quarta-feira, 13 de maio de 2015

Deus, Propriedade e Liberdade: a ideologia do neoconservadorismo brasileiro ( Neo conservadorismo? Se data da epoca das capitanias não pode ser "neo"!!)

Rogério Jordão

Umas das principais novidades políticas em 2015 foi o surgimento com força de uma nova agenda conservadora no Brasil. Sua principal e assumida expressão é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deputado do PMDB e evangélico com forte ênfase no campo da moral. Durante sua campanha para deputado no Rio de Janeiro, em 2014, publicou seguidos anúncios em jornais contra o aborto e a favor da família.


Mas para além de Cunha, o que poderia significar esta nova agenda que vai se consolidando em torno a questões como redução da maioridade penal, estatuto da família (núcleo de pai e mãe), revisão do estatuto do desarmamento e mudanças na demarcação de terras indígenas (de agrado dos ruralistas)?  Temas de interesse, afinal, das chamadas BBBs – bancadas da Bala (segurança pública), Boi (Ruralistas) e Bíblia (evangélicas), que atuando em sintonia na Câmara vêm demonstrando e ainda demonstrarão sua força nos próximos meses e anos.


Tive a oportunidade de morar 6 meses nos Estados Unidos e lá percebi a importância vital de Deus (ou dos valores cristãos) para a narrativa da nação. O discurso político americano – o imaginário do país – ecoa muito a Bíblia. A interpretação do que é certo ou errado, a partir das escrituras, está muito presente, mesmo quando o Novo Testamento não é diretamente citado nos discursos ou textos políticos. Quando invadiu o Iraque, não custa lembrar, Bush filho falou em “cruzada”.


Sem a pedra angular de Deus – e também da Propriedade e da Liberdade (valores que se sancionam reciprocamente) – não haveria a América. Creio que no Brasil esboça-se algo parecido.


No caso brasileiro, a agenda das BBBs articula, cada vez mais, um discurso ideológico. Passa pela propriedade (os ruralistas), pela liberdade (ter uma arma para defender a sua propriedade e suas prerrogativas individuais, por exemplo) e por Deus (que no caso de certos grupos de interesse ganha feição moralista). Embora não uníssonos e em certos pontos divergentes, os discursos entrecruzados dessa nova maioria na Câmara vão criando um caldo de cultura, vão delineando uma agenda.


Mas há diferenças entre lá e cá. Se nos EUA, por exemplo, a propriedade é mitificada como fruto do esforço individual, ao mesmo tempo em que sancionada por Deus e garantidora da Liberdade, no Brasil, com seu largo passado escravocrata, a propriedade é fruto da herança. Fruto dos cartórios. Das sesmarias. Das capitanias. Muita gente no Congresso é dona de meio Estado, meio município, terra a perder de vista – como isso foi possível?


Esse tipo de detalhe distancia o conservadorismo brasileiro do americano. Nos permite ser, quem sabe, cópias imperfeitas ou paródias. Para onde vai o neoconservadorismo tupiniquim? O quanto realmente tem de força?

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