Documentos internos da Petrobras e mensagens encaminhadas por Venina
Velosa da Fonseca, a geóloga que denunciou irregularidades, revelam que a
diretoria atual não impediu um esquema de desvio de milhões de reais da
companhia. Relatórios mostram que negociadores de óleo combustível de navio que
atuam em Cingapura e em outros escritórios da estatal no exterior cobram
comissões extras elevando os preços à Petrobras. Apesar das denúncias,
esses "traders" não foram descredenciados até hoje. No entanto, a
estatal afastou Venina do cargo e cortou o seu salário em
aproximadamente 40% de seus vencimentos.
Documentos aos quais o Valor teve acesso mostram que
foi constatada a existência de um esquema de desvios envolvendo
negociadores de óleo combustível de navio que atuam em Cingapura e em
outros escritórios da estatal no exterior. Os "traders" detêm
privilégios na estatal e, mesmo quando constatadas as irregularidades,
não sofreram as penalidades aplicadas pelas demais empresas do mercado.
Em vez de serem descredenciados para não mais negociarem com a empresa,
eles receberam suspensões por curtos períodos e voltaram a trabalhar.
Venina deverá depor nos próximos dias, em Curitiba, a autoridades que
conduzem a Operação Lava-Jato, quando deverá apresentar detalhes dessas
denúncias.
Em nota à imprensa enviada na noite de sexta-feira, a companhia informou que "após resultado do grupo de trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda de bunker (combustível de navio), com a implementação de controles e registros adicionais". "Com base no relatório final", continua a nota, "a companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis". "A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014", concluiu a estatal.
Mas relatórios internos concluídos recentemente mostram que a
companhia sofre perdas nas negociações em preços de combustível de
navio, na contratação de afretamentos e até no momento de
descarregamento de petróleo. No segmento de produtos escuros - jargão do
setor para bunkers e óleo combustível - foram verificados desde
descontos anormais a apenas alguns clientes privilegiados até venda
abaixo do preço de mercado e recompra a preço acima do mercado, no mesmo
dia.
A apuração dessas práticas foi feita por Venina no período em que ela
comandou a unidade de Cingapura, entre fevereiro e novembro deste ano. A
geóloga determinou a contratação de um escritório de advocacia naquele
país que obteve cópias de mensagens trocadas entre os "traders". O
objetivo era romper com o esquema.
Numa dessas mensagens, um negociador de uma grande trading, sob o
codinome de "Coco Prontissimo", diz a outro negociador credenciado da
Petrobras que só ele poderia "proteger o negócio". Em outra mensagem,
esse representante da trading internacional admite que terá que pagar
comissão extra ao "trader" da Petrobras, identificado como Daniel Filho.
Os diálogos foram considerados pelo escritório contratado por Venina
como forte evidência ("strong evidence") de que a Petrobras estava sendo
prejudicada pelos "traders".
A geóloga criou comissões de apuração do esquema, chamadas de grupos
de trabalho, e encaminhou relatórios sobre o assunto a seus superiores.
Mesmo assim, a Petrobras manteve a atuação dos "traders" suspeitos. Ela
recorreu, então, ao novo gerente executivo da área, Abílio Paulo
Pinheiro Ramos. Ele é subordinado imediato de José Carlos Cosenza, o
diretor de Abastecimento que preside a comissão de apuração de
irregularidades e que declarou na CPI mista da Petrobras, em outubro,
que nunca ouviu falar de desvios na estatal.
Em 26 de abril de 2014, a geóloga encaminhou um longo e-mail a Abílio
descrevendo as irregularidades com que se deparou na companhia, a
começar pelas dificuldades durante a gestão de Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de Abastecimento, que foi preso na Operação Lava-Jato e
resolveu delatar o esquema de desvio de dinheiro da estatal. Costa era o
chefe imediato de Venina e as denúncias que ela fez de desvios na área
de comunicação daquela diretoria e nos aditivos para a construção da
Refinaria de Abreu e Lima fizeram com que fosse enviada para Cingapura,
em fevereiro de 2010, onde pediram que não trabalhasse.
Ao voltar, dois
anos depois, a geóloga ficou cinco meses "numa sala sem nenhuma
atribuição". Mandada novamente para Cingapura, Venina disse a Abílio que
encontrou um "escritório inchado, totalmente desorganizado e sem
controle".
No e-mail, a geóloga contou que havia problemas no segmento de
"escuros". "Enviei parte do material em caráter confidencial e pedi uma
reunião na primeira hora." Ao chegar para a reunião, Venina disse que
havia mais gente do que o previsto, inclusive potenciais envolvidos nas
práticas suspeitas. "Estavam presentes todos os gerentes, coordenadores e
consultores da área. Um público grande para tratar do assunto",
escreveu. Ela disse que o objetivo da reunião foi o de convencê-la que
estava errada. "Em vão. As evidências eram inegáveis", afirmou Venina.
A primeira comissão de apuração, em Cingapura, ouviu empregados
brasileiros e locais. A geóloga percebeu que o objetivo não era
solucionar os problemas apontados por ela. "Fui procurada por um dos
empregados locais que se dizia constrangido pelo seu depoimento não
estar formalizado e que isso o exporia perante a legislação de
Cingapura", disse. As leis daquele país equiparam a pessoa que sabe de
um caso de corrupção à mesma situação do criminoso responsável pelo
desvio de dinheiro.
Em seguida, foi feita uma auditoria e outra comissão de apuração, sem
resultados práticos. Ela contou a Abílio: "Recebemos vários e-mails nos
orientando a continuar negociando com as empresas envolvidas nas
fraudes. Confesso que prontamente recusei a orientação. A partir daí
passei a ser chamada de inflexível".
Após ser convocada para depor nas comissões de apuração de
irregularidades de Abreu e Lima, a geóloga descobriu que pessoas
informadas por ela de irregularidades, no passado, faziam parte dessas
comissões. Em 19 de novembro, ela foi comunicada por Abílio que seria
destituída de sua função no comando da unidade de Cingapura. Venina
telefonou a Cosenza e enviou um e-mail para Graça Foster, a presidente
da Petrobras.
Graça respondeu que o caso dela seria tratado por Cosenza e
Nilton Maia, chefe do Departamento Jurídico. A geóloga não recebeu o
relatório sobre as causas de sua destituição e encaminhou uma
notificação para a direção da estatal.
A Petrobras disse, em nota enviada na sexta-feira, que Venina "foi
destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras
Singapore Private Limited em 19 de novembro de 2014, após o que ameaçou
seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse
mantida na função gerencial".
Na verdade, o que Venina fez, segundo demonstram documentos, foi
pedir para voltar ao Brasil, pois estava em licença médica e precisava
fazer exames no INSS para receber salário. Um DIP - Documento Interno da
Petrobras - assinado por Abílio, em 3 de novembro de 2014, diz que a
geóloga encontra-se "em missão de longa duração na Petrobras Singapore",
onde exercia a função de gerente-geral. "Recentemente, a empregada
manifestou interesse em antecipar o término de sua missão", continua o
DIP, sublinhando que a missão estava prevista para terminar apenas em 30
de junho de 2015.
Após verificar que os problemas que apontou não seriam resolvidos, a
geóloga foi diagnosticada com "transtorno de ansiedade" por uma clínica
médica, em Cingapura. "Estou com meus ganhos reduzidos, meu retorno ao
país impossibilitado e sofrendo claro assédio comprovado pelos atos e
comunicados a mim enviados", disse a geóloga, num e-mail enviado, em 9
de dezembro de 2014, a Cosenza e a diretores da Petrobras Cingapura.
"O
descumprimento dos procedimentos de meu retorno demonstram que estou
sendo mantida doente no exterior por negativa dos meios de retorno ao
Brasil. Se mantida essa posição, não só informarei o fato ao Ministério
Público do Trabalho, ao sindicato e ao Judiciário, mas também à mídia",
alertou a geóloga, que teve um corte de 40% em seu salário. (Valor Econômico)
domingo, 14 de dezembro de 2014
No caso de Venina, a Petrobras usa a sua máquina de mentiras e adota o método petista de destruição de reputações.
Quem acompanha a Petrobras desde a CPI de 2009, sabe que a estatal
montou uma verdadeira máquina de mentiras para confundir a opinião
pública. Uma das suas táticas era só responder aos pedidos da imprensa
por escrito, evitando, assim, ser confrontada com outras versões. As
respostas à imprensa eram publicadas antes em blog próprio, o Fatos e Dados,
que continua ativo até hoje. Para isso, colocou na sua folha de
pagamento centenas de jornalistas que atuam oficial ou extra
oficialmente para as maiores assessorias de comunicação do país. Leia aqui o case de
comunicação da Petrobras escrito por um dos participantes. Mas antes
tome um Engov, um Dramin ou qualquer outro medicamento contra vômitos.
Neste final de semana, entrou em curso a operação midiática da Petrobras
para assassinar a reputação de Venina Velosa da Fonseca (foto),
ex-gerente que está na estatal desde 1990, onde ocupou diversos cargos.
Ela começou a
apresentar denúncias em 2008, quando era subordinada a Paulo Roberto
Costa como gerente
executiva da Diretoria de Abastecimento, cargo que ocupou entre
novembro de 2005 e
outubro de 20009. O jornal Valor Econômico publicou matéria exclusiva
que, baseada em provas documentais apresentadas por Venina, comprovam
definitivamente que Graça Foster tinha pleno conhecimento da corrupção
que corria desenfreada dentro da Petrobras.
Vamos relatar de forma sintética a "linha do tempo" das denúncias de
Venina, que podem ser conhecidas em detalhes na matéria do Valor, publicada aqui no Blog.
- Denunciou as falcatruas na área de comunicação da Petrobras, em 2008, informando à diretoria e presidência que estavam sendo pagos serviços não realizados. A Petrobras investigou e demitiu o gerente responsável, porque encontrou R$ 58 milhões em serviços pagos e não realizados e mais R$ 44 milhões em notas fiscais "frias".
- Em 2009, denunciou vários problemas na refinaria Abreu e Lima, como a contratação de obras sem licitação, escalada de preços via aditivos inexplicados, cláusulas abusivas contra a Petrobras. Num ofício de 4 de maio de 2009, Venina criticou a forma de contratação que, em pelo menos quatro vezes naquela etapa, dispensou as licitações e, em várias ocasiões, beneficiou as empresas que hoje estão envolvidas na Operação Lava Jato.
- Documento interno da Petrobras de 2009 mostra que Venina fez 107 Solicitações de Modificação de Projetos (SMPs), o que resultaria numa economia de R$ 947,7 milhões nas obras da refinaria. Mas as sugestões da gerente não foram aceitas.
- Outra sugestão não atendida foi a de acrescentar uma cláusula chamada "single point responsibility" nos contratos pela qual a construtora se tornaria responsável por eventuais problemas nas obras da refinaria, devendo arcar com os gastos.
O desgaste de fazer as denúncias e não obter respostas, segundo o Valor, fez com que
Venina deixasse o cargo de gerente de Paulo Roberto, em outubro de 2009.
No mês seguinte, a fase 3 de Abreu e Lima foi autorizada. Em fevereiro
de 2010, a geóloga foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em
Cingapura. Chegando lá, lhe pediram que não trabalhasse e foi orientada
a fazer um curso de especialização.
Durante os anos em que esteve fora, Venina continuou a alertar Graça
Foster e José Carlos Cosenza, presidente e diretor que disseram na CPI
que não estavam informados da corrupção na Petrobras, de diversas
falcatruas na área internacional.
Uma última mensagem sobre o assunto foi enviada por Venina em 17 de novembro. Dois
dias depois, a direção da Petrobras a afastou do cargo. Após fazer
centenas de alertas e recomendações sobre desvios na empresa, ela foi
destituída pela atual diretoria, sem saber qual a razão, ao lado de
vários funcionários suspeitos na Operação Lava-Jato. A notícia lhe
chegou pela imprensa, em 19 de novembro.
Agora vejam o que a Petrobras está plantando na Imprensa, através da sua milionária máquina de moer reputações:
A empresa publicou nota oficial, um dia depois da matéria no Valor Econômico, onde afirma:
A Petrobras instaurou comissões
internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de
contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão,
momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo
agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca
de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter
sido responsabilizada pela comissão.
Ora, as denúncias sobre as fraudes bilionárias
na refinaria Abreu e Lima (RENEST) foram feitas por Venina em 2009. Por que a Petrobras "instaurou comissões
internas" apenas em 2014, depois que a Operação Lava Jato confirmou o
que
Graça Foster e o governo do PT já sabiam?Além disso, já em 2008 o TCU
apresentava relatórios conclusivos sobre corrupção na obra. Leia aqui.
Como é que a Petrobras afirma em
nota oficial que "a empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o
material", se está provado por e-mails que ela fez as denúncias em 2009,
conforme publicado pelo jornal Valor Econômico? Por que a Petrobras não investigou
naquela oportunidade e optou por calar a funcionária, transferindo-a para
Singapura?
É de se perguntar a Petrobras:
por que demorou cinco anos para imputar um crime a Venina, justamente no
momento em que todos os fatos comprovam que ela estava certa e que se a estatal
agisse conforme a sua orientação bilhões teriam sido poupados?
Além disso, a Petrobras fez vazar para a imprensa que o "plano" de
Venina para a Abreu e Lima foi adotado e aumentou o custo da obra em R$ 4
bilhões. Baseado nisso a estatal demitiu a ex-gerente. É ou não é
estarrecedor? Se a ex-gerente foi afastada do projeto em 2009,
justamente por estar sugerindo ações que não foram implementadas, como
pode ter gerado tal prejuízo?
A nota oficial da Petrobras, que
publicamos abaixo na íntegra, não para em pé. Mas poderá ser transformada em
verdade, haja vista o poderia de comunicação da estatal. Já começaram a pipocar
as primeiras matérias atacando Venina, especialmente na esgotosfera que vive de
patrocínios do PT. Alguns grandes jornais também já aceitaram a pauta. Que nos
salve a Justiça, pois Venina vai depor ao Ministério Público, em Curitiba, onde
tramita o processo da Lava Jato, nos próximos dias.
A nota da Petrobras, na íntegra:
Esclarecimento
Com referência às matérias
publicadas na imprensa a respeito de denúncias feitas pela empregada Venina
Velosa, a Petrobras reitera que tomou todas as providências para elucidar os
fatos citados nas reportagens. Não procede a afirmação de que não houve
apuração por parte da Companhia em nenhum dos três casos citados por ela:
RNEST, Compra e Venda de BUNKER e Irregularidades da Gerência de Comunicação do
Abastecimento.
A Petrobras instaurou comissões
internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de
contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão,
momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo
agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca
de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter
sido responsabilizada pela comissão.
A empregada foi citada no
relatório desta Comissão com referência a responsabilidades por não
conformidades consideradas relevantes. O resultado foi enviado às Autoridades
Competentes (MPF, PF, CVM, CGU e CPMI) para as medidas pertinentes. A empregada
foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore
Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar
supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial.
A Petrobras instaurou comissões
internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos
e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O
ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por
desrespeito aos procedimentos de contratação da Companhia. A demissão não foi
efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em
virtude de afastamento por licença médica. A demissão foi efetivada em 2013. O
resultado das análises foi encaminhado para a CGU e MP/RJ e há uma ação
judicial em andamento visando ao ressarcimento dos prejuízos causados à
companhia pelo ex-empregado.
Após resultado do Grupo de
Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra
e venda de bunker, com a implementação de controles e registros adicionais. Com
base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e
negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo
controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não
constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Gerência de Imprensa/Comunicação Institucional
Gerência de Imprensa/Comunicação Institucional
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