sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Petrolão Renato Duque agora diz que dinheiro de empreiteira foi por ‘consultoria’



Ex-diretor ligado a José Dirceu chama de ‘consultoria’ o que a PF acredita ser propina
Publicado: 20 de novembro de 2014 às 22:08 - Atualizado às 0:36

Renato Duque Policia Federal copy
O ex-diretor da Petrobras Renato Duque tenta explicar a origem da dinheirama que a polícia encontrou em seu poder


O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou em depoimento à Polícia Federal que recebeu R$ 1,6 milhão da empreiteira UTC por uma consultoria.


Ele é apontado por integrantes do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato como beneficiário de propinas pagas por empreiteiras para obter contratos com a petroleira estatal. A UTC é uma das empreiteiras investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público sob suspeita de integrar o esquema. Seu presidente, o executivo Ricardo Ribeiro Pessoa, está preso desde a última sexta-feira.


No depoimento, prestado na segunda-feira, 17 de novembro, Renato Duque afirmou que se “auto impôs” uma quarentena ao deixar o cargo que tinha na Petrobras em abril de 2012. Depois disso, relatou, começou a trabalhar como consultor em janeiro de 2013, usando uma empresa que já tinha constituída antes de sair da estatal.


A consultoria de R$ 1,6 milhão dada à UTC, disse Duque, serviu para capacitar a empresa a entrar numa licitação para operar plataformas flutuantes. “Apesar disso, a UTC perdeu a licitação no ano de 2013″, registrou. O valor foi recebido, de acordo com ele, “em vários pagamentos de valor menor” feitos à empresa D3TM que também é investigada pelas autoridades e teve seu sigilo quebrado a pedido do juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal de Curitiba.


O relato do depoimento de Duque permite saber que ele teve ao menos mais um contrato com a UTC, mas não revela o valor desse negócio. “Outro contrato de consultoria se deu com a UTC Óleo e Gás (…) tendo auxiliado na elaboração da proposta e o estudo das melhores alternativas”. Segundo o relato, nesse caso a UTC conseguiu o contrato que almejava.


O ex-diretor negou no depoimento ter recebido propinas e desconhecer o esquema relatado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa à Polícia Federal. Segundo Costa, contratos da estatal com empresas eram acrescidos de 3% para sustentar os valores desviados. Duque disse aos policiais que está processando Costa por crime de calúnia.


Cosenza
Em outro momento do interrogatório, é feita a Duque uma pergunta que aparece nos depoimentos de outros cinco executivos presos na última sexta-feira e que suscitou polêmica ao longo da semana.



 Trata-se da pergunta em que a própria PF revela o suposto envolvimento do atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, entre os suspeitos de receber “comissões” das empreiteiras. Na quarta-feira, 19, a Polícia Federal disse que o nome de Cosenza foi mencionado por “erro material” nos depoimentos e que não há elementos que o comprometam nos autos do processo.



O interrogatório de Duque, porém, indica que Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef mencionaram Cosenza. “Indagado sobre a afirmação de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef em tal interrogatório judicial de que havia o pagamento de comissões pelas empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras para eles, o interrogado, diretores Cerveró e Cosenza (…), o declarante afirma que não recebia comissões.”


Petista
Duque disse no interrogatório que conheceu o tesoureiro do PT, João Vaccari, em 2010, “em um evento social em São Paulo”. Vaccari é suspeito de ser o arrecadador do PT no esquema investigado pelas autoridades.


O ex-diretor afirmou que criou “empatia” com o petista e, por “amizade”, passou a ter encontros com ele, sempre em caráter social. Caracterizou Vaccari como “pessoa agradável para o convívio”, principalmente em jantares no Rio de Janeiro e em São Paulo. Disse ainda nunca ter se encontrado com Vaccari na Petrobras.

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