Relacionamentos homossexuais são errados do ponto de vista moral? Eu
desejo analisar isso nesse post, mas de um modo desapaixonado e neutro. A
intenção é expor como pensam os dois lados, procurando compreender
ambos e gerar uma discussão equilibrada e honesta.
O argumento que parece ser central para os que apoiam a homossexualidade
é que ela não representa mal em si mesma. Em outras palavras, desde que
um relacionamento homossexual ocorra de modo consensual entre as
pessoas envolvidas, não há qualquer tipo de exploração neste tipo de
relação que possa tornar o envolvimento condenável. Ao contrário disso,
temos a mútua satisfação dos indivíduos em contato. Em silogismo, o
argumento pode ser resumido assim:
1. Qualquer relacionamento consensual que não implique em exploração para as pessoas envolvidas, mas antes, satisfação, é correto do ponto de vista moral;
2. O relacionamento homossexual pode perfeitamente ser consensual e não implicar em exploração, mas satisfação;
3. Logo, o relacionamento homossexual em si é correto do ponto de vista moral.
O problema deste argumento é que a premissa número 1 está baseada em uma
concepção de moral estreita. Essa concepção estreita só leva em conta a
satisfação mútua e consensual em um relacionamento. Mas não
necessariamente este é o único pré-requisito para que uma relação ou
comportamento seja correto. Vejamos um exemplo. Há pessoas que gostam de
viver como bebês ou como animais. Existem muitas dessas pelo mundo.
Alguns programas televisivos, como Tabu (apresentado no National
Geographic) às vezes produzem reportagens sobre o tema. Esses indivíduos
assumem um personagem (um cachorro, um gato, um bebê), passando a
manter os hábitos do personagem assumido, desde as vestimentas, até a
alimentação e o modo de lazer. E, curiosamente, tais pessoas arrumam
babás e “donos” para os satisfazerem em suas fantasias.
Temos aqui, portanto, diversos casos de comportamentos e relacionamentos
que são consensuais, causam satisfação nos participantes e não implicam
em exploração. Mas será que podemos entender esses comportamentos e
relacionamentos como corretos? A resposta para esta pergunta depende da
cosmovisão da pessoa. Se sou um humanista ou libertário, direi que por
mais estranhos que possam nos parecer, são corretos porque respeitam a
premissa 1 do argumento e ela é autoevidente.
Se eu sou um relativista, direi que não há certo e errado, mas apenas gostos. Viver como um bebê ou um cachorro, tomando madeira e urinando em fraldas, ou comendo ração e brincando de morder, podem não fazer parte do meu gosto, mas faz parte do gosto deles. Nenhum de nós está certo ou errado.
Um ateu, que realmente leve à sério a sua cosmovisão ateísta, dirá aqui
que nosso universo inteiro é apenas um acidente e que não há nada que
nos indique se há algo certo ou algo errado. Todos os comportamentos são
iguais e, no fim das contas, isso não vai fazer a menor diferença
depois que morrermos. Logo, viver como um bebê ou um cachorro não é
certo nem errado. Tanto faz.
Uma pessoa sem religião específica, mas que acredita em moral, provavelmente dirá que existe certo e errado, mas que comportamentos como viver como um bebê ou um cachorro não se enquadram na questão da moralidade. São apenas gostos.
Agora, uma pessoa que acredita que a natureza foi projetada
inteligentemente e que cada uma de suas partes apresenta um modo correto
de funcionamento, afirmará que comportamentos como viver como um bebê
ou como um cachorro, quando não se é nenhum dos dois, fogem do correto
funcionamento, ferem a inteligência do projeto e se desviam do objetivo
natural que deveriam seguir.
Certamente, isso se configuraria um erro do ponto de vista biológico e
da finalidade do projeto. Mas seria um erro moral? Aparentemente sim,
pois se a natureza é um projeto, há um projetista. Ferir a inteligência
do projeto e do projetista usando as partes do projeto de maneira errada
e renegando o objetivo de seu criador não parece ser uma atitude muito
boa. Se considerarmos ainda que o projetista nos ama, tudo fica mais
complicado, pois ao agir de modo diverso ao objetivo do projeto, estamos
renegando a vontade de alguém que nos ama e nos possibilitou viver por
conta disso. Seria como se um pai amoroso tivesse projetado um notebook
para o filho e explicado que o mesmo não era à prova de água. O filho,
rebelde, diz que o notebook é dele e ele usa como quiser. Então, leva
para o banho e o aparelho queima.
Como o leitor já notou, eu não favoreci até agora nenhuma visão. O que
fiz foi apenas explicar cada uma delas, demonstrando como cada tipo de
pessoa chega até determinada conclusão. À priori, nenhuma dessas visões,
ou cosmovisões, são incoerentes. Se, de fato, a premissa 1 é
autoevidente, não podemos dizer que tais comportamentos são errados. E
se a moral é relativa, ou o mundo é obra do acaso, ou os comportamentos
que estamos analisando não se enquadram na questão moral, não podemos
dizer nem que são corretos, nem que são errados, mas apenas questão de
gosto.
A análise da validade dessas posições se inicia agora. A primeira nos
diz que é uma verdade autoevidente que qualquer comportamento ou
relacionamento consensual, que cause satisfação mútua e não exploração é
correto do ponto de vista da moral.
Contudo, como já vimos, isso não é
necessariamente uma verdade, pois depende do que abrange a moral. E a
moral pode muito bem abranger mais do que esses pré-requisitos. Se a
hipótese do projetista estiver correta, por exemplo, a primeira premissa
está errada. Portanto, não temos aqui um fundamento autoevidente, mas
um fundamento que depende de uma evidência externa a si mesmo. Em outras
palavras, é preciso provar que a moral só abrange o que a primeira
premissa diz. Não é suficiente só dizer.
As demais hipóteses tentam transformar alguns comportamentos em questão
de gosto pessoal apenas, portanto, não enquadráveis na ideia de moral.
Mas se alguma delas estiver correta, elas derrotam o próprio argumento
de que a homossexualidade é moral, pois este comportamento também passa a
ser uma questão de gosto. E se é uma questão de gosto, qualquer um pode
concordar ou discordar, tal como discordamos ou concordamos com a
prática de comer sorvete, ou de fumar charutos, ou de torcer por um time
de futebol.
E como gosto não se discute, pois é subjetivo e cada um tem
um, não faz sentido dizer que não gostar da homossexualidade é algo
errado. Aliás, nos dois primeiros casos, o do relativismo e o do
ateísmo, não há certo e errado. Portanto, até mesmo a violência contra
homossexuais não seria errado (apenas seria algo fora da lei nos países
democráticos, mas não imoral).
Neste ponto, o defensor da homossexualidade geralmente vai tentar atacar
a noção de que seu comportamento não é natural. Seu intuito aqui é
provar que a homossexualidade está de acordo com a biologia e quaisquer
finalidades que, porventura, existam no projeto natural. Ele poderá
também dizer que não há um padrão biológico ou um objetivo natural. A
ideia é concluir que a homossexualidade é moral em qualquer hipótese,
incluindo na hipótese de que haja um projetista na natureza.
Mas o argumento é falho. É patente que os componentes da natureza
apresentam uma funcionalidade padrão e objetivos específicos. Por
exemplo, se meu vizinho tenta colocar uma colher de arroz no nariz,
tencionando se alimentar, em vez de usar a boca para isso, é óbvio que
temos uma fuga de padrão natural. O nariz serve para respirar e a boca
serve para comer. Negar isso é negar o conhecimento biológico mais
simples. Aliás, quando aprendemos biologia, a ideia da disciplina é que
saibamos para quê funciona cada coisa em nosso corpo e no ecossistema.
Então, sim, existe um funcionamento padrão e objetivos na natureza.
O comportamento homossexual, evidentemente, não se adequa a esse
funcionamento padrão. O homossexual assume um papel que não é o seu, e
utiliza partes de seu corpo que tem determinadas finalidades, para
outras finalidades. O indivíduo homossexual tenta ser o que não é, e
fazer o que seu gênero não foi projetado para fazer.
Uma vez que tal fato é inescapável, o defensor da homossexualidade
poderá oferecer dois argumentos aqui. O primeiro é que, se há um
projetista, ele pode não se importar com o que fazemos com nossos corpos
ou com o que desejamos ser, desde que não façamos mal ao nosso próximo.
De fato, as religiões teístas dizem, por exemplo, que Deus é amor. Se
ele é amor, não deve ver mal no amor genuíno entre pessoas do mesmo
sexo. E se ele é amor, deve querer a felicidade de todos, inclusive de
quem quer ter um relacionamento homossexual.
À priori, esta hipótese parece ser plausível. Mas há alguns
questionamentos que precisam ser feitos. Em primeiro lugar, por que
razão Deus criaria gêneros, amor de casal, relação sexual e casamento?
Ele poderia ter feito criaturas sem gênero e assexuadas, que vivessem
como irmãos/amigos apenas. Bom, se respondermos que o único objetivo foi
para que os gêneros se interessassem um pelo outro e gerassem filhos,
então certamente não fazia parte dos planos de Deus que pessoas do mesmo
gênero se unissem dessa forma. Se, porém, respondermos que a procriação
não era o único objetivo, isso nos leva a questionar por que Deus não
teria feito o ser humano hermafrodita.
Pense no seguinte: Deus não criou o mundo mal, segundo as religiões
teístas. O mal entrou no mundo, que antes era perfeito. Suponhamos que o
mundo continuasse perfeito hoje, como Deus o criou. Neste caso, os
homossexuais teriam um problema: eles não teriam como ter filhos
naturais, tampouco adotar (pois em um mundo perfeito, nenhum pai ou mãe
abandonaria, ou venderia, ou daria seus filhos. Tampouco as pessoas
morreriam. Logo, não haveria orfanatos e filhos para seres adotados).
Isso seria um grande transtorno para os gays, que não poderiam
constituir família, ao passo que os heterossexuais poderiam.
Além disso, haveria uma desigualdade natural bastante desagradável entre
gays e heteros no que tange a relação sexual, já que os heteros teriam
seus corpos naturalmente projetados para o sexo, ao passo que os
homossexuais precisariam (como precisam hoje) improvisar. E se nós
pensarmos naqueles que nascem insatisfeitos com seu gênero e desejam
fazer operações de mudança de sexo, a coisa fica mais complicada, pois
questionamos: por que Deus permitiria, num mundo perfeito, que algumas
pessoas só pudessem ser felizes de maneira artificial, necessitando
mutilar ou implantar membros? Em outras palavras, se Deus desejava que
pessoas do mesmo sexo tivessem um relacionamento de casal, não faria
sentido Ele ter criado dois gêneros. O hermafroditismo seria muito mais
justo e feliz. Parece, portanto, que Deus desejou/projetou desde sempre a
união sexual/matrimonial apenas entre homem e mulher.
Em segundo lugar, se realmente Deus criou tudo perfeito, mas o mal
entrou no mundo, é possível supor que o sentimento homossexual seja algo
que não existia quando o mundo ainda era perfeito, nem existiria.
Talvez o sentimento homossexual seja algo que surja em decorrência de o
mundo não ser mais o mesmo que Deus criou. Ele foi deformado, e assim,
as coisas mudaram. A deformação do mundo e de nossa própria natureza
pode ter criado um descompasso entre o que somos/para quê fomos
projetados e o que desejamos ser/fazer.
Isso explicaria porque uma
pessoa que nasce com um gênero/sexo pode ficar insatisfeita com ele e
querer mudar de gênero/sexo. Se isso é fato (e há plausibilidade nisso,
pois é muito mais provável um Deus bom criar pessoas que tenham um
sentimento de acordo com o que ela é e foi projetada para ser), então a
homossexualidade não só não é natural, como é algo que só existe porque o
mundo deixou de ser perfeito.
Em concordância com isso, muitos homossexuais afirmam que gostariam de
não ser gays, mas que infelizmente apresentam um sentimento homossexual.
Estas pessoas às vezes afirmam: “Não tenho culpa de ter esse
sentimento”. Então, para essas pessoas, é ruim o fato de haver esse
descompasso entre o gênero natural delas e como elas se sentem. Logo,
não é um absurdo supor que tal sentimento não foi criado por Deus, não é
plano dele, não deveria existir e só existe por conta do pecado.
Em terceiro lugar, quando as religiões teístas dizem que Deus é amor, se
referem ao amor geral. O amor geral é aquele que devemos sentir por
qualquer pessoa pelo simples fato de ela ter vida e sentimentos. É o
amor que Deus sente por nós e que nós devemos nutrir por Ele e pelo
próximo. Não devemos confundir este amor com as suas demais vertentes,
como o amor “Eros” (de casal), o amor “Philos” (de irmão) e o amor
“Storge” (de família). Este amor geral é o amor Ágape. É um amor maior
do que todas as suas vertentes e sem o qual nenhuma delas existe. É o
amor do qual suas vertentes são apenas representações parciais. As
vertentes de Ágape podem até simbolizá-lo em alguns aspectos, mas jamais
podem substituí-lo, pois a representação nunca substitui o objeto
representado.
Deus é Ágape e não Eros. Portanto, não faz muito sentido dizer Ele
deseja que todos os seres humanos amem eroticamente qualquer um dos
gêneros criados. Faz sentido sim dizer que Deus deseja que todos os
seres humanos amem com amor Ágape a qualquer um dos gêneros. O amor
Eros, no entanto, parece ter sido criado para ocorrer entre um homem e
uma mulher. Outro ponto aqui é que o fato de Deus nos amar, não implica
que Ele ache bom que adquiramos comportamentos provenientes de
descompassos causados pelo pecado.
Estes questionamentos tornam improvável que Deus se agrade da
homossexualidade e demonstram que é mais plausível pensar que Deus criou
um em que não havia descompasso entre nossos sentimentos e o que somos
naturalmente. Este descompasso, portanto, não é algo proveniente dele,
tampouco é algo positivo.
A pessoa que apoia a homossexualidade aqui ainda pode tentar usar o
argumento de que este comportamento não é uma escolha, mas uma
característica natural com a qual algumas pessoas nascem. A ideia é
dizer que o homossexual não tem escolha. Ele nasce com esse sentimento e
não pode ser considerado errado por segui-lo. Mas o argumento apresenta
pelo menos duas falhas.
A primeira é supor que inerências naturais e
comportamentos são a mesma coisa. Não é verdade. Ser negro, ter nariz
grande, ser alto ou ter a voz grossa, não são comportamentos, mas
inerências naturais. Ser cristão, jogador de futebol, filósofo ou
socialista são comportamentos, mas não inerências naturais. Você pode, é
claro, ter inclinações naturais para determinados comportamentos. Mas a
inclinação não torna o comportamento inerente a uma pessoa. Pode-se
escolher dizer “não” a determinado comportamento.
Dizer “não” a comportamentos que estamos inclinados a praticar é coisa
que fazemos rotineiramente. Existem pessoas naturalmente geniosas, por
exemplo. Em situações onde o estresse é grande, essas pessoas podem se
sentir fortemente inclinadas a passar dos limites, dizendo palavrões,
quebrando coisas, batendo nas pessoas e até dando tiros. Mas é certo
dizer que elas não têm escolha? É certo dizer que elas são escravas de
suas inclinações? É certo dizer que se elas matarem alguém, não tem
culpa, pois são naturalmente geniosas e estavam em uma situação difícil?
É claro que não.
Cabe a cada um dominar seus instintos, inclinações, impulsos,
pensamentos, vontades, emoções, sentimentos e etc. É este autocontrole
constante que é requerido de todos nós para a formação de nosso caráter,
civilidade e cidadania. Aquele que não aprende a dizer “não” para si
mesmo, a traçar limites para seus comportamentos e moldar os seus
próprios desejos, está sempre perdendo para o seu “eu” e enfraquecendo o
seu caráter.
O que se conclui daqui é que, se o homossexual acredita que seu
comportamento é errado, existe a possibilidade de ele abster-se de
manter relacionamentos amorosos, bem como de agir de modo diferente do
seu gênero natural. A questão aqui não é a dificuldade que possa haver
nessa abstenção, mas se ela é possível. E sim, ela é.
A segunda falha é que não necessariamente o comportamento homossexual
advém de uma inclinação natural. E também não necessariamente
inclinações naturais se desenvolvem no indivíduo. Muitas pessoas podem
se tornar homossexuais por curiosidade, ou desilusões amorosas com
pessoas do outro gênero, ou por ter uma vida sexual muito permissiva e
aberta a novos experimentos, ou porque cresceu em meio à pessoas de um
gênero distinto do seu (vindo a copiar-lhes os modos e gostos), ou por
influencia de amigos homossexuais, ou por algum problema de infância
relacionado ao pai ou a mãe e etc.
Aqueles que alegam ser homossexuais desde a mais tenra idade talvez não
tenham nascido com uma inclinação homossexual, mas simplesmente com
alguns modos e gostos diferentes do seu gênero. E, uma vez que não tenha
havido um acompanhamento apropriado por parte dos pais, tais modos e
gostos se desenvolveram e levaram o indivíduo a agregar mais modos e
gostos distintos até chegar ao ponto de desejar ser de outro gênero e/ou
desejar se relacionar com pessoas do mesmo sexo.
Há muitas pessoas que
nasceram com tais gostos e modos e que até os conservaram durante a
vida, mas não se tornaram homossexuais, donde se conclui que a criação
dos pais podem impedir esse desenvolvimento e a própria pessoa, ao
crescer, pode se interessar pelo sexo oposto, não se tornando
homossexual apesar dos gostos e modos diferentes.
Finalmente, não devemos descartar a possibilidade de que um indivíduo
realmente nasça com uma inclinação homossexual. No entanto, mais uma
vez, é possível que essa inclinação não se desenvolva em função de uma
criação apropriada dos pais, de modo que a pessoa se acostume a ser
heterossexual e sua inclinação natural fique adormecida. Isso nos faz
concluir que não há razão para se crer que o sentimento homossexual é
algo tão poderoso que não possa ser adormecido, seja ele natural ou
desenvolvido no decorrer da vida.
Até agora, como o leitor pode ver, eu não apelei a qualquer livro
considerado sagrado por alguma religião. Apenas lidei com hipóteses,
procurando analisar a coerência delas. Mas agora quero mencionar a
Bíblia, a fim de complementar o assunto.
Segundo a concepção bíblica, Deus criou os gêneros, o casamento e a
união sexual não apenas para que tivéssemos procriação. Afinal, Deus
poderia muito bem desenvolver outro método de geração natural de seres
humanos, ou mesmo criar todos diretamente. E nós poderíamos ser
assexuados, como os anjos, sem que sentíssemos ou tivéssemos qualquer
necessidade de casar ou fazer sexo. Mas aprouve a Deus criar gênero,
casamento e sexo para que a união entre homem e mulher pudesse
simbolizar a união entre Deus e seu povo. É por este motivo que, na
Bíblia, o povo de Deus é sempre comparado a uma mulher, e Deus, ao noivo
dessa mulher.
Portanto, qualquer o casamento (e, por conseguinte, a união sexual) que
não ocorre nos moldes estipulados por Deus, destoa da realidade que ele
representa, perdendo todo o seu sentido e propósito. E como eu afirmei
já em outro texto, sobre casamento, Se alguém diz que acha ridículo não
modificar a concepção de casamento "só" porque isso não representa Deus
corretamente, faz do símbolo algo mais importante que a realidade
simbolizada. Não é a realidade que deve ser modificada para se adequar
ao símbolo, mas o oposto. O símbolo se sujeita ao real.
É por esse motivo que quando uma pessoa critica o cristianismo com o
argumento de que não é errado um casamento homossexual ou poliamoroso
porque “não faz mal ao próximo e é consensual”, está falando algo sem
sentido. A imoralidade desses atos não se baseia no principio de fazer
bem ao próximo, mas sim no principio de que o casamento é uma
representação da união de Deus e seu povo. Ele foi criado para isso.
Esse é o seu objetivo primordial. Então, é errado usá-lo de outra forma.
O que é curioso e esplêndido no cristianismo é que, ao mesmo tempo em
que ele faz do casamento algo extremamente sagrado, por representar o
amor de Deus para com o seu povo, ele também coloca o amor Eros em seu
devido lugar, mostrando que ele é menor que o amor Ágape, sendo apenas
uma representação, e uma representação passageira, já que, quando Jesus
Cristo formar o seu novo Reino, todas as vertentes de amor serão
reabsorvidas pelo amor geral, o amor Ágape. Então, não haverá mais
casamento nem sentimento de casal, mas apenas o amor geral entre todas
as pessoas e Deus.
Quando alguém, portanto, trata o casamento e a união sexual de maneira
errada, não apenas fere a sacralidade dessas criações de Deus como,
curiosamente, superestima o amor Eros, colocando-o acima de Ágape. Por
esta razão a homossexualidade é considerada um erro do ponto da Bíblia e
do cristianismo. Isso só nos ajuda a entender melhor tudo o que já
vimos até aqui antes de apelar para as Sagradas Escrituras cristãs.
Estas análises não tiveram como intuito expressar qualquer opinião
política sobre a homossexualidade, mas apenas de analisá-la do ponto de
vista da moral. E o que me levou a elaborar este documento não foi a
necessidade de provar que eu estou correto, mas sim para mostrar que
discordar da prática da homossexualidade não se constitui discriminação,
nem é uma absurdidade baseada em meros preconceitos. Ao contrário
disso, a opinião de quem não concorda com a homossexualidade tem um bom
fundamento e não pode ser considerada em si mesma um ato de
discriminação.
É preciso ressaltar ainda que Deus ama a todos os homossexuais e se
importa com eles profundamente. Ele sabe o quão difícil é vencer os
sentimentos (naturais ou não) que os fazem desejar serem de outro gênero
e/ou se relacionarem com pessoas do mesmo sexo. A pessoa, portanto, que
está convencida que sua a homossexualidade é um erro e quer lutar
contra ela, não está desamparada e pode contar com a ajuda do Espírito
Santo de Deus.
Por fim, as conclusões deste texto não servem, evidentemente, para serem
usadas como instrumentos de repressão às pessoas homossexuais.
Entende-se que cada indivíduo tem o direito de escolher o que acha
melhor. E se alguém escolhe que o melhor é permanecer praticando a
homossexualidade, ela está dentro de seu direito, devendo ser respeitada
e tratada sempre como um ser humano. É isso, aliás, que prega o
cristianismo bíblico.
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