Os políticos
tucanos são esnobes. Ainda julgam ser uma razão superior, porque na
época da criação do partido reuniam a maioria absoluta da elite política
e só não chegaram imediatamente ao poder porque se defrontaram, ao
mesmo tempo, com dois fenômenos eleitorais – Fernando Collor de Mello e
Luiz Inácio Lula da Silva, que impediram Mário Covas de chegar ao
segundo turno.
Mas na eleição
seguinte os tucanos conseguiram pousar no Planalto/Alvorada, “para ficar
20 anos”, como dizia o então ministro Sérgio Motta, sonhando acordado e
embriagado pelo poder. Oito anos depois, o sonho virou pesadelo e a
elegante elite política teve de aturar ser substituída por um partido de
sindicalistas, professores e funcionários públicos, liderado por um
operário sem instrução ou cultura, que jamais lera um só livro (e até
hoje, quase 13 anos depois, ainda não o fez).
No primeiro
mandato de Lula, que viria a ganhar mais títulos honoríficos do que o
professor doutor Fernando Henrique Cardoso ou qualquer outro intelectual
brasileiro, os tucanos tiveram uma grande chance de pedir o impeachment
dele. Mas não o fizeram. O esnobismo não permitiu, eles preferiram
vê-lo sangrar, mas Lula não sangrou nada e deu-lhes outra surra na
eleição seguinte, em 2006.
DERROTADOS POR UM POSTE
A humilhação
não parou por aí. Quatro anos depois, em 2010, Lula levou os tucanos ao
desespero, ao eleger Dilma Rousseff, apelidada de “poste” porque nunca
concorrera nem a eleição de síndica de condomínio. Não tinha carisma nem
preparo, era arrogante e prepotente. Mesmo assim, o povo preferiu
elegê-la, e os tucanos foram novamente obrigados a ficar no muro.
O governo do
poste foi um fracasso retumbante, todos sabem. Mesmo assim, em 2014 Lula
conseguiu derrotar mais uma vez a elite política, que desorientada,
parecia voar em círculos.
Como dizia o
genial João Saldanha, vida que segue, e agora surge a operação Lava
Jato, com o esquema de corrupção na Petrobras, na Receita Federal, nos
fundos de pensão, no BNDES, na ferrovia Norte-Sul, nas estatais de
energia, é um nunca-acabar.
E o que fazem
os tucanos? Do alto de sua prepotência, continuam inertes, a pretexto de
deixar novamente os adversários “sangrarem”.
A FALA É DO CUNHA…
O quadro atual é
muito diferente do mensalão, mas o ex-presidente FHC e o senador José
Serra, candidato derrotado por Lula e por Dilma, continuam repetindo o
que diziam àquela época, voltando a proclamar que não há razão para
impeachment. É tudo o que o PT, o governo e o Instituto Lula queriam
ouvir. Nem precisam se defender, pois há quem o faça, brilhantemente.
FHC e Serra
jamais poderiam ter se posicionado assim. Esta fala pertence ao
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que por dever de ofício não pode se
manifestar a favor do impeachment. Como cabe a ele julgar o pedido,
Cunha tem de ficar repetindo que o documento precisa ter sólida base
jurídica, o que é apenas o óbvio, aliás.
O QUE TEM DE SER DITO
Como líderes da
oposição, FHC e Serra têm de jogar o jogo. Mas preferem bancar os
bonzinhos, com posturas tipo politicamente corretas, quando a afirmação
que se espera deles é a seguinte: “A situação é muito delicada, em meio a
uma gravíssima crise política, econômica, social e ética. As provas
estão se acumulando e o impeachment será inevitável, mas o pedido a ser
encaminhado à Câmara precisa ser indefensável, irrespondível e
inquestionável. No momento, estamos coletando os dados para preparar o
pedido de abertura do processo. É preciso ter um pouco de paciência”.
O que não pode
acontecer é o presidente do partido tucano, senador Aécio Neves, tomar
uma posição, falando em nome da legenda, e dois líderes importantes como
FHC e Serra dizerem exatamente o contrário, para permanecer em cima do
muro. É muita incompetência.
21 de abril de 2015
Carlos Newton
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