Com ou sem
impeachment (toc-toc), o fato é que sofreremos o inferno gerado pelo
lulopetismo nos próximos três ou quatro anos. Melhora, talvez, em 2019. A
propósito, segue artigo dos professores Pedro Cavalcanti Ferreira e
Renato Fragelli Cardoso publicado no jornal Valor (via PRA, obrigado):
Neste
momento em que o país sente as consequências da desastrosa política
econômica adotada durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, não há
motivos para otimismos em relação ao futuro da economia brasileira nos
próximos anos.
O ano de
2015 entrará para a história como um dos mais traumáticos da história
econômica brasileira. O PIB deverá sofrer queda de cerca de 4%. O
mercado de trabalho, que vinha resistindo até o início do ano, mergulhou
em queda livre, com o desemprego atingindo 8,9% no 3º trimestre, de
acordo com a Pnad Contínua. Em doze meses, foram destruídos 1,5 milhão
de postos de trabalho e tudo indica que esse movimento está se
acelerando. Na virada do ano, o desemprego deverá atingir 10%.
A
produção industrial em outubro mostra um quadro de terra arrasada.
Comparando-se a produção entre janeiro e outubro com igual período do
ano anterior, a queda global foi de 8%, tendo sido de 17% no caso dos
bens de consumo duráveis e de 24% no dos bens de capital. A provável
queda dos investimentos no último trimestre será a nona queda trimestral
seguida. Os indicadores da Sondagem da Construção do Ibre-FGV mostram
que o nível de atividade do setor é hoje inferior à metade do observado
há dois anos. Onde se olha, a situação é dramática.
Com impeachment ou sem impeachment, o ano de 2016 está perdido e 2017 provavelmente também
Para
agravar o panorama, a inflação anual deve aproximar-se de 11%, apesar do
desemprego e da recessão. No front fiscal, o déficit primário
ultrapassará os R$ 110 bilhões. As (más) soluções propostas até agora,
como a reintrodução da CPMF, não foram aprovadas e não há alternativas à
vista.
Se 2015
foi ruim, 2016 não será melhor. A discussão sobre o impeachment da
presidente Dilma Rousseff, bem como as incertezas envolvendo os novos
episódios da Lava-Jato, indicam a continuidade da atual paralisia
decisória, em ambiente político ineditamente conflituoso. Decisões de
investimento permanecerão imobilizadas até que se equacione o imbróglio
fiscal. Este, por sua vez, depende de uma improvável melhoria no quadro
político.
Com o
agravamento da recessão, setores menos atingidos até o momento, como os
serviços, serão duramente castigados. Os indicadores sociais, que
surpreendentemente não haviam piorado muito até o momento,
inevitavelmente começarão a se deteriorar.
No caso
de permanência de Dilma Rousseff na Presidência, a crise política
continuará imobilizando o governo, pois poderá surgir um novo processo
de impeachment motivado por supostos crimes eleitorais, ou por novas
revelações da operação Lava-Jato e a popularidade da presidente
dificilmente melhorará. E observaremos, portanto, mais desemprego, menos
investimento e mais contração. As previsões para queda do PIB no ano
que vem, que provavelmente levam em conta este cenário de continuidade
política, estão entre 2% e 3%.
E a
situação econômica futura pode se deteriorar ainda mais e não há muito
que se possa fazer no próximo ano e provavelmente em 2017. Há no momento
uma quase que total incapacidade do governo ou o do Banco Central
utilizarem qualquer das muitas medidas anticíclicas clássicas. Com um
déficit altíssimo, dívida explodindo, bancos públicos contra a parede,
Petrobras (e outras estatais) sendo investigadas e/ou excessivamente
endividadas, não há qualquer espaço para política fiscal expansionista.
Além
disto, se é verdade que a pressão inflacionária desencadeada pela
correção de preços administrados será menor em 2016, aquela causada pela
maxidesvalorização continuará presente. Numa economia em que o salário
mínimo indexa não apenas o menor rendimento do trabalho, mas também
despesas previdenciárias e assistenciais, sua correção em torno de 11%,
determinada pela regra de atualização em vigor, constitui um grande
entrave à queda da inflação. Assim, se algo acontecer no futuro próximo
com a política monetária será na direção de aumentar os juros e contrair
o crédito.
Uma
segunda razão é a incerteza quanto à permanência de Joaquim Levy à
frente do Ministério da Fazenda. Para deter o impeachment, Dilma vem se
aproximando dos movimentos sociais, cujos pleitos foram ignorados em
2015 e isto implica mais gastos. Dilma repete o que fez Lula após a
eclosão do mensalão em 2005. Naquela ocasião, a retribuição de Lula
àqueles movimentos foi a suspensão da tramitação da reforma da
previdência dos servidores, que só viria a ser regulamentada por Dilma.
Os
movimentos sociais que hoje apoiam Dilma são os mesmos que clamam pela
volta imediata do crescimento, que rejeitam o ajuste fiscal, que lutam
pelo "fora Levy". Como reagirá Dilma diante dessas pressões? Há no
momento, dentro do governo, embate sobre a meta fiscal de 0,7% do PIB
com Levy supostamente ameaçando sair se esta for reduzida. Uma eventual
saída de Levy adicionaria mais incerteza e pessimismo, e retiraria uma
das poucas garantias de que a situação fiscal não se deteriorará ainda
mais.
No caso
alternativo de vitória do impeachment, Michel Temer contaria com a
benevolência dos mercados por alguns meses, durante os quais tentaria
aprovar reformas como aquelas propostas no programa "Ponte para o
Futuro". Mas trabalharia contra o tempo, com grande incerteza sobre a
formação da coalizão de governo, com parte de sua base de apoio sendo
investigada e sofrendo acirrada oposição dos grupos alijados das
benesses do poder pelo afastamento de Dilma. Tarefa difícil pois Temer
não teria como reverter o quadro recessivo antes de meados de 2017.
Com
impeachment ou sem impeachment, o ano de 2016 está perdido e 2017
provavelmente também. A esperança fica para 2018, ou quem sabe 2019.
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