu bem à possibilidade de Dilma indicar Barbosa ou Levy para a Fazenda. O primeiro é considerado um técnico prudente; o segundo conta, vamos dizer, com o entusiasmo ideológico da turma.


Não deixa de ser curioso: na economia, Dilma acena com uma saída mais ortodoxa. No Ministério do Desenvolvimento, deve ficar com Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da CNI. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil), será a ministra da Agricultura. Para quem liderou uma campanha que procurou radicalizar à esquerda, tem-se uma guinada e tanto, não é mesmo?


Convenham: é preferível a hipocrisia escolhendo a racionalidade à irracionalidade escolhendo a coerência. 


Por Reinaldo Azevedo

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