Há
coisas que são vergonhosas por sua própria natureza, que não dependem
de circunstâncias. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff
participou do encontro do Diretório Nacional do PT, em Fortaleza.
Foi lá
acender algumas velinhas ao capeta da esquerda, depois de indicar
Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. E insistiu na tese falaciosa
de que a origem da corrupção está no financiamento privado de campanha,
que ela classificou de “semente de um processo incontrolável”,
acrescentando: “Temos um compromisso com este país: a reforma política.
Nada desse combate [à corrupção] se tornará efetivo se nós não fizermos
uma verdadeira reforma política no nosso país”.
Então tá.
Entendemos, assim, que ou o Brasil passa a ter financiamento público de
campanha, ou continuará a ser assaltado por larápios. É espantoso que
asnices desse naipe sejam ditas assim, com tanta sem-cerimônia.
Vamos ver:
A VEJA desta semana traz uma reportagem informando que, em 29 de maio
de 2007, o então advogado da Petrobras junto ao TCU, Claudismar
Zupiroli, enviou um e-mail à então secretária-executiva da Casa Civil,
Erenice Guerra.
Ele relatava sua preocupação com o fato de o TCU estar
no pé da Petrobras pelo uso abusivo de um decreto que permite gastos sem
licitação na estatal. Zupiroli informava que havia um “voa barata”
entre os gestores da Petrobras, que estavam “com medo do recrudescimento
do tribunal em cima deles” por causa das contratações sem licitação.
Erenice
era o braço-direito — e o esquerdo também — de certa ministra chamada
Dilma Rousseff.
Vale dizer: a mensagem deixava claro que a Petrobras já
estava fora do controle. Caixa de campanha apenas? Uma ova! Quem
obrigava a Petrobras a jogar no lixo a Lei de Licitações? Em 2009, um
simples diretor de área — Paulo Roberto Costa!!! — enviou e-mail à
ministra Dilma incitando o governo a mandar o TCU às favas.
Ou por
outra: ele queria que o governo continuasse a abastecer o esquema de
corrupção. E assim foi feito. O tribunal recomendou a suspensão de
repasse para obras com evidências de corrupção, o Congresso aprovou essa
suspensão, e Lula a vetou — com o endosso de Dilma, é claro!
O que isso tudo tem a ver com financiamento público ou privado de campanha? Nada! É indecoroso Dilma insistir nessa falácia.
Mais:
levantamento feito pela Folha mostra que as eleições de 2014 custaram R$
5 bilhões — e olhem que se está a falar das doações declaradas. Querem
uma perspectiva realista? Podem multiplicar isso por dois. Quanto
dinheiro o Tesouro terá de repassar para eleições? Aí, sim, teríamos uma
explosão de caixa dois. O pior é que boa parte da imprensa comprou tal
tese por ignorância.
Mais:
Sérgio Machado, presidente licenciado da Transpetro, deve deixar o cargo
definitivamente nesta semana. Mas o governo já disse a Renan Calheiros
(PMDB-AL), presidente do Senado, que ele continuará dono do cargo. Por
que um senador tem de ter o privilégio de indicar o presidente de uma
subsidiária da Petrobras?
E Dilma vem falar que a mãe da corrupção é a doação de empresas privadas a campanhas? É piada!
E por que o
PT insiste tanto no financiamento público? Ora, é simples: o dinheiro
teria de ser distribuído segundo um critério: ou número de votos para a
Câmara ou número de deputados eleitos.
Hoje, a legenda receberia a maior
fatia. Ou vocês acham que petistas apoiariam essa tese se formassem,
sei lá, a quarta bancada?
Em segundo
lugar, todas as doações privadas teriam de ser feitas por baixo do pano
— tanto para o governo como para a oposição. É claro que o risco para
as empresas aumentaria muito. Pergunta óbvia: vocês acham que elas
prefeririam correr perigo financiando o caixa dois do oposicionismo ou
do governismo? Em terceiro lugar, o PT domina boa parte dos sindicatos e
de outros organismos corporativistas do país, que fazem campanha
indireta para o partido. A lei proíbe, sim, mas quem dá bola?
Assim, o financiamento púbico é bom para o PT porque ele lucra três vezes:
a: seria o partido com mais recursos do Tesouro;
b: seria o partido que mais receberia do caixa dois;
c: seria o partido que continuaria a receber o financiamento privado dos sindicatos.
A tese é só um golpe vigarista.
Dilma
afirmou ainda em Fortaleza que pretende fazer a reforma com a
participação popular. Ela e seu partido insistem nos plebiscitos. É
mesmo? Plebiscito sobre o quê? Se é para convocar o povo, isso tem de
ser feito por meio de um referendo: a população diz se aceita ou não a
mudança. Referendo à parte, ideias esdrúxulas como Constituinte
exclusiva ou plebiscitos prévios, antes de o Parlamento votar uma
proposta, são apenas investimentos no baguncismo.
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