Esculturas de animais silvestres são vandalizadas no Park Way
Por Chico Sant’Anna
O ser humano parece ter um problema de lidar com o que é público e o
que é bonito. Logo, logo, quer se apoderar do que é belo e do que é de
todos. Tem que ser o dono e se não puder ser, ninguém mais poderá sê-lo.A quadra 28 do Park Way foi oficialmente batizada Quadra das Artes em função da abnegação de Gil Marcelino. Esse espanhol de nascença dedica sua aposentadoria e produzir esculturas de animais silvestres do cerrado e espalhá-los pelos quatro cantos do bairro, em especial, nos seis conjuntos que forma a 28.
Cada lote ganhou sua mascote: para um, um tamanduá, para outro, lobo guará. Há quem tenha ganho jacarés do papo amarelo ou um filhote de pantera pintada ou uma garça. Sapo-boi, tuiuiús e patos selvagens também adornam as entradas das residências.
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Uma coleção de estátuas que reproduziam uma família de veados campeiros desapareceu subitamente. Não ficou um peça para contar a história.
Um filhote de anta foi surrupiado. A mãe dele foi demolida à marretada. Diversas tentativas de sequestrar duas panteras que guardam a entrada da quadra – uma negra e outra pintada -, resultaram em danificações, em especial, rabo quebrado, e no furto de um filhote de pantera.
As mais recentes agressões aconteceram na noite de 17 para 18 de abril. Quatro estátuas de aves do Planalto Central: duas garças, um tuiuiú e um flamingo foram alvo dos vândalos. Na tentativa de furtar a reprodução artística do tuiuiú, o vândalo estrangulou a ave que teve o pescoço quebrado.
O flamingo ficou em pedaços. Quem queria furtá-lo, deve ter feito muita força e acabou rompendo a peça em vários pedaços.
Uma garça foi arrancada do local onde estava chumbada ao solo. Um torrão de concreto saiu junto com a peça. “Como era muito pesada, deixaram para trás. A outra garça foi esquartejada. Só ficaram os ferros das patas” – lamenta Marcelino.
Uma vaquinha para a restauração
A vizinhança começa a se organizar para numa cotização ajudar o artista a recompor as imagens.
Gil Marcelino promete restaurar o quanto antes as quatro peças, para a alegria das crianças que gostam de brincar com as réplicas dos animais do cerrado.
Mas até quando elas irão perdurar?
O que é necessário para aprender a conviver com o que é público?
Na prática, o roubo e vandalismo dessas esculturas têm a mesma raiz dos escândalos de corrupção que presenciamos.
Para muitos – inclusive várias pessoas que vão às ruas protestar contra a corrupção governamental -, o que é público não tem dono. E se não tem dono, eu posso me apropriar. Sejam as garças e tuiuiú do Gil Marcelino, sejam os recursos da Petrobrás.
Essa mentalidade tem que mudar.
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