sexta-feira, 7 de novembro de 2014

“Essa história de cortar ministério é lorota”, diz Dilma



A presidente Dilma parece não ter caído na real ainda. Devem ser os resquícios da campanha eleitoral e do mundo mágico criado por João Santana. Ela deve ter acreditado nele! Em entrevista para os principais jornais, a presidente disse:


Vamos fazer o dever de casa, apertar o controle da inflação e teremos limites fiscais. Vamos reduzir os gastos. Vamos olhar todas as contas com lupa e ver o que pode ser reduzido e o que pode ser cortado. Temos que fazer um ajuste em várias coisas, várias contas podem ser reduzidas. Minha visão de corte de gastos não é similar àquela maluca de choque de gestão.


Dever de casa não é “olhar com lupa” os gastos, e sim efetivamente “cortar na carne”, ou seja, executar um severo ajuste fiscal e resgatar a credibilidade das contas públicas, hoje no vermelho. O superávit fiscal foi abandonado. O Brasil já tem déficit duplo, tanto na conta corrente como fiscal. A poupança externa não vai nos financiar para sempre, ao menos não nas mesmas condições.


Conforme argumentaram Felipe Salto e Rafael Cortez, ambos da consultoria Tendências, em artigo publicado hoje na Folha, o ajuste fiscal é o caminho para o retorno do crescimento. “A política fiscal austera foi a principal vítima da atual gestão macroeconômica. A retomada da racionalidade dos gastos públicos é essencial para criar as bases de um novo círculo virtuoso. Executar essa tarefa, no entanto, não será simples”, escrevem.


Não será mesmo. Mas se Dilma pensa que pode levar no papo, apenas com palavras, está muito enganada. Os investidores vão cobrar ações, medidas concretas, dados sem malabarismos contábeis. Os especialistas concluem:


O esgarçamento da questão fiscal será um dilema central do segundo mandato de Dilma. A falta de rigor na gestão dos gastos públicos pode prejudicar ainda mais o andamento da atividade, com reflexos em juros, emprego, inflação e financiamento do deficit externo (como já acontece hoje).


O desempenho econômico não é expressão de uma “herança maldita” do mundo, mas resultado de escolhas domésticas erradas. Definir prioridades é tarefa da presidente e, ao que tudo indica, uma mínima reversão da expansão desmedida dos últimos anos deverá ocorrer.


O problema é que se for uma “mínima reversão” não será suficiente. Dilma disse claramente que “choque de gestão” é algo maluco, e ainda acrescentou que “essa história de cortar ministério é lorota”. Não se deu conta do tamanho do problema ainda. Acha que poderá empurrar com a barriga por mais quatro longos anos?


Doce ilusão. Vem rebaixamento do Brasil pelas agências de risco aí, podem anotar. É questão de tempo. O clima internacional também mudou, o Congresso americano nas mãos dos Republicanos não vai tolerar tanto estímulo do governo, a China já não cresce na mesma velocidade, as commodities despencaram de valor:


CRB: índice de commodities. Fonte: Bloomberg
CRB: índice de commodities.
Dilma tem um cenário bastante delicado à frente. Se acha que dá para disfarçar, está redondamente enganada. A crise está contratada, e com a economia em recessão, a inflação em alta e o desemprego subindo, a rejeição ao seu governo atingirá picos históricos. Somado ao escândalo do Petrolão, isso representa um obstáculo incrível ao seu governo.

Se Dilma não acordar e o “mercado” a colocar em corner, é possível que ela nem termine seu segundo mandato…

Rodrigo Constantino

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