O
governo Dilma chegou àquela fase em que decide brigar com a régua
porque não gosta do que ela aponta. Acha que o mal está no metro, não na
coisa medida. O IBGE passou a ser alvo do assédio explícito de dois
ministros do governo Dilma: Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Tereza
Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Muito a seu estilo
— gosta de falar antes e ponderar depois —, Mercadante anunciou, tudo
indica que por conta própria, que o IBGE iria rever os dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que orientaram a síntese
feita pelo Ipea, que levaram à conclusão de que houve um aumento da
miséria de 2012 para 2013.
Pois é… Informa João Carlos Magalhães, na Folha Online,
que o instituto não vai rever dado nenhum.
O ministro não aceita, por
exemplo, que tenha subido o número de miseráveis, que passaram de 10,08
milhões, em 2012, para 10,45 milhões em 2013. Esses dados foram
represados durante as eleições.
Mercadante
acredita que parte das pessoas que estão entre os sem-renda
simplesmente deixou de declará-la.
Segundo ele, essa informação é
incongruente com dados sobre patrimônio.
Disse o ministro: “Nós queremos
que o IBGE analise com mais profundidade a amostra. Porque todos os
outros índices mostram que a pobreza caiu, e esse indicador de renda
zero pode ter algum problema metodológico. [...] Estamos fazendo essa
advertência”.
Em nota, o
IBGE deu uma pequena aula sobre amostra e estatística para o economista
Mercadante — um pouco humilhante, eu diria, mas ele merece:
“Por [a
Pnad] ser amostral, o total de indivíduos sem declaração de rendimentos
tem flutuação anual diferenciada.
Além disso, uma parcela também
anualmente distinta dos informantes se recusa a prestar informação sobre
a renda. Os métodos para os cálculos com a variável renda e as demais
variáveis devem, portanto, considerar as possíveis flutuações existentes
nas variáveis utilizadas.
A Pnad 2013 seguiu a sua metodologia de
coleta das informações como planejada e seus resultados não serão
revisados pelo IBGE”.
Chego a ficar com um pouco de pena de Mercadante. O IBGE, em síntese, está dizendo cinco coisas óbvias ao doutor em economia:
1: o método já leva em conta os que decidem omitir a sua renda;
2: se omissões dessa natureza aconteceram em 2013, dado que o método é o mesmo, também aconteceram em 2012;
3: só se podem confrontar grandezas dessa natureza empregando-se o mesmo método;
4: quer
dizer que Mercadante aprova o método de 2012 (que chegou a menos
miseráveis) — e o de anos anteriores, mas não o de 2013 (que chegou a
mais)? Ocorre que o método é o mesmo;
5: estaria
sugerindo o ministro que o método serve quando serve ao proselitismo do
governo e não serve quando ele não sai bem na fita?
Ainda bem que o IBGE decidiu resistir ao assédio. A qualidade da contestação é rasteira.
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