segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A culpa é nossa

AQUECIMENTO GLOBAL  

 

BLOG PLANETA SUSTENTÁVEL

O mais contundente estudo sobre as mudanças climáticas conclui, em definitivo: a ação do homem aquece o planeta e, com isso, o destrói. Mas ainda podemos reverter a situação


A última parte do quinto relatório do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, reafirma, desta vez com ainda mais dramaticidade, quão severas são as consequências para o planeta dos excessos do comportamento humano. Lançado No começo de outubro, o documento, com ênfase nos efeitos do aquecimento global, conclui um trabalho realizado por mais de 800 pesquisadores de todo o mundo ao longo de cinco anos.

Sobressaem três pontos fundamentais. Primeiro: os milhares de dados que relacionam ações do homem às mudanças climáticas tornam inegável nossa culpa no descompasso do planeta. O IPCC afirma que a probabilidade de essa informação estar correta é de 95%. Segundo: apesar da saudável e sensata cultura de sustentabilidade que se espalhou na sociedade, tanto na iniciativa privada quanto na pública, continuamos a aumentar o ritmo de emissão de dióxido de carbono (o CO2), o grande vilão da história, a uma taxa alarmante.

Terceiro: é preciso cortar entre 40% e 70% das emissões globais até 2050, e em 100% até 2100, para assegurar um futuro suportável. Disse o climatologista indiano Rajendra Pachauri, presidente do IPCC: "Para evitar o caos, sabemos que temos de mudar de forma drástica. Há pouco tempo pela frente antes que não tenhamos mais a oportunidade de permanecer abaixo dos 2 graus de aquecimento".

Mesmo nesse cenário de menos de 2 graus, a esperança de Pachauri (e de todos os que prezam pela saúde do planeta) para o amanhã, haverá consequências (confira no infográfico abaixo). Felizmente, os estragos são mitigáveis. Se continuarmos a emitir CO2 na quantidade atual, estima-se que a temperatura global se eleve em 4,8 graus até o fim do século. Isso faria diminuir a produção agrícola mundial a ponto de a fome se espalhar (o cultivo de soja na região amazônica, por exemplo, teria uma queda de 44% da produção até 2050, e seria impossível plantar café no sudeste do país até o fim do século).

O ritmo de extinção de espécies de animais e vegetais assumiria contornos irreversíveis. Em 2080, o número de pessoas sem acesso a água potável de qualidade se tornaria 38% maior do que era na década de 80. Em locais onde tempestades seriam intensificadas, como no Brasil, as enchentes se multiplicariam. Soa apocalíptico, e talvez seja mesmo, se não houver um freio, ancorado nos extraordinários avanços da pesquisa científica em busca, sobretudo, de fontes alternativas de energia.

"Mesmo se as emissões de CO2 cessassem hoje, sofreríamos", disse a VEJA o climatologista peruano José Marengo, do IPCC. O Ártico deve ver sumir espécies endêmicas da região, um dos atalhos para a mudança definitiva do ecossistema.


Áreas da Amazônia devem se transformar em savanas similares às africanas. A acidificação dos oceanos já destrói recifes, que podem desaparecer quase que por completo. E esse é o cenário ameno, ao qual só chegaremos com o corte total de emissões de gases de efeito estufa ainda neste século. Mas, afinal, é possível atingir esse objetivo, em uma sociedade tão dependente da queima de combustíveis fósseis? O relatório do IPCC, apesar das tintas sombrias, é otimista.

Para atingir a meta, é necessária uma mudança de cultura e de comportamento de governos, e também de indivíduos. Já há tecnologias capazes de implementar fontes de energia alternativa em larga escala. Segundo a Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos, todo país do mundo tem ao menos um recurso renovável abundante que poderia ser usado. Um relatório do órgão prevê que essa é a situação dos próprios Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa. Se seguirem planos sustentáveis, os americanos devem dobrar o uso de energias solar, eólica e geotérmica até 2040. A China, o maior emissor, agora lidera também em investimentos em fontes renováveis. No ano passado, injetou 56,3 bilhões de dólares em obras nesta área, o equivalente a 61% dos gastos de países emergentes. No Brasil, a meta será atingida apenas se o mal maior, o desmatamento, especialmente o da Amazônia, for interrompido.

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, deixou um recado: "A ciência se pronunciou, o tempo não está ao nosso lado e os líderes devem agir". Na primeira semana de dezembro, os governantes se reunirão em uma nova edição da Cúpula do Clima (COP), no Peru, para definir políticas sustentáveis. O evento é anual, mas a expectativa é grande, porque se construirão ali as linhas gerais do tratado a ser assinado em 2015 na Cúpula de Paris, substituto do Protocolo de Kyoto, publicado nos anos 90 e que regula as emissões globais de gases de efeito estufa.


Mesmo diante das evidências, muitos cientistas ainda defendem a tese de que o aquecimento não é causado pelo homem, mas sim por ciclos naturais da Terra. Ressalte-se que as medidas cautelosas que pretendem conter as mudanças climáticas são benéficas de qualquer forma. Agir com responsabilidade é um generoso aceno a todos os ecossistemas, à manutenção da qualidade de reservas de água (cada vez mais escassas) e do ar que respiramos. O zelo ambiental faz a sociedade mais rica tecnologicamente. Cuidar é sinônimo de inteligência.

Uma síntese para incomodar Tasso Azevedo - 

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O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) publicou, no último domingo, a quarta e última parte do seu 5o Relatório de Avaliação sobre Mudanças Climáticas (AR5 – Fifth Assessment Report ), o chamado Relatório Síntese reúne e alinha as informações das três partes do relatório já lançadas:

- Ciência do Clima (set, 2013),
- Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades (março, 2014) e
- Mitigação das Mudanças Climáticas (abril, 2014)
e produz uma nova leitura integrada do estado da arte do entendimento sobre as mudanças climáticas.


O resultado incomoda pela contundência ao relatar as mudanças do clima já em curso e os impactos sobre as pessoas e a vida em todo planeta e a necessidade de esforço para limitar emissões de gases de efeito estufa (GEE) muito mais drástica do que a apontada em qualquer outro relatório anterior.


Este incômodo precisa servir de inspiração para acelerar a implementação de ações de adaptação e mitigação já e aumentar o nível de ambição ao limite para dar forma ao novo acordo climático global a ser fechado na Conferência de Paris – COP21, em 2015.


O resumo para tomadores de decisão em políticas públicas (Summary for Police Makers) do Relatório Síntese merece ser lido por todos os envolvidos com o desenvolvimento de estratégias em empresas, organizações não-governamentais e governo.


A seguir os principais pontos do Relatório Síntese do 5º Relatório do IPCC:


1. MUDANÇAS OBSERVADAS E SUAS CAUSAS
A influência humana sobre o sistema climático é clara, e o registro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa recentes é o maior da história. As recentes mudanças climáticas tiveram impactos generalizados sobre os sistemas humanos e naturais.


O aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde os anos 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes ao longo de décadas a milênios. A atmosfera e o oceano têm aquecido, as quantidades de neve e gelo têm diminuído e o nível do mar subiu.grafico1
Cada uma das três últimas décadas tem sido sucessivamente mais quentes na superfície da Terra do que qualquer década anterior desde 1850. O período de 1983 a 2012 foi provavelmente o mais quente no período de 30 anos dos últimos 1.400 anos no Hemisfério Norte.

Essa avaliação só é possível nesse hemisfério pela disponibilidade de dados históricos. Os dados de temperatura médias globais – combinadas superfícies terrestres e oceânicas -, calculadas por uma tendência linear, mostram aquecimento de 0,85 oC durante o período de 1880-2012.


Da energia retida pelo aumento da concentração de GEE na atmosfera, 90% está acumulando nos oceanos. Mais de 1/3 do carbono que emitimos está sendo absorvido pelo oceano, causando sua acidificação (26% em relação à era pré-industrial).

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As emissões antropogênicas de gases de efeito de estufa aumentaram desde a era pré-industrial, impulsionado em grande parte pelo crescimento econômico e populacional e, agora, estão maiores do que nunca. Isto levou as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que são sem precedentes, pelo menos, nos últimos 800 mil anos.


Seus efeitos, juntamente com os dos outros fatores antrópicos, foram detectados em todo o sistema climático e são a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20.


Metade das emissões entre 1750 e 2011 aconteceu nos últimos 40 anos. As emissões acelerarão entre 2000-2010 (2,2% a.a.) em relação ao período 1970-2000 (1,3% a.a.).

Nas últimas décadas, as mudanças climáticas têm causado impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e através dos oceanos. Impactos são devido às alterações climáticas observadas, independentemente de sua causa, o que indica a sensibilidade dos sistemas naturais e humanos para a mudança climática.


Mudanças na frequência, intensidade e duração de eventos meteorológicos e climáticos extremos têm sido observadas desde 1950, incluindo extremos de calor e frio, eventos de seca e de excesso de chuva.


2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS, RISCOS E IMPACTOS


A contínua emissão de gases de efeito estufa causará mais aquecimento e mudanças de longa duração em todos os componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de impactos severos, invasivos e irreversíveis para as pessoas e os ecossistemas. Limitação das alterações climáticas exigiria reduções substanciais e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa, que, juntamente com a adaptação, pode limitar os riscos das mudanças climáticas.


Em grande parte, emissões acumuladas de CO2 determinam aquecimento médio da superfície global no final do século 21 e além. E há projeções que indicam que as emissões de gases de efeito estufa podem variar em uma ampla faixa, dependendo tanto da política de desenvolvimento e do clima socioeconômico.


A temperatura da superfície deverá aumentar ao longo do século 21 em todos os cenários de emissões avaliadas. É muito provável que as ondas de calor ocorram com mais frequência e durem mais tempo, e que os eventos extremos de precipitação vão se tornar mais intensas e frequentes em muitas regiões.  


O mar vai continuar a aquecer e a acidificar e seu nível global a subir.
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A mudança climática vai amplificar os riscos existentes e criar novos riscos para os sistemas naturais e humanos. Os riscos são distribuídos de forma desigual e são, geralmente, maiores para as pessoas desfavorecidas e as comunidades em países de todos os níveis de desenvolvimento.


Muitos aspectos das mudanças climáticas e impactos associados continuarão a agir por séculos, mesmo se as emissões antrópicas de gases de efeito cessarem por completo. Os riscos de mudanças abruptas ou irreversíveis aumentam à medida que se amplia o aquecimento.


3. CAMINHOS PARA ADAPTAÇÃO, MITIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Adaptação e mitigação são estratégias complementares para reduzir e gerir os riscos da mudança climática. Reduções substanciais de emissões ao longo das próximas décadas podem reduzir os riscos climáticos no século 21, aumentar as perspectivas de adaptação eficaz e reduzir custos e desafios de mitigação em longo prazo.


A tomada de decisão eficaz para limitar as alterações climáticas e seus efeitos pode ser informada por uma ampla gama de abordagens analíticas para avaliar riscos e benefícios esperados, reconhecendo a importância da governança, as dimensões éticas, equidade, juízos de valor, avaliações econômicas e diversas percepções e respostas ao risco e à incerteza.


Sem os esforços de mitigação adicionais além daquelas em vigor hoje – e mesmo com a adaptação -, o aquecimento até o final do século 21 vai levar à multiplicação dos riscos de impactos graves, generalizados e irreversíveis em todo o mundo.


A mitigação envolve cobenefícios e risco de possíveis efeitos colaterais adversos, mas estes riscos não se comparam aos impactos graves, generalizados e irreversíveis como riscos da mudança climática, aumentando os benefícios dos esforços de mitigação de curto prazo.


Clique no gráfico abaixo para ver os detalhes:
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A adaptação pode reduzir os riscos de impactos das mudanças climáticas, mas há limites para sua eficácia, especialmente em casos de maiores magnitudes da mudança climática. Por isso, quanto antes for implantada, aumentará as futuras opções de adaptação e preparação.


Ainda existem caminhos possíveis para limitar o aquecimento em níveis abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais. Para trilhá-los, é preciso reduzir substancialmente as emissões de GEE até meados do século e quase nulas até o final do século.


A implementação de tais reduções nos coloca diante de desafios tecnológicos, econômicos, sociais e institucionais substanciais, que aumentam com atrasos na implementação das ações e do desenvolvimento das principais tecnologias ainda não disponíveis em escala comercial.


4. ADAPTAÇÃO E MITIGAÇÃO
Nenhuma ação de mitigação e adaptação é suficiente por si só. Sua implementação efetiva depende de políticas e de cooperação em todas as escalas, e pode ser reforçada através de respostas integradas que apontam adaptação e mitigação com outros objetivos sociais.


As opções de adaptação existem em todos os setores, mas seu contexto de aplicação e de potencial para reduzir os riscos relacionados com o clima é diferente em todos os segmentos e regiões. Algumas respostas de adaptação envolvem cobenefícios significativos, sinergias e trade-offs. Aumentar a mudança climática aumentará os desafios para muitas opções de adaptação.


A mitigação pode ser mais eficaz se for utilizada em uma abordagem integrada que combina medidas para reduzir o consumo de energia, aumentar a eficiência energética, descarbonizar o fornecimento de energia, reduzir emissões líquidas e aumentar sumidouros de carbono nos setores agropecuário e florestal.


Respostas de adaptação e mitigação eficazes dependerão de políticas e medidas em várias escalas: internacionais, regionais, nacionais e subnacionais. Políticas em todas as escalas de apoio ao desenvolvimento de tecnologia, difusão e transferência, bem como financiamento para respostas às mudanças climáticas, pode complementar e melhorar a eficácia das políticas que promovem diretamente a adaptação e a mitigação.


As mudanças climáticas são uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. No entanto, há muitas oportunidades de vincular mitigação, adaptação e à busca de outros objetivos sociais através de respostas integradas.


Clique na tabela abaixo para ver os detalhes:
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Foto: Trey Ratcliff/Creative Commons
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Comentários
10/11/2014 às 15:36 Maria Lúcia Silva Vaz - diz:
Srs.Cientistas e Autoridades do Planeta!
Sabemos o quanto é preocupante,para o Planeta as emissões GEE,penso em todos tipos de vidas,sei que a Prospecção de petróleo no Oceano Atlântico,vai atingir profundamente as vidas marinhas e tb contribuir com o aquecimento e atingir a humanidade,pois mais petróleo mais Clorofluorocarboneto,haverá um aumento da concentração de energia na atmosfera,Então,se no Planeta todo houvesse uma mobilidade em semear em locais beirando estradas, n seria retrocesso,mas diminuir o consumo de energia,com produtos elétricos q n existiam ,antes da Rev,Ind. .como batedeiras,aspirador etc.Não seria tão drástico p humanida essa contribuição.São políticas viáveis em todas escalas.são desafios diante do GEE.Pode ser tratado em 2015.Diante desse processo nocivo para as pessoas e ecossistema,devemos fazer nossa parte como cidadão.Já semeio e vou continuar semeando,com união e Políticas sérias,tenho muito q flr,mas, vamos limitar à menos de 2°.Com a sabedoria divina e a ciência tdo é possível p quem acredita.Grande abraço.Prof.Maria Lúcia Silva Vaz
14/11/2014 às 12:09 Cátia Aparecida Rodrigues de Freitas - diz:
Boa tarde, gostaria de mais informações sobre o tema, algo que eu pudesse trabalhar com meus alunos do curso técnico e até mesmo apresentar nas palestras realizadas como técnica ambiental do setor público municipal.
Obrigada.
25/11/2014 às 08:20 Suzana Camargo - diz:
Cátia,
Aqui no Blog do Clima você encontra farto material sobre mudanças climáticas para trabalhar com seus alunos.
Esperamos poder ajudar.
Abraço,
Planeta Sustentável

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