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Reinaldo Azevedo
O
papel da oposição é opor-se. Cabe ao governo governar. Cada um no seu
quadrado, como dizia a molecada até outro dia. Quando um governo quer
ser oposição e quando uma oposição quer ser governo, é o eleitor que
está sendo traído. Está em curso no Brasil, sim, há muitos anos, um
projeto que busca a hegemonia política, segundo as iluminações malignas
do teórico comunista Antonio Gramsci, que busca fazer com que um partido
tome o lugar da sociedade e se instale como um imperativo categórico,
de modo que se torne impossível pensar fora dos parâmetros que ele
define.
Muito bem!
Esse partido — no caso, o PT — pode ter os delírios que quiser. Cabe a
quem se opõe a ele resistir, cumprindo o seu papel, exercendo o mandato
que lhe conferiu a sociedade. Sim, meus caros leitores, a oposição
também ganha a eleição, também ganha um mandato: passa a ter o
privilégio de representar a voz dos descontentes. E só assim a
democracia é democracia. Desde, é claro, que todos aceitem jogar as
regras do jogo, sem aventuras extralegais.
O PSDB
decidiu apresentar ao TSE, nesta quarta, uma Ação de Investigação
Judicial Eleitoral que, a depender do desdobramento, pode resultar no
pedido de cassação do próximo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Tentativa de golpe? Inconformismo com as regras da democracia?
Sabotagem? Não! Apenas o exercício da lei. Se ficarem comprovadas
irregularidades, que se siga o que está escrito.
Há uma
novidade em curso no Brasil, considerados os últimos 12 anos. Os que se
opõem ao lulo-petismo também descobriram as ruas. A exemplo dos ditos
movimentos sociais, que são apenas franjas do PT e seus satélites, que
pareciam ser a única voz do país até outro dia, não são milhões de
pessoas, mas apenas alguns milhares os que ocupam o espaço público. Mas
vocalizam descontentamentos de verdadeiras legiões.
Numa
democracia, respeitados os parâmetros legais, todo pleito é legítimo,
inclusive, sim, o pedido para que Dilma seja alvo de um processo de
impeachment. Para tanto, terá de ficar evidenciado que ela sabia das
lambanças da Petrobras e nada fez para pôr um fim à bandalheira — ou,
pior ainda, que foi beneficiária da sem-vergonhice.
A oposição
também vai fazer um relatório paralelo à peça de surrealismo explícito
de Marco Maia (PT-RS), o relator da CPMI da Petrobras, e deve incluir a
responsabilização de Dilma Rousseff. É evidente que o texto não será
aprovado, mas os que elegeram o PSDB como o porta-voz de suas esperanças
e de suas aflições terão uma satisfação.
Um partido
de oposição deve dizer “não” a tudo aquilo que propõe o governo, mesmo
quando as alternativas apresentadas são boas para o povo e para o país? A
resposta é negativa. Essa é a oposição de padrão petista, que se opôs
ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal, às privatizações, à
necessária reforma da Previdência. Uma oposição qualificada age de outra
maneira e analisa o mérito do que está sendo proposto.
Ocorre
que, quando o PSDB pede a investigação de ilícitos eleitorais ou quando
cobra a responsabilidade da presidente Dilma no descalabro da Petrobras,
não está apostando no “quanto pior, melhor”. Ao contrário: está
exigindo que o Poder cumpra as leis. E, convenham, sempre que os homens
públicos são chamados às suas responsabilidades, melhor. Exigir que tudo
venha às claras é apostar no “quanto melhor, melhor”.
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