Reproduzo
abaixo a coluna de Reinaldo Azevedo na FSP ("Todos os homens de Dilma"):
a arruaça chega, de fato, à Corte suprema, em nome "do útil, do
oportuno e do conveniente":
Convém
que a gente não tente fingir que a quarta (16) e a quinta-feira (17)
foram dias convencionais. No STF, Edson Fachin, o relator das ações do
PCdoB contra o rito do impeachment, contrariava as expectativas do
governo e da Procuradoria-Geral da República, num esforço, pareceu-me,
para preservar o tribunal da arruaça que toma conta do Executivo, do
Legislativo e de outros entes. Infelizmente, arruaceiros chegaram à
corte suprema.
Nas ruas,
as esquerdas gritavam em favor dos crimes de Dilma e do PT e contra os
de Eduardo Cunha. São quem são. Nem bem o relator terminava a leitura do
seu voto no STF, Rodrigo Janot dava à luz uma ação cautelar de 190
páginas –redigida, pois, havia muito– pedindo o afastamento de Cunha da
Presidência da Câmara. Tivesse Fachin facilitado as coisas para Dilma,
estou certo de que Janot teria engavetado o calhamaço. A arruaça já
chegou à PGR.
Na terça
(15), a Operação Lava Jato já tinha dado outro presente de aniversário a
Dilma: a fase dita "Catilinárias", destinada a pegar o PMDB. Pergunta
silenciosa: "Vocês ainda querem o impeachment?". Enquanto Fachin lia seu
voto, o mercado punha preço no rebaixamento da nota do Brasil, desta
feita pela Fitch. Pergunta ruidosa: vocês ainda querem Dilma?
Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, por sua vez, se encarregava
de tentar quebrar a espinha do PMDB junto a Leonardo Picciani (PMDB-RJ),
e atacava Michel Temer. O senador, que já tem lugar na fila da
guilhotina, fazia mais um esforço desesperado para prestar um serviço ao
Planalto.
Dilma e
seus generais vão atropelando tudo o que encontram pela frente. Contam
com Renan e com Janot para destruir o PMDB, condição necessária da
sobrevivência do governo. Contam com alguns ministros no Supremo para
rasgar a Constituição.
Só chama
de "Catilinárias" uma operação destinada a golpear o partido que se
tornou o principal adversário do PT quem faz uma leitura errada de
Catilina e de Eduardo Cunha... Se é para submeter a história a
aggiornamentos, prática cretina, Catilina vive hoje em Guilherme Boulos,
por exemplo, não em Cunha. Em termos contemporâneos, o senador romano
encarnava a esquerda demagoga. Na ideologia, mas não no estilo, o
presidente da Câmara estaria mais para Cícero. E também vai perder a
cabeça.
O erro de
história comparativa trai, no entanto, um alinhamento da Lava Jato com
as forças em disputa no presente. Quando o maior partido do país é
associado por investigadores a uma "conspiração contra a República", é
forçoso reconhecer que essa frente investigativa está fazendo uma
escolha política.
"Então
não era para investigar ninguém do PMDB?". Por mim, que se investigue
até o Santo Sepulcro! Repudio é oportunismo e Justiça seletiva.
Não custa
lembrar: não sendo o PMDB a triunfar (Janot e Luís Barroso não querem),
então será Dilma mesmo. Alguém, a sério, acha que o país suporta mais
três anos sem passar por esgarçamentos perigosos? Nota: nem os ditos
"intelectuais de manifestos" apostam nisso. Mas eles são esquerdistas e
anseiam justamente por disrupções. Na sua mente perturbada, elas fazem
avançar "a luta". Talvez com um pouco de sangue... Com o que talvez
concordem alguns togados.
Se Dilma
renunciasse à sua vaidade, certamente renunciaria também ao cargo. A
crise política já arranha, sim, as instituições. A arruaça chegou à PGR.
A arruaça chegou ao Supremo. Em nome do "útil, do oportuno e do
conveniente".
PS: Tiro três semanas de folga. Se a Folha não mudar de ideia, volto no dia 11 de janeiro.
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