O patrimonialismo não é novidade no
Brasil. Ao contrário: é sua essência. Tratar a coisa pública como
privada tem sido a marca de nossa política há séculos. Mas a novidade é a
chegada ao poder de um partido cuja própria essência é diferente, por
endossar a máxima leninista de que os “nobres” fins justificam quaisquer
meios.
A mistura entre ambos foi explosiva. O resultado está aí.
Eduardo Giannetti, em sua coluna
de hoje na Folha, fala do patrimonialismo, e do
nacional-desenvolvimentismo petista que conseguiu destruir as duas
principais estatais do país. Diz ele:
O
paradoxo salta aos olhos. Temos um governo de perfil estatizante, cioso
da sua orientação nacional-desenvolvimentista, mas que logrou a proeza
de arrebentar nossas duas principais empresas estatais. Obra de raro
descortino.
[...]
Os caminhos
do inferno, é claro, diferem. A ruína da Eletrobras foi fruto das boas
intenções do governo Dilma (o setor elétrico, aliás, teria sido o tema
da dissertação de mestrado da presidente na Unicamp), ao passo que a
devastação da Petrobras resulta, entre outras coisas, da ação articulada
de profissionais: uma quadrilha de empreiteiros, burocratas, lobistas e
dezenas de políticos que conferiu ao lema getulista –”o petróleo é
nosso”– inédito e inadvertido significado.
Mas existe
um substrato comum a esses descalabros. Ambos refletem a deformação
patrimonialista do Estado brasileiro –”o capitalismo politicamente
orientado”, no dizer de Raymundo Faoro em “Os Donos do Poder”, que
aportou por aqui com as caravelas, atravessou cinco séculos de história e
foi alçado a novo patamar no atual governo.
O microgerenciamento e a tutela estatal
sobre a atividade econômica criaram um clima ainda mais hostil ao
empreendedorismo, aos investimentos. A simbiose promíscua entre grandes
empresas e estado afugentou as empresas sérias, que precisam sobreviver
com base na competitividade no livre mercado. Cooptar os burocratas e
governantes passa a ser o melhor “investimento” no país.
E a corrupção, claro, tende a aumentar
muito quando o governo se intromete mais e mais na economia. O
patrimonialismo tem tudo a ver com isso. Quando se encontra com o
marxismo petista, cuja natureza é justificar o mal como necessário para o
triunfo do “bem”, sai de baixo! É o que mostra Reinaldo Azevedo em sua coluna no mesmo jornal:
A máfia é
uma organização criminosa privada que busca se apoderar do Estado,
infiltrando-se na política, na polícia e na Justiça. O alvo são os
negócios. No Brasil, assistimos a algo um pouquinho diferente.
Primeiro a
“organização” se encarregou de dominar aparelhos influentes:
universidades, movimentos sociais, imprensa etc., promovendo a guerra
cultural, de modo a subverter valores comezinhos. Depois veio o domínio
do aparelho de Estado, por meio de eleições. A exemplo da máfia
tradicional, o alvo também eram os negócios. É claro que me refiro ao
PT.
[...]
É
preciso recuperar a cadeia virtuosa da civilização que importa: menos
Estado, menos corrupção, menos pobreza, mais liberdade. Ou é isso, ou o
PT ainda se orgulhará de 100 milhões de pessoas no Bolsa Família,
enquanto R$ 21 bilhões da Petrobras desaparecem no ralo da
sem-vergonhice.
Enfim, o casamento entre nosso
tradicional patrimonialismo com a postura mafiosa do PT, disposto a
justificar tudo com base em suas “lindas” intenções, temos a garantia de
uma desgraça. Afinal, o partido não terá limites no abuso da coisa
pública para avançar mais e mais rumo a um projeto totalitário de poder.
No caminho, deixará um rastro de destruição. Inclusive de nossas
estatais…
Rodrigo Constantino
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