Para fazer o impeachment avançar, depois da tenebrosa intervenção do
STF, as oposições montam novas estratégias, entre elas a busca de apoio
nos movimentos antipetistas - algo que já deveriam ter feito há muito
tempo. Mas, antes tarde do que nunca:
Após vitória do governo no Supremo Tribunal Federal, que definiu o rito do impeachment, a oposição a Dilma Rousseff iniciou
ontem a elaboração de uma estratégia para tentar manter a petista sob
pressão na Câmara dos Deputados e dar início ao processo na Comissão
Especial da Casa encarregada de analisar o pedido de afastamento da
presidente, aceito por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no último dia 2.
A tática dos oposicionistas, que não se agregam num único grupo,
apesar do interesse comum de afastar a presidente, tem três pilares: 1)
novas ações regimentais; 2) busca de apoios nos movimentos antipetistas
da sociedade civil para pressionar políticos nas suas bases durante o
recesso; 3) enfraquecer a ala de parlamentares governistas do PMDB, hoje
liderada por Leonardo Picciani (RJ).
Apesar de o Congresso funcionar na próxima semana, é quase certo que o
trâmite do impeachment só comece mesmo no ano que vem. Para escapar do
alcance de uma das decisões do STF, a oposição promete apresentar um
projeto de resolução que estabelece a possibilidade de se ter chapa
avulsa para compor a comissão responsável por analisar o de impeachment.
Em decisão tomada anteontem, os ministros do STF, entre outros
pontos, vetaram a possibilidade de candidaturas alternativas para a
composição do colegiado. No entendimento dos integrantes da Suprema
Corte, a chapa deve ser composta apenas com os nomes indicados pelos
líderes partidários, o que favorece o governo.
A proposta já foi protocolada na Casa pelo líder do DEM na Câmara,
Mendonça Filho (PE), e prevê mudanças no regimento interno justamente
para validar a chapa avulsa que o STF julgou inconstitucional. "A ideia é
mudar o regimento e colocar a questão de líderes e candidaturas
avulsas. Como o Supremo mandou desmanchar todos os atos praticados até
aqui, vai ser designada uma nova Comissão Especial e, com a alteração do
regimento da Câmara, essa nova eleição para a constituição da comissão
se dará com esse novo entendimento, ou seja, via eleição e num processo
em que se pode ter chapa avulsa", afirmou Mendonça Filho.
Segundo ele, o tema deverá ser discutido em reunião de líderes
prevista para a próxima segunda-feira na Câmara. Na ocasião, Mendonça
pretende também coletar assinaturas dos demais líderes para que o
projeto tramite sob o regime de urgência. Além desse tema, deve ser
colocada em pauta a apresentação de possíveis embargos contra a decisão
do STF a respeito do rito do impeachment.
Frente.
A outra aposta é nas ruas. "Haverá pressão popular na base dos
deputados durante o recesso. Isso deve influir no mau humor do
Parlamento com o governo depois do recesso", diz. "Haverá tempo, daqui
até o fim do recesso, para se reorganizar e mobilizar os movimentos de
rua", completa Bruno Araújo, líder do PSDB.
Dentro das discussões realizadas entre os integrantes do grupo a
favor do impedimento de Dilma, após a decisão do STF, está também a
possibilidade de se apresentar um voto em separado na Comissão Especial,
caso os opositores não consigam apoio para o projeto de resolução de
Mendonça.
Diante da possibilidade de o processo de impeachment coincidir com um
período de agravamento da crise econômica, lideranças da base apostam
na divisão dos partidos de centro - o chamado "centrão", mais flexível a
mudanças de posições a depender do quadro político. Legendas como PP e
PSD, que contam com ministérios relevantes na Esplanada dos Ministérios,
estão rachadas. A bancada pepista, com 41 deputados, se divide hoje em
26 votos a favor e 15 contra o impeachment. A bancada do PSD conta hoje
com 20 votos contra o afastamento e 12 a favor. No PMDB, a ala
pró-impeachment vai tentar destituir Picciani. "Ele introduziu a prática
das listas e agora vai esperar outra que o destituirá. Picciani será um
líder em exercício", afirma Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). (Estadão).
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