Tive a oportunidade de morar 6 meses nos Estados Unidos e lá percebi a importância vital de Deus (ou dos valores cristãos) para a narrativa da nação. O discurso político americano – o imaginário do país – ecoa muito a Bíblia. A interpretação do que é certo ou errado, a partir das escrituras, está muito presente, mesmo quando o Novo Testamento não é diretamente citado nos discursos ou textos políticos. Quando invadiu o Iraque, não custa lembrar, Bush filho falou em “cruzada”.
Sem a pedra angular de Deus – e também da Propriedade e da Liberdade (valores que se sancionam reciprocamente) – não haveria a América. Creio que no Brasil esboça-se algo parecido.
No caso brasileiro, a agenda das
BBBs articula, cada vez mais, um discurso ideológico. Passa pela
propriedade (os ruralistas), pela liberdade (ter uma arma para defender a
sua propriedade e suas prerrogativas individuais, por exemplo) e por
Deus (que no caso de certos grupos de interesse ganha feição moralista).
Embora não uníssonos e em certos pontos divergentes, os discursos
entrecruzados dessa nova maioria na Câmara vão criando um caldo de
cultura, vão delineando uma agenda.
Mas há diferenças entre lá e cá. Se nos EUA, por exemplo, a propriedade é mitificada como fruto do esforço individual, ao mesmo tempo em que sancionada por Deus e garantidora da Liberdade, no Brasil, com seu largo passado escravocrata, a propriedade é fruto da herança. Fruto dos cartórios. Das sesmarias. Das capitanias. Muita gente no Congresso é dona de meio Estado, meio município, terra a perder de vista – como isso foi possível?
Esse tipo de detalhe distancia o conservadorismo brasileiro do americano. Nos permite ser, quem sabe, cópias imperfeitas ou paródias. Para onde vai o neoconservadorismo tupiniquim? O quanto realmente tem de força?
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