quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
No encontro de mais de seis horas na sede do partido em Brasília,
integrantes da corrente fizeram uma extensa avaliação do cenário
eleitoral e demonstraram preocupação com o resultado nas grandes cidades
diante de um quadro de recessão que pode aumentar o desemprego e
reduzir a renda das famílias.
"Temos que dar atenção especial para os governos municipais. Em
2014 o resultado eleitoral foi ruim para nós. Ganhamos a eleição
perdendo. Vencemos a disputa presidencial, mas tivemos regressão no
desempenho do PT, com redução das bancadas federal e estaduais e
desempenho abaixo do nosso histórico nos grandes centros", afirma o
ex-deputado Paulo Ferreira, um dos coordenadores nacionais da CNB.
O cenário tende a se agravar, avaliam petistas, se o ajuste executado
pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, levar à recessão em 2015, com
impacto no emprego e perdas para os trabalhadores. As primeiras ações da
nova equipe econômica foram mudanças no seguro-desemprego, abono
salarial e pensões por medida provisória (MP), seguidas por aumento de
impostos sobre gasolina, movimentações financeiras, importações e
cosméticos.
A nova política econômica será um dos principais temas do próximo
encontro da direção nacional do PT, no início de fevereiro, em Belo
Horizonte. A cúpula da corrente majoritária do partido, a CNB, da qual
fazem parte a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, tenta minimizar o
descontentamento de parte do partido e pondera que o sucesso eleitoral
de 2018 depende da defesa política inequívoca do ajuste de agora. O
respaldo a Levy tem partido da Executiva do partido.
Mensagens dissidentes já aparecem dentro da sigla. Integrante do
Diretório Nacional do PT, o deputado estadual Raul Pont (RS) diz que as
medidas poderão prejudicar o desempenho do PT em 2016. "Essa visão de
política econômica do ministro não combina com o que pensamos e
defendemos no PT. É uma negação do discurso da presidente", afirma.
Pont, da corrente Democracia Socialista, a mesma do ex-secretário do
Tesouro Nacional Arno Augustin e dos ministros Miguel Rossetto
(Secretaria-Geral da Presidência) e Pepe Vargas (Relações
Institucionais), compara este início de mandato com os dois primeiros
anos do governo Lula, quando Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique
Meirelles (Banco Central) promoveram uma política de austeridade.
"Pagamos um preço enorme por isso nas eleições seguintes, quando o PT
teve desempenho ruim nos municípios", diz.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes da tendência
Mensagem ao Partido, diz que o PT ainda debaterá as medidas internamente
e com Dilma. "O que for efetivamente combate à fraude [na Previdência]
terá nosso apoio, mas vamos sugerir mudanças quando se tratar de
revogação de direitos", afirma. "Me parece que a formulação inicial da
MP precisa ser revista quando passar pelo Congresso", diz, ao negar
impacto eleitoral.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT e que fez
campanha por Dilma, prepara uma marcha no dia 28, junto com as outras
centrais, e um protesto no Congresso em 2 de fevereiro contra as
mudanças. "É um governo em disputa. O arco de alianças contém
progressistas e conversadores, e nosso papel é cobrar que seja colocado
em prática o projeto defendido na campanha", diz o presidente da
central, Vagner Freitas (PT). "O governo tem que dizer qual a claramente
o que quer. Estamos preocupados com essa política recessiva junto com
mudanças no seguro-desemprego."
O ex-ministro José Dirceu, que presidiu a sigla entre 1995 e 2002 e
foi cassado no escândalo do mensalão em 2005, retomou reuniões políticas
e publicou em ontem seu blog, pelo segundo dia seguido, que o país
caminha para uma forte recessão. Citou a redução de 1,4% para 0,3% na
previsão de crescimento da economia brasileira neste ano feita pelo FMI e
afirmou torcer "para que uma projeção drástica do FMI - de que teremos
algum crescimento este ano - se confirme, porque tudo indica que o que
vamos ter é uma recessão, e das bravas no Brasil este ano".
A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT e presidida pelo ex-presidente
do IPEA Marcio Pochmann, também destacou ontem, em texto do economista
Guilherme Mello, que as medidas "podem afetar a defesa dos ganhos
sociais e de empregos dos anos recentes, dado o impacto recessivo". O
texto diz que o governo Dilma "parece ver-se obrigado a coadunar
parcialmente com os argumentos mercadistas (em particular na esfera
fiscal), apesar de manter a orientação de buscar sempre a preservação
dos empregos e da renda".
Responsável pela estratégia do PT para as eleições, o secretário de
Organização, Florisvaldo de Souza, defende que ainda é cedo para
discutir os efeitos das ações do ministro da Fazenda. "É precipitado
achar que vai ter impacto nas eleições", diz. " O mais importante é que
Dilma não está mexendo nas áreas sociais, que são muito caras ao PT. E
não vejo redução dos direitos dos trabalhadores", afirma. "Na verdade o
governo está fazendo um ajuste para manter o emprego".
Um Levantamento do Valor nos dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) sobre o segundo turno mostra como é justificada
a preocupação do PT com o que pode acontecer ao partido nos grandes
centros. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, importantes como
polos formadores de opinião e de criação de novas lideranças e por terem
os maiores orçamentos, o partido registrou queda com relação à 2010.
Há cinco anos, a presidente Dilma Rousseff (PT) bateu José Serra
(PSDB) por 20 milhões de votos a 17 milhões nas médias e grandes
cidades. Agora, perdeu para Aécio Neves (PSDB) por 22 milhões a 19
milhões. Ou seja, teve um milhão de votos a menos, mesmo com o
eleitorado destes locais crescendo cinco milhões.
O que a salvou a campanha à reeleição de Dilma foram as pequenas
cidades, com menos de 200 mil eleitores, em que ela abriu 7 milhões de
votos de vantagem em relação ao tucano no ano passado. A perda de
influência nas grandes cidades já era sentida em 2012, quando o PT só
não reduziu o eleitorado governado por vencer a disputa pela Prefeitura
de São Paulo.
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